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Crítica/música
Sobras dos últimos 20 anos de Bob Dylan valem para fãs
"Tell Tale Signs" é o oitavo volume da série de gravações históricas do cantor
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
Começa a ser vendido
hoje, nas lojas norte-americanas e na internet, o novo disco de Bob Dylan,
"Tell Tale Signs". Novo em termos: trata-se do oitavo volume
de sua coleção de auto-pirataria, a Bootleg Series, discos de
shows históricos, sobras de estúdio e raridades inéditas para
fanáticos. As músicas estão disponíveis para audição grátis no
site da rádio www.npr.org.
Iniciada em 1991, a coleção é
a maior responsável pela manutenção de Dylan na mídia
nas duas últimas décadas, apesar do lançamento de um ou
dois bons discos de inéditas em
meio a outros álbuns pouco
memoráveis.
Os volumes quatro e cinco da
série, por exemplo, trazem
shows fundamentais do artista,
de 1966 e de 1975, quando
Dylan respectivamente começou a usar guitarra elétrica no
lugar do violão e quando se
reinventou após declarado
morto artisticamente.
Já os três primeiros volumes
trazem raridades entre 1962 e
1989. Esse oitavo volume, lançado hoje com o subtítulo "raras e não lançadas 1989-2006",
traz justamente a continuação
das sobras. Pena que seja uma
época em que Dylan pouco ofereceu de boas novidades.
A maioria das 27 faixas traz
canções extraídas das gravações de seus três bons discos
dos últimos 20 anos: "Oh
Mercy" (1989), "Time Out of
Mind" (1997) e "Modern Times" (2006).
O problema, obviamente, é
que as melhores canções dessas gravações já saíram nos devidos álbuns. O que sobra não
passa disso: sobras, intercaladas com meia dúzia de gravações ao vivo.
Três edições
O segundo problema de "Tell
Tale Signs" é o fato de ser um
disco duplo. Por que um disco
duplo de uma fase tão irregular? Ou porque o material foi
superestimado ou porque os fãs
de Bob Dylan (nós) engolem
(engolimos) qualquer coisa que
seja bem embalada.
O primeiro caso certamente
é verdadeiro. A troco de quê
uma música média como "Mississippi" (sobra de 1997) abre o
CD 1 numa versão blues e depois o CD 2 numa outra versão
mais baladinha?
Mas o segundo caso também
é. A série Bootleg é um prazer
para o fã e, além da edição normal com dois CDs e livreto
(US$ 19 dólares no site oficial
do cantor, www.bobdylan.
com), há duas outras para
doentes em geral. Uma é a versão de quatro LPS de 180 gramas (grossos!, por US$ 100).
A outra traz os dois CDs originais mais um CD bônus com
12 músicas (muitas repetidas,
sendo apenas outras versões,
incluindo uma terceira de
"Mississippi"!?!) mais um compacto de vinil com a canção
"Dreaming of You" (já presente
no CD 1) mais o livreto mais
um livro de capa dura com 150
páginas reproduzindo capas de
compactos diversos de Bob
Dylan em diversos países e línguas. Esse sai por US$ 130.
A Sony promete o lançamento da versão mais simples (o
CD duplo, com livreto de 60
páginas) na segunda quinzena
deste mês.
Mas não é ruim
Dito tudo isso, e em se tratando de um artista de primeira
grandeza como Bob Dylan,
sempre há algo que vale a pena
ouvir. E, sim, há canções memoráveis em "Tell Tale Signs".
Aqui vão três: "Born in Time",
delicada balada que sobrou de
"Oh Mercy" (1989), mas que foi
incluída no disco seguinte,
"Under the Red Sky" (1990).
"Can't Escape from You"
(2005) e "Cocaine Blues" (ao
vivo em 1997) -não a música
de Johnny Cash, mas uma canção tradicional- também emocionam. Mas é pouco para um
disco duplo.
TELL TALE SIGNS - THE BOOTLEG SERIES VOL. 8 - RARE AND
UNRELEASED 1989-2006
Artista: Bob Dylan
Gravadora: Sony BMG
Quanto: a definir
Avaliação: regular
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