São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Crítica/música

Sobras dos últimos 20 anos de Bob Dylan valem para fãs

"Tell Tale Signs" é o oitavo volume da série de gravações históricas do cantor

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

Começa a ser vendido hoje, nas lojas norte-americanas e na internet, o novo disco de Bob Dylan, "Tell Tale Signs". Novo em termos: trata-se do oitavo volume de sua coleção de auto-pirataria, a Bootleg Series, discos de shows históricos, sobras de estúdio e raridades inéditas para fanáticos. As músicas estão disponíveis para audição grátis no site da rádio www.npr.org. Iniciada em 1991, a coleção é a maior responsável pela manutenção de Dylan na mídia nas duas últimas décadas, apesar do lançamento de um ou dois bons discos de inéditas em meio a outros álbuns pouco memoráveis. Os volumes quatro e cinco da série, por exemplo, trazem shows fundamentais do artista, de 1966 e de 1975, quando Dylan respectivamente começou a usar guitarra elétrica no lugar do violão e quando se reinventou após declarado morto artisticamente. Já os três primeiros volumes trazem raridades entre 1962 e 1989. Esse oitavo volume, lançado hoje com o subtítulo "raras e não lançadas 1989-2006", traz justamente a continuação das sobras. Pena que seja uma época em que Dylan pouco ofereceu de boas novidades. A maioria das 27 faixas traz canções extraídas das gravações de seus três bons discos dos últimos 20 anos: "Oh Mercy" (1989), "Time Out of Mind" (1997) e "Modern Times" (2006). O problema, obviamente, é que as melhores canções dessas gravações já saíram nos devidos álbuns. O que sobra não passa disso: sobras, intercaladas com meia dúzia de gravações ao vivo.
Três edições
O segundo problema de "Tell Tale Signs" é o fato de ser um disco duplo. Por que um disco duplo de uma fase tão irregular? Ou porque o material foi superestimado ou porque os fãs de Bob Dylan (nós) engolem (engolimos) qualquer coisa que seja bem embalada. O primeiro caso certamente é verdadeiro. A troco de quê uma música média como "Mississippi" (sobra de 1997) abre o CD 1 numa versão blues e depois o CD 2 numa outra versão mais baladinha? Mas o segundo caso também é. A série Bootleg é um prazer para o fã e, além da edição normal com dois CDs e livreto (US$ 19 dólares no site oficial do cantor, www.bobdylan. com), há duas outras para doentes em geral. Uma é a versão de quatro LPS de 180 gramas (grossos!, por US$ 100). A outra traz os dois CDs originais mais um CD bônus com 12 músicas (muitas repetidas, sendo apenas outras versões, incluindo uma terceira de "Mississippi"!?!) mais um compacto de vinil com a canção "Dreaming of You" (já presente no CD 1) mais o livreto mais um livro de capa dura com 150 páginas reproduzindo capas de compactos diversos de Bob Dylan em diversos países e línguas. Esse sai por US$ 130. A Sony promete o lançamento da versão mais simples (o CD duplo, com livreto de 60 páginas) na segunda quinzena deste mês.

Mas não é ruim
Dito tudo isso, e em se tratando de um artista de primeira grandeza como Bob Dylan, sempre há algo que vale a pena ouvir. E, sim, há canções memoráveis em "Tell Tale Signs". Aqui vão três: "Born in Time", delicada balada que sobrou de "Oh Mercy" (1989), mas que foi incluída no disco seguinte, "Under the Red Sky" (1990). "Can't Escape from You" (2005) e "Cocaine Blues" (ao vivo em 1997) -não a música de Johnny Cash, mas uma canção tradicional- também emocionam. Mas é pouco para um disco duplo.

TELL TALE SIGNS - THE BOOTLEG SERIES VOL. 8 - RARE AND UNRELEASED 1989-2006
Artista: Bob Dylan
Gravadora: Sony BMG
Quanto: a definir
Avaliação: regular



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