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FESTIVAL DO RIO
"Canção de Nomi" retrata a carreira do performer alemão
Filme ressuscita voz de Klaus Nomi
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Imagine a seguinte cena. Você
está em uma danceteria, onde tocam os últimos sucessos do rock.
De repente, sobe no palco um sujeito maquiado, com roupas de
plástico, movimentos mecânicos
e, mais estranho ainda, começa a
cantar com uma voz aguda, de
um verdadeiro contratenor. Uma
ópera em um ambiente de sons
mais, digamos, modernos.
Seria um autêntico Edson Cordeiro caso o cenário fosse a São
Paulo atual. O personagem aqui,
no entanto, é o alemão Klaus Nomi (1944-1983), e o lugar é a Nova
York do final dos anos 70.
Mesmo que prefira inflacionar o
potencial desse performer, o documentário alemão "Canção de
Nomi", de Andrew Horn, atração
de hoje do Festival do Rio, serve
bem como um balanço do clima
artístico do período -que coincide com os anos iniciais da Aids,
então sinônimo de "o câncer
gay". Nomi faz parte de uma das
primeiras gerações de celebridades a morrer devido à doença.
À sua época, Nomi causou impacto. Era um tempo propício às
experimentações em casas noturnas movidas ao som da new wave.
Tente imaginar Maria Callas,
David Bowie (fase Ziggy Stardust)
e Gustaf Gründgens -ator alemão famoso nos tempos de Hitler- encarnados em uma só
pessoa. Nomi tinha uma idéia fixa
na cabeça: ter a voz de um contratenor. Quando a conseguiu, se
maquiou, criou um personagem
que fazia referências a filmes de
ficção dos anos 50 e foi levar o espírito de óperas a clubes de rock.
Na prática, era um nome mais
comentado do que realmente um
grande potencial de vendas. Chamou a atenção de gente como David Bowie. O documentário mostra trechos de apresentação do inglês no programa televisivo "Saturday Night Live", em 1979, em
que Nomi fez backing vocal nas
músicas "The Man who Sold the
World" e "TVC15". Mesmo assim, gravou apenas dois discos e
morreu antes que realmente
"acontecesse".
"Canção de Nomi", por outro
lado, prefere apostar no personagem. Segue o espírito de retrato de
fã ao investir no então marketing
do cantor (Nomi seria um alienígena recém-chegado à Terra) e
fornece poucas informações sobre o homem por trás da máscara.
De uma certa maneira, apesar de
seguir os preceitos de um documentário típico de canais a cabo,
com depoimentos de amigos, familiares e cenas de arquivo, "Canção" é, também, obra de ficção.
Quando finalmente sai da lenda, surge o momento mais interessante do documentário. Lá pelo fim, amigos são entrevistados.
Todos eles confessam, constrangidos, que, quando Nomi estava
no hospital, agonizando devido à
Aids, não tiveram coragem de visitá-lo, deixando-o sozinho.
Festival
Hoje também acontece a cerimônia de encerramento do Festival do Rio, com entrega de prêmios às 23h30, no cinema Odeon
BR (pça. Floriano, 7, Cinelândia,
RJ), em evento para convidados.
CANÇÃO DE NOMI. "The Nomi Song"
(Alemanha, 2004). Dir.: Andrew Horn.
Hoje, no Palácio 1 (14h e 19h) e no
Espaço Unibanco 1 (19h), no Rio.
Horários e endereços de exibição no site
www.festivaldorio.com.br.
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