São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

"Fumar" reafirma a força do cinismo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Será "Obrigado por Fumar" (TC Pipoca, 20h) um filme cínico? A pergunta se justifica porque o cinismo é a marca mais clara do cinema dito independente americano. É como se devêssemos constatar que a humanidade não presta e dar de ombros, porque a vida é assim mesmo.
Jason Reitman, o realizador deste filme, observa, antes, o cinismo como constituinte muito profundo da cultura contemporânea. Não é mais importante falar a verdade, o importante é falar bem. Essa é, aliás, a idéia de Nick Naylor (Aaron Eckhart), notável lobista da indústria de cigarros. Com uma oratória invejável, ele defende seus patrões com garra e inteligência.
Logo percebemos que o filme trata de advogados. Como eles, Naylor dará nó em pingo d'água para que sua mentira passe por verdade. Ora, estamos diante da questão menos controversa do começo do século 21: cigarros fazem mal à saúde. Como demonstrar algo próximo do contrário?
Reitman bate o pé: a questão não é o cigarro. O mundo se constitui sobre a crença não na verdade, mas no brilho, na performance. É nessa medida que o senador inimigo do cigarro (William H. Macy) mostrará suas fraquezas: seu "bom combate" é um negócio como outro qualquer. Será o filme demais incisivo em sua demonstração? Pode ser. Mas, partindo de um filho do um dia promissor Reitman, é antes esse engajamento do que o nada paterno.


Texto Anterior: Crítica/"The Tudors": Série exibe muito luxo e pouca emoção
Próximo Texto: Bia Abramo: "Duas Caras" aposta no conservadorismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.