São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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comentário

Quero minhas papoulas de volta

ANNA VERONICA MAUTNER
COLUNISTA DA FOLHA

Todos os meus amigos descendentes de europeus, especialmente do Império Austro-Húngaro, viviam me pedindo: bolo de papoula, torta de papoula, panqueca de papoula, minhas especialidades. São doces com um estranho amargo que se mistura com um leve doce, sabor apreciado mais por quem o comeu na infância.
No espaço da minha vida, só durante os trágicos cinco anos da guerra é que faltou papoula. Agora de novo não tem papoula no Brasil. Por quê? A importação está impossível. Não se encontra em nenhum lugar para comprar.
Meus amigos e eu lamentamos. Deve ter havido uma mutação genética, para que nossas fronteiras tenham se fechado à sua importação, como se se tratasse de veneno. Mas não é, garanto.
Não sei que papoula estranha pode ser essa, a proibida. Seguramente não é a minha velha conhecida, aquela que se compra e vende livremente na Europa e nos Estados Unidos.
Falei em mutação genética porque só ocorreu aqui no Brasil. O perigo ainda não foi descoberto pelos outros países.
Essa impossibilidade para liberar as sementes pegou. Diz-se por aí, à boca pequena, existirem sementes que germinam e outras que não germinam e que uma delas daria origem a um componente de alguma perigosa droga.
As minhas tortas de papoula, feitas com papoula de qualquer mercearia, do Marais (bairro judeu de Paris) ou Manhattan (Nova York), nunca me deram qualquer barato, nem a mim nem a qualquer um que tenha comido os meus doces.
Doceiras húngaras e vienenses, até dois anos atrás, aqui em São Paulo mesmo, vendiam strudels e tortas à vontade.
Justo essa restrição tinha que pegar? Quero minhas papoulas de volta, senhores cria-regra!


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