São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2011

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Colunista da Ilustrada gera polêmica na cena cultural

Álvaro Pereira Júnior atacou relação de músicos com a imprensa no país

Casas de shows de SP, artista e repórteres especializados rejeitam as críticas feitas pelo jornalista em coluna

DE SÃO PAULO

Personagens da cena musical de São Paulo criticados pelo colunista da Ilustrada Álvaro Pereira Júnior no sábado reagiram ao artigo.
O texto "É proibido criticar" atacava a relação de músicos com a imprensa no Brasil em contraposição à cobertura do semanário londrino "New Musical Express", apontado como modelo.
"Em qualquer jornal, revista ou site (...), você vai ler exatamente os mesmos elogios para o rap feito sob medida para jornalistas branquinhos de Criolo, para a bossa velha de Romulo Fróes, para o sambinha sem 'cojones' de Thiago Pethit", escreveu.
Pereira Júnior afirmou que esses músicos abrigam-se "sob um guarda-chuva estatal ou paraestatal" e "praticamente só tocam em dois tipo de casa: Sescs ou no Studio SP, na rua Augusta".
O diretor regional do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda, disse que a análise de Pereira é "muito rasa" e negou pagar acima do mercado. "Há quem ache que somos duros demais na remuneração."
Ele observou que há cerca de 30 anos o Sesc já abria espaço para novos artistas.
Sobre o Studio SP, Pereira disse que a casa de shows na Augusta "opera numa interface entre o mundo artístico e o político-partidário".
Alexandre Youssef, dono do Studio SP e candidato a deputado federal pelo PV em 2010, disse que a casa nunca recebeu incentivo ou verba pública e que Pereira ignora a microeconomia que alavanca a cena paulistana. "É natural que o novo modelo de negócios seja diferente dos jabás e da indústria com a qual ele está acostumado."

"SAMBINHA"
Para Thiago Pethit, é "patético" que sua música (para ele, um "pop, folk") seja classificada de "sambinha". "É como criticar o heavy metal de Maria Bethânia."
Pethit rebateu a ideia de que seja de uma geração acomodada por editais públicos. Disse que gastou R$ 25 mil para lançar seu disco e que sobrevive de música para publicidade e da venda de CDs.
Pethit já ironizara o texto no Twitter com outros usuários, entre eles o repórter da Ilustrada Marcus Preto.
O repórter, que cobre a área de música há dez anos, escreveu que Pereira era como uma "dessas tias que ficam atrás da mesa achando que conseguem adivinhar o mundo lá fora". "Falei coisas que acho de fato, talvez com palavras exageradas", disse.
Preto nega que haja complacência na cobertura. Diz que, embora não seja amigo de Pethit, conhece músicos por ir a shows para mapear novidades. E acha naturais as reportagens positivas.
"Numa cena nova, você prioriza quem se destaca. Se o cara que está surgindo lança um disco ruim, você não vai gastar espaço com ele."
O jornalista Jotabê Medeiros, que cobre música há 24 anos, 17 deles em "O Estado de S. Paulo", considera que o jornalismo cultural de hoje é mais crítico que quando iniciou a carreira, nos anos 80.
"O crítico-amigo-de-artista sempre existiu, mas a profissionalização é hoje infinitamente maior do que quando eu e o Álvaro começamos."
Medeiros lembra que é normal governos apoiarem as cenas musicais. "Um dos melhores eventos do calendário paulistano é a 'Invasão Sueca', parte da estratégia estatal de divulgação da música alternativa daquele país."
Pereira admite que não frequenta o meio que criticou. "Hoje existe YouTube, e eu me submeti a uma sessão de tortura vendo esses caras."
O colunista nega que tenha definido a música de Pethit como samba. "Samba quem faz é Élton Medeiros. Aquilo é sambinha. E toda essa gente você pode pôr embaixo de um neon: sambinha."
Criolo não quis se manifestar. Rômulo Fróes não respondeu ao email da Folha.



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