São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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NOITE

Depois de oito anos, after-hours Hells Club volta a ser referência, com pista lotada e cheiro de nostalgia dos anos 90

Paulistanos revivem noites de inferninho

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

São sete horas da manhã de domingo e a pista está lotada. O DJ Mau Mau comanda os pick-ups. Muitos dançam de frente para ele, levantando os braços e aplaudindo. Por todo canto há muita fumaça e as pessoas só vão sair de lá lá em torno do meio-dia. Alguns ainda vão para chill-outs, onde continuarão juntos, dançando e esperando a onda da "noite" passar. O clima descrito acima acontecia há dez anos, no Hells Club, que fechou suas portas no clube Columbia em 97. E se repete hoje, em 2005, no mesmo Hells Club, que reabriu há quatro meses no clube Vegas, colocando São Paulo, que já ressuscitou noites que eram famosas nos anos 80, na rota de outro revival, agora o dos 90.
"Essa é a prova de que os anos 90 ainda não nos deixaram completamente. Ainda tem gente que acredita nos óculos escuros durante o dia e na música eletrônica de manhã", diz Facundo Guerra, um dos donos do Vegas, que define a noite do Hells como a mais "vintage" do clube.
Uma semana antes de o projeto estrear, o mesmo Facundo andava pelo Vegas distribuindo adesivos do Hells, dizendo que achava que ia ser legal. Hoje, ele tem certeza disso e se prepara para começar a trazer DJs internacionais para tocarem no projeto.
Toda manhã de domingo, cerca de 300 freqüentadores lotam o clube -o mesmo número de pessoas que se divertia há dez anos no Hells. Andando pela pista, dá para encontrar figurinhas carimbadas do antigo after, os integrantes da Nação Hells, como eles se denominavam (a turma que batia cartão toda semana, tinha carteirinha e muitas vezes o logotipo do clube tatuado no braço), estão misturados com pessoas que eram crianças na época em que o Hells causava furor.
Apesar de tantas semelhanças entre o clube de antigamente e o de hoje, Pil Marques, idealizador do after-hours, nega que a volta do Hells seja um surto de nostalgia do passado recente. "Voltamos porque sabíamos que na noite de São Paulo não havia nada parecido com aquilo. Mas é tudo diferente. A música mudou. O Mau Mau só toca alguns hits da época no meio do set, de brincadeira", diz. O sucesso do Hells novo não surpreende Marques. "Sabíamos que ia dar certo. Inclusive é uma oportunidade para quem só conhecia o Hells de mito conhecer de verdade", explica.
Faz sentido. "Eu não lembro como era o Hells porque eu tinha 11 anos", diz Natália da Cunha, estudante de 22 anos, sentada sozinha em um canto do Vegas. "Tinha curiosidade, me lembro de as pessoas falarem. Agora freqüento porque é um lugar underground, onde dá para vir sozinha que ninguém te enche o saco."
A presença dos novatos é aceita, mas vista com alguma desconfiança pelos veteranos, os famosos integrantes da Nação Hells. "As coisas mudaram muito. O legal daqui é que até o som é outro. Mas as pessoas também mudaram, dá para encontrar os amigos e matar a saudade, mas hoje tem muito pára-quedista na noite", diz o DJ Roque Castro. Luís Henrique Campos, a Normanda, gaty que trabalhava na chapelaria do Hells do Columbia, não perde uma das noites do novo Hells. "Venho para encontrar os amigos e ouvir a música. Mas não acredito nessa coisa de volta dos anos 90. Vai ser revival de quê? Do Paulo Ricardo? Não tem nada a ver", dizia, enquanto exibia, com certa nostalgia, o logotipo do Hells tatuado no braço. Mas pensar em ir embora, mesmo com o sol do lado de fora, nem Natália, Normanda ou Roque pensam. Igual era nos anos 90.


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