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comida
Bastidores
Folha relata a experiência de acompanhar treinamentos de garçons em restaurantes de SP; sociólogo opina sobre a crise da hospitalidade
LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO
Todas às quintas pela manhã, garçons e auxiliares do
Bacalhoeiro são reunidos para uma conversa informal. É
no salão do restaurante, que
habita uma casa agradável
no Tatuapé, que todos sentam em cadeiras almofadadas diante do maître.
Ele tira um papel meio surrado do bolso, com anotações feitas à mão. Ali estão
registrados deslizes e problemas notados no serviço durante a semana que passou.
Por dias, a Folha se infiltrou nos bastidores de restaurantes de São Paulo para
participar de treinamentos
de brigada e descobrir o que
proprietários esperam dos
funcionários -que ganham,
em média, nas casas mais baladas, valores próximos do
salário mínimo (R$ 510),
quantia alavancada até cerca
de R$ 1.500 com a soma dos
10% do serviço.
Nesse encontro semanal, o
maître levanta pontos como
a importância da comunicação, do posicionamento no
salão (um garçom espaçado
do outro), da postura (corpo
ereto, cabeça erguida) e do
comportamento (não se deve
rir alto nem cochichar).
No Obá, o encontro é mais
lúdico. Coordenado por Hugo Delgado, dono, os garçons ficam em torno de uma
mesa do salão. Depois de bate-papo sobre os conceitos de
habilidade (talento) e competência (algo que se pode
aprender e desenvolver), a
missão foi elencar, em um
papel, características importantes que o garçom deve ter.
Em grupos, elegeu-se pontos-chave, como domínio do
cardápio, simpatia e atenção. Depois de cada um apresentá-los, Delgado assumiu a
dianteira para expor quais
eram as competências no
Obá -e que seriam cobradas
e avaliadas no decorrer do
trabalho. São elas: informação, serviço de equipe, interação com cliente, postura.
"Essas coisas funcionam
para a vida: nos restaurantes, na arrecadação de fundos para a Cruz Vermelha, no
teatro", diz Delgado, que
também organiza treinamentos específicos para mostrar
os pratos aos funcionários,
com degustação e prova.
A Companhia Tradicional
do Comércio -dos bares Original, Astor e Pirajá, da Lanchonete da Cidade e das pizzarias Bráz e Quintal da
Bráz- também submete seus
funcionários a provas.
A Folha acompanhou um
módulo no qual foram ensinadas competências como
segurar a bandeja, ordem de
serviço e comportamento
diante do cliente.
O encontro mais descontraído contou com participação ativa dos presentes, que
vestiam bermudas, bonés e
tênis. "O bom garçom passa
despercebido", crava o sommelier Fábio Luis da Silva, no
grupo há 12 anos. "E sempre,
sempre preste atenção na expressão facial do cliente."
CONSULTORIA
Marcus Ribas está na área
há 22 anos e hoje encabeça a
consultoria AYB, que realiza
treinamentos de acordo com
as necessidades de cada casa. "O mercado está mais
competitivo e profissional."
No Santo Grão, que abriu
mais uma filial recentemente, Marco Kerkmeester juntou a brigada para levantar
quais eram as necessidades
da equipe do ponto de vista
dos funcionários. Aprimorar
português e neurolinguística, a resposta.
Foram deslocados, inclusive, para o interior de São
Paulo para aulas que lhes
dessem mais fluência -e
precisão- na hora de se comunicar com os clientes.
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