|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Análise
Em ano eleitoral, plano traça ações imediatas
DA REPORTAGEM LOCAL
Seguido ao anúncio de que o
professor Teixeira Coelho assumiria o cargo de curador
coordenador do Museu de Arte
de São Paulo (Masp), na última
sexta-feira, a diretoria da instituição divulgou um "Plano Cultural" a ser implantado com
"ações imediatas".
O escandaloso corte de energia, ocorrido em maio passado,
decorrente da falta de pagamento das contas de luz, teve o
mérito de tornar visível a crise
do museu -e não apenas a financeira-, que há anos perdeu
a importância cultural na cidade por ausência de profissionais qualificados para criar a
programação do Masp.
Mesmo assim, a atual diretoria, com o arquiteto Júlio Neves
à frente, não manifestou o desejo de alterar a rota que vinha
seguindo. Durante o anúncio
do restabelecimento da energia
e do plano de pagamento, em
maio passado, por exemplo, a
diretoria do museu, por meio
da responsável pela programação, a colecionadora Beatriz Pimenta Camargo, reafirmou que
o Masp continuaria a organizar
mostras a partir de sua coleção
sem procurar vínculos com a
produção contemporânea, produção esta que deveria ser objeto da ação de outros museus e
da Bienal de São Paulo.
No plano anunciado na última quinta, contudo, há uma
significativa alteração nos princípios da direção do museu. Entre as atividades básicas propostas estão a "maior abertura
de seu acervo também para a
contemporaneidade e mostras
de arte com novas tecnologias
de expressão e comunicação", a
"premiação anual do Masp destinada a jovens artistas", "ações
de apoio à arte brasileira" e a
"utilização do vão livre para
mostras de arte".
Graças ao corte de fornecimento de energia, a pressão pela profissionalização deixou de
pertencer apenas a figuras externas ao museu, mas seus próprios conselheiros, especialmente os empossados recentemente, passaram a exigir medidas que dessem novos rumos
ao Masp. Numa dessas reuniões, foi pedida até a renúncia
de seu presidente.
Em outubro próximo, quando Neves irá alcançar 12 anos à
frente do museu, o Masp passará por novas eleições. O "Plano
Cultural" aponta para uma nova fase da instituição, que, na
prática, significa a retomada de
uma ação comum durante a
gestão -que durou quase 40
anos (1947-1996)- de Pietro
Maria Bardi: um comando curatorial forte, o que Teixeira
Coelho pode e sabe fazer, e um
diálogo com a produção de arte
contemporânea, o que pode injetar vida ao museu.
Entretanto, lançar um plano
três meses antes das eleições,
após uma gestão de 12 anos e
sob críticas generalizadas, soa
como estratégia para manter a
atual direção no museu. Não há
dúvida de que, estruturalmente, a atual gestão capacitou o
museu a manter e expor seu
acervo dignamente, apesar de
alterar drasticamente o projeto
de exibição de Lina Bo Bardi,
um dos primeiros desafios do
novo curador. Irá ele manter as
paredes que desconfiguraram a
arquitetura original de Lina ou
se submeterá ao tecnicismo característico dos últimos anos
de gestão? Se conseguir devolver ao museu seu espírito original, o curador poderá mostrar
que o "Plano Cultural" não é
mero projeto eleitoral.
(FC)
Texto Anterior: Mostras vêem múltiplos discursos femininos e distintos modos de pintar Próximo Texto: "Reality show": MTV expõe exageros de debutantes Índice
|