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TEATRO
Temporada paulistana recebe espetáculos do grupo Nós do Morro e dos diretores Hamilton Vaz Pereira e Ivan Sugahara
SP confere peças "experimentais" do Rio
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir desta semana, três produções do Rio de Janeiro convergem para temporadas em São
Paulo, dizendo muito sobre um
teatro de mais experimento e risco, contraponto àquele apoiado
nas convenções "televisivas" com
mais efeito em palcos cariocas.
O grupo Nós do Morro, da comunidade do Vidigal, completa
18 anos e declara "intromissão"
ao "Sonho de uma Noite de Verão", de Shakespeare. Vai ao cartaz amanhã, no teatro Augusta.
Aos 30 anos de carreira, um dos
fundadores do Asdrúbal Trouxe o
Trombone (1974-84), desbundado grupo que injetou sangue novo
na cena carioca e brasileira, o ator,
diretor e dramaturgo Hamilton
Vaz Pereira encena "A Leve, o
Próximo Nome da Terra". A "tragédia ridente", como diz, pré-estréia amanhã no Teatro Folha, para convidados, e segue temporada
a partir de sábado.
Também no sábado, chega
"Avalanche", direção de Ivan Sugahara (ligado ao grupo Os Dezequilibrados) para o texto do americano David Rabe, 64. No Sesc
Belenzinho.
Latente na maioria dos moradores de Vidigal, a música ganha
corpo na adaptação de "Sonho de
uma Noite de Verão", traduzido
por Luiz Paulo Corrêa e Castro.
O diretor e cenógrafo Fernando
Mello Costa apostou na "aptidão"
do Nós do Morro. A fábula musical pretende dialogar com o universo do fantástico recriado por
Shakespeare no século 16.
Porém é na peça dentro da peça,
quando atores amadores representam a lenda mitológica de Píramo e Tisbe para a realeza, que o
projeto se aprofunda.
Moradores de rua e catadores
de papel, personagens na peça do
grupo "Burro sem Rabo" (2003),
migraram para o "Sonho" como
"seqüestradores" dessa trupe de
atores e acabam "incluídos" nesse
teatro desejoso da linguagem popular tão cara a Shakespeare.
"Somos uma sociedade partida
neste país. A única forma de quebrar estigmas e estereótipos é por
meio da qualidade, senão vira paternalismo", diz Guti Fraga, 52,
ator e supervisor do Nós do Morro, para quem a perspectiva social
não está dissociada da arte.
Hamilton Vaz Pereira, 52, diz
que jamais escreve ou dirige espetáculos que apontem para a negação da vida. Ao contrário, sublima "o que a vida é, com suas encrencas e maravilhas".
Em "A Leve, o Próximo Nome
da Terra", seis brasileiros mandam notícias e cenas de vários
pontos do planeta, como Nova
York, Amsterdã, Florença e Berlim. Estão viajando para estudar,
trabalhar ou passear.
Os personagens aparentemente
vivem situações do cotidiano,
mas redobradas em emoção porque fora do país. São homens e
mulheres "maduros", que invocam o passado, por vezes os ancestrais gregos, por exemplo, ao
mesmo tempo que se ocupam do
futuro por meio da família.
Oito histórias "algo absurdas,
extraordinárias", em oito cenários distintos, sugeridos pelas
imagens projetadas ao fundo. Os
personagens/atores (interpretados por Leticia Spiller, Caio Blat,
Floriano Peixoto e outros) passam o tempo todo num palco despido de recursos cenográficos.
Quando pisam um retângulo
chão, estão em cena.
Em "Avalanche", a terceira produção do Rio, quatro homens ligados à indústria do cinema em
Hollywood têm seus caminhos
cruzados e "vivem perigosamente", compartilhando mulheres,
festas e drogas.
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