São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Julia Moraes/Folha Imagem
Taís Araujo ri das brincadeiras dos colegas de elenco Ângelo Paes Leme, Edmilson Barros e Lázaro Ramos, seu marido


3 x Taís

Na sexta-feira, 28, Taís Araujo perdeu dois compromissos em SP. "Meu vôo [do Rio para SP] ia sair às 17h, acabou saindo à 1h da manhã. Eu, claro, fui para casa e não teve peça", diz a atriz, referindo-se aos dois espetáculos que faria aquela noite na cidade: "O Método Grönholm", no teatro Copa Airlines, no shopping Eldorado, e "Os Solidores", no Espaço Parlapatões, na praça Roosevelt. "Foi bom que deu para descansar um pouquinho. Tomei banho e assisti ao último capítulo da novela [Paraíso Tropical]. Estava muito cansada, morta."

 

Em cartaz com "O Método" desde abril, ao lado do marido, Lázaro Ramos, Taís, 28, também passou os últimos dois meses em jornada dupla, às vezes tripla, no teatro. As sessões de "Os Solidores", que encerrou curta temporada na semana passada, começavam à meia-noite, depois que ela já havia subido ao palco em duas apresentações, às 19h e às 21h30, de "Método" -peça que já foi vista por mais de 40 mil pessoas e cuja temporada, que terminaria em agosto, já foi prorrogada três vezes, até novembro. A coluna acompanhou a rotina da atriz no sábado 29, quando ela apresentou "Os Solidores" pela última vez.
 

Taís chega ao teatro às 18h10. "Tenho que avisar que vocês [repórter e fotógrafa] estão aqui, porque teatro, vocês sabem, é baixaria", diz ela. Lázaro Ramos transmite o recado: "Vamos parar de falar merda, tem jornalista na área". Dá um "selinho" na mulher e depois encena um beijo cinematográfico na camareira ao seu lado. No espelho do camarim, bilhetes recebidos ao longo da temporada. Um deles, de Marcelo Sebá, empresário de Taís, diz: "Bianca e meu marido, merda e tudo de bom sempre." "Meu nome é Taís Bianca e ele só me chama assim", explica.
 

Tanto Taís quanto Lázaro tentam evitar que o público os veja como um casal -eles se recusam, por exemplo, a posar juntos para fotos. No sábado, Taís estreava um novo figurino em "O Método": casaco e saia de cetim, com blusinha por baixo. "Lázaro, o que você acha? Não gosta?", pergunta. "A outra é mais sexy e te dá mais idade", diz ele. "Mas a outra é muito "atochada"." "Então não me pergunte, porque eu sempre tenho opinião." O ator espia a platéia pela cortina e vê espectadores de terno, na primeira fila. Brinca: "Olha lá, galera! Tem até executivo hoje."
 

Na peça, Taís e Lázaro interpretam dois executivos, que disputam com outros dois personagens uma vaga em uma multinacional, deixando a ética muitas vezes de lado. "É um reflexo do mundo de hoje. Todo mundo fingindo, mentindo, parecendo ser o que não é. Mas tem que ter um limite", diz ela.
 

A peça tem quase duas horas. O intervalo entre as duas sessões é de 40 minutos. Com o traje de executiva da personagem que interpreta, Taís come uma ameixa entre as apresentações. Diz que "as coisas estão mudando" para os atores negros, mas "é claro que é lento, é tudo muito lento". Mesmo tendo sido a primeira protagonista negra da TV brasileira ("Xica da Silva", Manchete, 1996) e a primeira da Globo ("Da Cor do Pecado", 2004), Taís não se sente representada na tela. "Sou casada com um negro e não vejo casais negros na TV. Atores e atrizes não faltam. O que não tem são personagens. O doido é que o negro é estereótipo na TV. Você pega a sinopse de uma novela e está escrito "negra, 26 anos", mas não está escrito "branco" nos outros papéis. Todas as minhas personagens vinham com essa descrição, mas eu não quero ser tratada como uma exceção." No ano que vem, ela se forma em jornalismo com uma monografia sobre "O Reposicionamento do GNT", canal pago no qual apresenta o programa "Superbonita" e que, segundo ela, "começou como emissora de notícias e hoje é um canal de "alma feminina'".
 

Às 23h20, Taís deixa o teatro. Troca de roupa na coxia e vai para a praça Roosevelt, onde fará a última apresentação de "Os Solidores". Chega ao Espaço Parlapatões às 23h45, a tempo de passar o texto com o autor e parceiro de cena, André Fusko. Os números da peça são mais modestos que os de "O Método": foram mil espectadores em 15 apresentações, uma média de 66 pessoas por noite (o teatro comporta 100). O orçamento era de R$ 20 mil, valor que, segundo o produtor Marcos Santos, "deve ser a verba de figurino de "O Método Grönholm.'" Taís Araujo deu R$ 5.000 do próprio bolso.
 

"O melhor jeito de fazer o que quero é me produzindo, porque aí vou fazer da Julieta à Cleópatra, eu estarei me bancando", diz. Encenar um texto "alternativo" é a forma pela qual Taís espera vencer suas "limitações" como atriz. "Minha voz não está pronta para o teatro. Estou acostumada ao microfone [na TV]. E, sinceramente, meu corpo é "frouxo". Falta tonicidade e preciso aprender a ocupar o espaço do palco". Taís também está no elenco de "Ópera do Mallandro", curta sobre o apresentador Sérgio Mallandro, e filmará em novembro o filme "Bróder!", de Jefferson De. O cenário é o Capão Redondo, na periferia paulistana. Ela será uma prostituta.


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