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"Isso aqui é um negócio", diz Edemar Cid Ferreira
DA REPORTAGEM LOCAL
Edemar Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil 500 Anos
Artes Visuais, ordenou a montagem de cenografias nos 13 módulos do Redescobrimento. "Foi
uma imposição e acho que fiz certo. A maioria dos 40 curadores era
contra. Muita gente não gosta,
mas o povo gosta."
Galeristas de São Paulo ouvidos
pela Folha criticaram o uso de cenários na exposição, afirmando
que o suporte decorativo rouba o
foco da arte.
"Deixa polemizar", diz Cid Ferreira. "Não tenho comprometimento nem com universidades
nem com museus. O divertimento, o lazer, é parte do conjunto da
educação. Eu tenho de buscar o
meu cliente, que é aquele que não
tem formação."
Na última sexta, antes de viajar
para EUA e Europa, Cid Ferreira
falou à Folha.
(FCY e FC)
Folha - As cenografias são criticadas. O que o sr. diz sobre isso?
Edemar Cid Ferreira - Fiz três
pesquisas com o Datafolha e os
índices de aprovação são altos. É
isso que faz com que as pessoas
venham. É o boca a boca: "Vai lá,
tem uns loucos lá. Tem um troço
cheio de flores, um outro todo escuro". Você tem de mostrar um
pouco de diversão com a cultura.
Folha - A Mostra do Redescobrimento é entretenimento?
Cid Ferreira - Não. É uma atividade cultural em que o entretenimento é parte, para atingir o objetivo. Se aqui fosse um museu ou
uma universidade, eu não poderia
fazer isso. Mas não sou nem um
nem outro. Achei que tinha de ter
a cenografia porque estou fazendo uma grande festividade.
Folha - Qual o gasto da mostra?
Cid Ferreira - Genericamente,
posso dizer que gastamos R$ 45
milhões, mas dou os detalhes depois do encerramento. Só com o
Guggenheim, já gastei quase US$
2 milhões. Agora, em setembro,
vamos gastar mais US$ 800 mil.
Com o British Museum, foram
outros US$ 500 mil. Vamos fazer
um balanço porque temos um
gasto aqui que não é dessa exposição. São gastos com as coisas que
vamos fazer em 2001.
Folha - Uma das críticas é que museus estrangeiros estão fazendo a
curadoria de uma mostra sobre o
Brasil, e o sr. está pagando.
Cid Ferreira - Não é verdade. Decidimos fazer a itinerância internacional quando o governo abortou a nacional. Aí houve aquele
negócio todo, entrou o (ex-ministro Rafael) Greca... Nós fomos
buscar os museus para nos receber e pedir espaço para 2001.
Achavam um absurdo porque
trabalham com uma programação de anos. Perguntavam quem
bancaria a mostra. Dei as garantias e já comecei a pagar.
Folha - O sr. já arrumou os patrocinadores?
Cid Ferreira - Um monte, porque
vamos fazer uma exposição para
mudar a imagem do Brasil. Nova
York é o centro financeiro do
mundo. Então, quanto mais o
Brasil for reconhecido, mais poderá fazer negócio. Com o British
Museum é a mesma coisa.
Folha - Fazer exposições também
é um negócio?
Cid Ferreira - Isso aqui é um negócio. Eu aposto quando sei que
vou pegar o patrocinador.
Folha - O governo iria repassar à
associação R$ 8,5 milhões...
Cid Ferreira - Recebemos até
agora R$ 2,6 milhões do Ministério da Cultura. Havia uma conversa, mas nada foi formalizado.
Mas isso não é mais importante.
Folha - Qual é a maior contribuição da mostra?
Cid Ferreira - É mudar o conceito de origem. O Brasil não é respeitado porque o cara lê o brasileiro como um bicho. Aqui, não.
Acho que a arqueologia é uma das
coisas mais importantes que têm
de acontecer ao Brasil.
Você tem o período de 1500 a
2000 que conhecemos. Investimos na arqueologia e nas artes indígenas para colocar o homem de
1500 em igualdade de condições
com o índio pré-Cabral. Tudo para dizer que isso é cultura.
Folha - A curadoria teve interferência sua?
Cid Ferreira - É interferência de
toda a curadoria, porque quem
conduz uma exposição é a própria mostra. Começamos de 1500
para cá. Mas fomos percebendo
que as artes plumárias eram importantes, a arte rupestre também. Essas coisas nascem assim.
Folha - De qual módulo o sr. mais
gosta?
Cid Ferreira - Gosto muito de Arqueologia e Arte Indígena. Eu me
joguei muito nisso. Fiz o filme, fiz
o Cine Caverna. Adoro o Barroco,
o Olhar Distante.
Folha - O sr. gosta de arte contemporânea?
Cid Ferreira - Muito pouco. Primeiro porque não entendo metade das obras que eu vejo. Há uma
arte contemporânea com que eu
me identifico. E tudo na vida é
uma questão de destilação.
Folha - Como a associação vai
funcionar, a partir de agora?
Cid Ferreira - Temos uma atividade política fundamental, que é
mudar a imagem do Brasil. Como
você faz isso? Mostrando o outro
lado do Brasil. Nenhum país da
América teve uma cultura negra
como nós, uma cultura indígena
como nós, um período importante de um império.
Por isso a associação não tem
mais tempo para terminar. Vamos fazer um evento importante
no Guggenheim. Vamos mostrar
o Brasil por cinco meses. Nunca
aconteceu isso na história do museu. Queremos que líderes culturais, sociais, da mídia, do financeiro, do industrial identifiquem
um país que não conheciam.
Folha - As polêmicas com a Bienal
atrapalharam a mostra?
Cid Ferreira - Atrapalharam a
mim e ao Pedro Paulo (Sena Madureira, vice-presidente da associação), porque a gente perdeu
tempo. Isso perturba, até porque
não era nem verdade o que algumas pessoas diziam. Elas se sentiram prejudicadas, atrapalharam a
nossa vida, inventaram coisas. Isso aqui é aberto, não há segredo.
Tudo tem uma contrapartida do
ponto de vista fiscal.
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