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MÚSICA
Sem contrato com gravadora, Clap Your Hands Say Yeah vende mais de 20 mil CDs
Indie de NY bomba mesmo sem major
DAGOBERTO DONATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma das bandas mais comentadas do cenário independente
americano atual, o quinteto Clap
Your Hands Say Yeah não tem
gravadora e fez poucos shows fora
de Nova York até agora. Ainda assim, já vendeu mais de 20 mil cópias de seu auto-intitulado álbum
de estréia lançado em julho, muitas delas enviadas para sites de
venda e lojas de discos descoladas
por todo os EUA diretamente do
apartamento que o grupo divide
no bairro do Brooklyn.
A "maior banda sem contrato
dos EUA", como vem sendo chamada pela imprensa local, tem sido assediada por gravadoras de
todos os portes, das pequenas indies às gigantes majors. Prefere,
no entanto, manter -ao menos
por enquanto- o maior controle
possível sobre seu trabalho.
Isso não a impediu de ter se associado recentemente à grande
distribuidora de selos independentes ADA, ligada ao grupo
Warner.
De Seattle, parada da primeira
turnê da banda pelos EUA, Alec
Ounsworth, vocalista e principal
compositor do grupo, esforça-se
para deixar claro: "Eu nunca conversei com ninguém da Warner.
Precisávamos de ajuda na distribuição e a ADA pareceu uma escolha apropriada. Por acaso, eles
são associados à Warner, mas o
acordo não tem nada com a gravadora. É assim que eu entendo e
é assim que deve ser entendido."
O contrato com a ADA não deixa de ser um exemplo do hype
que se constrói em torno da banda. Pela primeira vez em anos, a
distribuidora que trabalha com
selos de porte e prestígio no meio
independente, como Matador e
Sub Pop, assinou um acordo de
distribuição diretamente com
uma banda. Para a Europa, a vencedora da disputa pelo passe do
quinteto foi a Wichita, lar de gente
como Bright Eyes e Yeah Yeah
Yeahs no velho continente.
Ounsworth declara-se imune ao
falatório. "A vida não mudou
muito. Só temos andado por aí
um pouco mais que o costume",
brinca. Após o fim da tour, o Clap
Your Hands Say Yeah tem shows
marcados na Islândia, Inglaterra e
Escócia. "Não esperávamos toda
essa repercussão. Não acho que
ninguém deva esperar nada. É
melhor você saber o que quer, dar
o melhor de si e então ver o que
acontece. Não é muito diferente
de uma corrida de cavalos."
Nesse páreo, o grupo não pode,
porém, ser considerado exatamente um azarão. Seu sucesso
evidencia a crescente força do site
Pitchforkmedia.com, que, entusiasta do trabalho da banda, colocou-a no mapa do novo rock alternativo americano, com uma
resenha favorável e algumas notas
em sua seção de notícias. Foi o suficiente para que milhares de pessoas corressem atrás do CD e até
David Bowie assistisse a um show.
Referência máxima para nerds
musicais de todo o mundo, o
Pitchfork parece cada vez mais ser
capaz de impulsionar novas carreiras ou destruir velhas reputações com uma simples resenha.
Ounsworth prefere não se posicionar. "Não sei responder essa
pergunta", diz o vocalista, quando questionado sobre o site.
Indie rock clássico
E quanto à música, que, no final
das contas, é o que interessa?
Ounsworth: "Nossa música é vermelho-alaranjada, com pitadas de
amarelo e azul". Colocando em
termos menos sinestésicos, o Clap
Your Hands Say Yeah faz indie
rock clássico, como se fazia muito
bem nos anos 90. A psicodelia revistada do Neutral Milk Hotel e
Olívia Tremor Control pode ser
citada como referência.
A banda pode ser vista também
como uma alternativa um pouco
menos pomposa à grandiosidade
de novas bandas como Arcade Fire e Wolf Parade. Ecos de new wave, pós-punk e até krautrock também podem ser encontrados no
som do grupo. Mas é a voz de
Ounsworth, descrita por muitos
como a de David Byrne em início
de carreira, que se destaca como
elemento fundamental nas composições do CD. "Acho que ela
complementa o som", diz. "As
comparações [com Byrne] não
me incomodam. Mas isso não
quer dizer que eu as entenda."
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