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CRÍTICA CONTOS
Coletânea mostra princípio violento de Vargas Llosa
NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nas décadas de 1960 e
1970 do século passado, o
boom latino-americano colocou no mapa da Europa a literatura da América subdesenvolvida. De repente, passamos a existir para os inventores da literatura ocidental.
Ao lado do argentino Julio
Cortázar, do mexicano Carlos
Fuentes e do colombiano Gabriel García Márquez, o peruano Mario Vargas Llosa foi
um dos promotores e um dos
mais promovidos pelo boom.
Oito anos separam a coletânea de contos "Os Chefes"
(1959) da narrativa "Os Filhotes" (1967), reunidas aqui em
um só volume. Entre a primeira e a segunda, estão os
romances premiados "A Cidade e os Cachorros" (1963) e
"A Casa Verde" (1966).
Tudo isso forma o início
bem-sucedido de um escritor
cujas principais obras ainda
estavam por vir: "Conversa
na Catedral" (1969), "Pantaleão e as Visitadoras" (1973),
"Tia Júlia e o Escrevinhador"
(1977), entre outras.
William Faulkner e Carlos
Fuentes são citados, quando
se fala nos autores que influenciaram o jovem Llosa.
No livro que acaba de chegar
às livrarias brasileiras, essa
influência está bastante evidente. Mas isso não atrapalha em nada a diversão.
TESTOSTERONA
"Os Chefes" reúne seis
conflitos. São cinco rounds
de violência pura e o último,
de afetuosa perversidade.
Desse conjunto, as ficções
urbanas mostram rapazes
desafiando-se, disputando
um território ou uma garota.
Ou desafiando coletivamente as normas rígidas de uma
ditadura escolar, representação menor das várias ditaduras da América Latina.
Longe da metrópole, as
narrativas rurais também falam de acertos de conta. Onipresente, apenas a morte.
São seis histórias de enredo simples, contadas com
graça e elegância. Respeitam
a forma tradicional do gênero, não esquecendo a bem-vinda surpresa no último parágrafo. Em "O Avô", essa
surpresa é quase inverossímil, mas sua estranheza provoca um lampejo de humor
que acende o conto.
"Os Filhotes" mostra a
passagem da infância para a
maturidade na Lima dos
anos 1950. O enredo também
é simples, em linha reta.
A amizade de um grupo de
garotos é posta à prova depois que um deles, Cuéllar, é
atacado por um cão dinamarquês. O ataque ocorre no colégio marista e -ironia- o
nome do cão é Judas. A partir
desse incidente, o apelido do
menino passa a ser Piroquinha. Um apelido-destino.
Mas essa narrativa, se
comparada com as anteriores, é formalmente muito
mais complexa. Uma interessante movimentação cubista
surge do discurso indireto livre, da pontuação excêntrica
e das súbitas mudanças da
primeira para a terceira pessoa do singular.
NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira:
Demônios e Maldições" (Língua Geral)
OS CHEFES, OS FILHOTES
AUTOR Mario Vargas Llosa
TRADUÇÃO Paulina Wacht e Ari
Roitman
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 29,90 (136 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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