São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Crítica/"The Tudors"

Série exibe muito luxo e pouca emoção

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Depois de uma longa dieta em que serviu quase exclusivamente um menu de reality shows infames, como "Extreme Makeover" e "Minha Casa, Sua Casa", o canal People & Arts retoma a receita de oferecer seriados em sua programação. A notícia é boa, porque o P&A, quando entrou na grade da TV paga no Brasil, costumava exibir excitantes títulos da produção ficcional britânica.
O movimento começou há poucos meses com a apresentação das novas temporadas da ótima e veterana série de ficção científica "Doctor Who". E prossegue com a estréia hoje do primeiro dos dez episódios da primeira temporada de "The Tudors", uma superprodução internacional sob o selo Showtime, que chega embalada pela indicação a quatro categorias do Emmy no mês passado, das quais abocanhou a óbvia de melhor figurino e a de música de abertura.
A ambiciosa série retrata o reinado de Henrique 8º, monarca inglês do início do século 16. Em tons pretensamente shakespearianos, "The Tudors" é uma luxuosa reconstituição de época que enfatiza as disputas com a França, eterna inimiga, as intrigas de corte, as traições e as disputas por espaços ao lado e na cama do rei.
No papel central, o bonitão Jonathan Rhys Meyers traduz o mítico monarca britânico para o público contemporâneo transando compulsivamente, exibindo o torso nu a cada cinco minutos e até destruindo um cenário como se fosse um roqueiro mimado. Os produtores da série justificam as liberdades históricas sob a alegação que "Henrique 8º foi o Mick Jagger da sua época".
A intenção aparente é uma releitura de época na linha do filme "Rainha Margot", com doses mais altas de erotismo e violência do que se costuma ver na televisão.
Mas, de fato, "The Tudors" é um novelão que pode impressionar alguns graças aos US$ 38 milhões torrados em sua produção. O investimento faz parte da estratégia do Showtime em roubar a primazia da HBO no território da "TV que não parece TV".
Porém, sua aparentemente imbatível concorrente ainda detém o segredo de explorar a antiga fórmula do folhetim em espetáculos que surpreendem pela ruptura com os códigos do normalmente representável na televisão, como na bem-sucedida série "Roma".
Por enquanto, o Showtime limita-se a turbinar sua ficção histórica com cenas de sexo relativamente quentes. Fora isso, "The Tudors" é apenas mais uma versão em imagens de chatíssimos livros de história, daquele tipo que o cinema já produziu às dúzias, com muito luxo, mas sem uma gota de emoção ou de vida.


THE TUDORS
Quando:
hoje, às 23h, no People + Arts
Avaliação: regular


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