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Crítica
"Fumar" reafirma a força do cinismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Será "Obrigado por Fumar" (TC Pipoca, 20h) um filme cínico? A pergunta se justifica porque o cinismo é a marca mais clara do cinema dito independente americano. É como
se devêssemos constatar que a
humanidade não presta e dar
de ombros, porque a vida é assim mesmo.
Jason Reitman, o realizador
deste filme, observa, antes, o
cinismo como constituinte
muito profundo da cultura
contemporânea. Não é mais
importante falar a verdade, o
importante é falar bem. Essa é,
aliás, a idéia de Nick Naylor
(Aaron Eckhart), notável lobista da indústria de cigarros.
Com uma oratória invejável,
ele defende seus patrões com
garra e inteligência.
Logo percebemos que o filme
trata de advogados. Como eles,
Naylor dará nó em pingo d'água para que sua mentira passe
por verdade. Ora, estamos
diante da questão menos controversa do começo do século
21: cigarros fazem mal à saúde.
Como demonstrar algo próximo do contrário?
Reitman bate o pé: a questão
não é o cigarro. O mundo se
constitui sobre a crença não na
verdade, mas no brilho, na performance. É nessa medida que
o senador inimigo do cigarro
(William H. Macy) mostrará
suas fraquezas: seu "bom combate" é um negócio como outro
qualquer. Será o filme demais
incisivo em sua demonstração?
Pode ser. Mas, partindo de um
filho do um dia promissor Reitman, é antes esse engajamento
do que o nada paterno.
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