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análise
"Rebeldes" são adaptados e autoritários
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Está certo que ser rebelde é ser insubordinado. Neste sentido, os rebeldes da novela até
o são: "Sim, sou rebelde
quando não sigo os demais".
Mas, no sentido nobre que
este termo adquiriu em nossa cultura, como aquele que,
ao negar, afirma algo novo
em sua negação, os rebeldes
da novela não são rebeldes.
Ao contrário, são adaptados
e autoritários. Contestam o
autoritarismo dos pais e da
escola reproduzindo pequenos sistemas de exploração e
poder.
Mas daí seria levar o programa a sério. E "Rebelde" é
tão ruim que não se presta a
uma crítica densa. Algumas
questões são mais importantes, no caso, do que considerações sobre a má qualidade
ética e estética do programa.
Trata-se de saber por que a
novela é tão popular. E também por que adolescentes
tão enquadrados se autodenominam rebeldes.
Yves de la Taille, professor
de psicologia da USP, distingue a noção de moral da noção de ética dizendo que a
primeira pertence à dimensão das obrigações e responderia à pergunta: "Como devo agir?", enquanto a segunda representa a procura de
uma vida significativa, uma
"vida boa", e responderia à
pergunta: "Que vida quero
viver?"
Parece que se criou, num
circuito de consumo tão coisificador como o nosso, uma
confusão entre essas duas
noções, e que muita gente
acha que escapar à dimensão
da obrigação já significa ser
livre e viver uma "vida boa".
"Não obedeço, portanto sou
rebelde, portanto sou livre."
Uma menina pré-adolescente que usa salto agulha
como no uniforme da novela
(?!) talvez já se sinta autorizada precocemente a ser
adolescente e rebelde.
Como se escapar à moral
implicasse necessariamente
em transgressão e felicidade,
não exigindo a invenção de
outras configurações pessoais e coletivas. Mas não; o
que se estabelece é só uma
nova moral, também repleta
de obrigações e deveres, onde não cabe a liberdade, mas
um outro aprisionamento.
Daí a menina gorda e boba
que "puxa o saco" da linda e
popular; o aparente desleixo
do uniforme que mais parece
de coelhinha da "Playboy"; a
ousadia do garoto cuja grande aventura é dirigir bêbado;
o piercing calculado da adolescente desafiadora.
Mas, apesar de toda essa
inversão, dessa "rebeldia" hiper-adaptada, não acho que
pais devam proibir seus filhos de assistir à novela. Não
vejo sentido em reprimir o
autoritarismo de forma
igualmente autoritária.
Se a expectativa é a de que
os adolescentes aprendam a
querer uma "vida boa" a partir ou a despeito dos programas de televisão, aí sim é que
a premissa está totalmente
invertida.
Na realidade, é o contrário
que deve ocorrer: pessoas
que aprendem e que são estimuladas a se perguntar
"Quem eu sou?" e "Que vida
eu quero viver?" podem ser
expostas a muita coisa ruim
e, mesmo assim, continuar a
procurar uma forma mais
significativa de liberdade.
(NOEMI JAFFE)
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