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Crítica/"The Tudors"
Série exibe muito luxo e pouca emoção
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Depois de uma longa
dieta em que serviu
quase exclusivamente
um menu de reality shows infames, como "Extreme Makeover" e "Minha Casa, Sua Casa",
o canal People & Arts retoma a
receita de oferecer seriados em
sua programação. A notícia é
boa, porque o P&A, quando entrou na grade da TV paga no
Brasil, costumava exibir excitantes títulos da produção ficcional britânica.
O movimento começou há
poucos meses com a apresentação das novas temporadas da
ótima e veterana série de ficção
científica "Doctor Who". E
prossegue com a estréia hoje do
primeiro dos dez episódios da
primeira temporada de "The
Tudors", uma superprodução
internacional sob o selo Showtime, que chega embalada pela
indicação a quatro categorias
do Emmy no mês passado, das
quais abocanhou a óbvia de melhor figurino e a de música de
abertura.
A ambiciosa série retrata o
reinado de Henrique 8º, monarca inglês do início do século
16. Em tons pretensamente
shakespearianos, "The Tudors"
é uma luxuosa reconstituição
de época que enfatiza as disputas com a França, eterna inimiga, as intrigas de corte, as traições e as disputas por espaços
ao lado e na cama do rei.
No papel central, o bonitão
Jonathan Rhys Meyers traduz
o mítico monarca britânico para o público contemporâneo
transando compulsivamente,
exibindo o torso nu a cada cinco
minutos e até destruindo um
cenário como se fosse um roqueiro mimado. Os produtores
da série justificam as liberdades históricas sob a alegação
que "Henrique 8º foi o Mick
Jagger da sua época".
A intenção aparente é uma
releitura de época na linha do
filme "Rainha Margot", com
doses mais altas de erotismo e
violência do que se costuma ver
na televisão.
Mas, de fato, "The Tudors" é
um novelão que pode impressionar alguns graças aos US$ 38
milhões torrados em sua produção. O investimento faz parte da estratégia do Showtime
em roubar a primazia da HBO
no território da "TV que não
parece TV".
Porém, sua aparentemente
imbatível concorrente ainda
detém o segredo de explorar a
antiga fórmula do folhetim em
espetáculos que surpreendem
pela ruptura com os códigos do
normalmente representável na
televisão, como na bem-sucedida série "Roma".
Por enquanto, o Showtime limita-se a turbinar sua ficção
histórica com cenas de sexo relativamente quentes. Fora isso,
"The Tudors" é apenas mais
uma versão em imagens de chatíssimos livros de história, daquele tipo que o cinema já produziu às dúzias, com muito luxo, mas sem uma gota de emoção ou de vida.
THE TUDORS
Quando: hoje, às 23h, no People + Arts
Avaliação: regular
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