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NOITE
Depois de oito anos, after-hours Hells Club volta a ser referência, com pista lotada e cheiro de nostalgia dos anos 90
Paulistanos revivem noites de inferninho
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
São sete horas da manhã de domingo e a pista está lotada. O DJ
Mau Mau comanda os pick-ups.
Muitos dançam de frente para ele,
levantando os braços e aplaudindo. Por todo canto há muita fumaça e as pessoas só vão sair de lá
lá em torno do meio-dia. Alguns
ainda vão para chill-outs, onde
continuarão juntos, dançando e
esperando a onda da "noite" passar. O clima descrito acima acontecia há dez anos, no Hells Club,
que fechou suas portas no clube
Columbia em 97. E se repete hoje,
em 2005, no mesmo Hells Club,
que reabriu há quatro meses no
clube Vegas, colocando São Paulo, que já ressuscitou noites que
eram famosas nos anos 80, na rota
de outro revival, agora o dos 90.
"Essa é a prova de que os anos
90 ainda não nos deixaram completamente. Ainda tem gente que
acredita nos óculos escuros durante o dia e na música eletrônica
de manhã", diz Facundo Guerra,
um dos donos do Vegas, que define a noite do Hells como a mais
"vintage" do clube.
Uma semana antes de o projeto
estrear, o mesmo Facundo andava pelo Vegas distribuindo adesivos do Hells, dizendo que achava
que ia ser legal. Hoje, ele tem certeza disso e se prepara para começar a trazer DJs internacionais para tocarem no projeto.
Toda manhã de domingo, cerca
de 300 freqüentadores lotam o
clube -o mesmo número de pessoas que se divertia há dez anos
no Hells. Andando pela pista, dá
para encontrar figurinhas carimbadas do antigo after, os integrantes da Nação Hells, como eles se
denominavam (a turma que batia
cartão toda semana, tinha carteirinha e muitas vezes o logotipo do
clube tatuado no braço), estão
misturados com pessoas que
eram crianças na época em que o
Hells causava furor.
Apesar de tantas semelhanças
entre o clube de antigamente e o
de hoje, Pil Marques, idealizador
do after-hours, nega que a volta
do Hells seja um surto de nostalgia do passado recente. "Voltamos porque sabíamos que na noite de São Paulo não havia nada
parecido com aquilo. Mas é tudo
diferente. A música mudou. O
Mau Mau só toca alguns hits da
época no meio do set, de brincadeira", diz. O sucesso do Hells novo não surpreende Marques. "Sabíamos que ia dar certo. Inclusive
é uma oportunidade para quem
só conhecia o Hells de mito conhecer de verdade", explica.
Faz sentido. "Eu não lembro como era o Hells porque eu tinha 11
anos", diz Natália da Cunha, estudante de 22 anos, sentada sozinha
em um canto do Vegas. "Tinha
curiosidade, me lembro de as pessoas falarem. Agora freqüento
porque é um lugar underground,
onde dá para vir sozinha que ninguém te enche o saco."
A presença dos novatos é aceita,
mas vista com alguma desconfiança pelos veteranos, os famosos integrantes da Nação Hells.
"As coisas mudaram muito. O legal daqui é que até o som é outro.
Mas as pessoas também mudaram, dá para encontrar os amigos
e matar a saudade, mas hoje tem
muito pára-quedista na noite",
diz o DJ Roque Castro. Luís Henrique Campos, a Normanda, gaty
que trabalhava na chapelaria do
Hells do Columbia, não perde
uma das noites do novo Hells.
"Venho para encontrar os amigos
e ouvir a música. Mas não acredito nessa coisa de volta dos anos
90. Vai ser revival de quê? Do Paulo Ricardo? Não tem nada a ver",
dizia, enquanto exibia, com certa
nostalgia, o logotipo do Hells tatuado no braço. Mas pensar em ir
embora, mesmo com o sol do lado de fora, nem Natália, Normanda ou Roque pensam. Igual era nos anos 90.
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