São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

O Macaco e a Banana


Alguém apelou para "a criatividade", mais exatamente, para a minha criatividade

Nunca fui e acredito que nunca serei um jornalista investigativo. Se pudesse -e se a polícia deixasse-, seria um jornalista imaginativo, cheguei a fazer uma experiência concreta nesse sentido, anos atrás, numa revista semanal que não existe mais.
Era dia de fechamento e não havia nenhuma matéria de impacto, tudo banal, devastação na Amazônia, crise na Polícia Civil por causa do espancamento de uma senhora, diretoria do Vasco tomando providências para arranjar um novo técnico, coisas assim.
Alguém apelou para "a criatividade", mais exatamente, para a minha criatividade. Era oferecer banana a um macaco.
Abri o computador e escrevi uns 6.000 caracteres sobre um furo espetacular: um fotógrafo do "Washington Post" conseguira fotografar John F. Kennedy ao lado de Marilyn Monroe, pendurados numa cerca de um sítio no Colorado.
Os dois já estavam mortos há mais de 15 anos, mas sempre desconfiei da história oficial.
Por sinal, tanto no caso de Kennedy como no de Marilyn, há questionamentos, gente jurando que o crime de Dallas foi uma encenação da Máfia, que quem morreu foi um sósia do presidente.
Quanto a Marilyn, há dúvidas se ela se matou com remédios ou se foi morta pela família Kennedy -mesmo em imaginação, os personagens são sempre os mesmos.
Em 1961, precisando escrever um romance que a editora me cobrava, fui passar uns dias em Campos do Jordão, num hotel dirigido por alemães, e fiquei maravilhado com as tortas que eram servidas como sobremesa.
Perguntei a um antigo funcionário quem as fazia, ele ficou alarmado, insisti, ele acabou dizendo que na cozinha funcionava um alemão de seus 60 e tantos anos, especialista em tortas, diziam que era o próprio Adolf Hitler que ali se refugiara.
Logo depois da Segunda Guerra Mundial, que na Europa terminou com o suicídio do Führer no seu bunker em Berlim, tendo seus restos queimados e fotografados, começaram as versões de que ele fugira num avião, que o levou a um submarino especialmente fabricado para o caso de uma fuga do líder nazista.
Outro dia, na TV, vi extenso documentário sobre a fuga de Hitler, cinco dias antes de seu suicídio.
Outros hierarcas do nazismo já haviam fugido e a Argentina era o refúgio preferencial dos fugitivos.
Mengele e Eichmann ali se refugiaram e ali viveram anos, até que um deles foi capturado por um grupo israelense e o outro morreu, anos depois, afogado em Bertioga.
Na Argentina daquela época, presidida por Perón, havia numerosas colônias fundadas por alemães simpatizantes do nazismo.
Uma delas, na Patagônia, próximo ao litoral, fora construída como refúgio para um criminoso tamanho-família como Hitler. Possuía até um cais para abrigar um submarino.
Centenas de pessoas entrevistadas garantiram que Hitler ali viveu até a morte, raspara o bigode e perdera todo o cabelo, mas era o próprio em carne, osso, mas sem o bigode. Há uma foto do último "look" do Führer, mas hoje se pode fazer qualquer truque com os recursos digitais. E agora?
Sobre a morte de Cristo e sua ressurreição há toda uma vastidão de teses, hipóteses, escavações, o diabo. Para os cristãos, prevalece a afirmação categórica de São Paulo: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa doutrina". Um túmulo vazio não chega a provar nada. As poucas aparições posteriores podem ser consideradas suspeitas, inclusive a de Thiago, que duvidou das chagas e só acreditou vendo.
Ao longo da história, muitos lances são contestados, desde a morte de Napoleão -que teria morrido de câncer ou de envenenamento- até a de João Goulart -há um pedido judicial para a exumação que até hoje não foi feita.
Disraeli tem uma frase que citei num livro sobre a morte de três políticos brasileiros: "Os fatos considerados históricos são fabricados por muitas mãos e centrados nos personagens principais. No entanto, eles têm razão de ser pela atuação de personagens secundários e obscuros".
Para encerrar essas considerações "criativas", lembro aos leitores que, em minhas crônicas, há mais de 20 anos, pergunto onde estão os ossos de Dana de Teffé.
Até hoje não me responderam.

cony@uol.com.br

AMANHÃ NA ILUSTRADA:
Drauzio Varella




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