São Paulo, quarta, 7 de outubro de 1998

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MODA
Milão desfila a costura do próximo milênio

Associated Press
Modelo veste roupa "abusada" da coleção primavera-verão da Blumarine em desfile que aconteceu anteontem, em Milão, Itália


ERIKA PALOMINO
enviada especial a Milão

No terceiro dia do pret-à-porter de primavera-verão em Milão, dois estilistas se mostraram à frente de alguns caminhos para uma nova costura.
São eles Narciso Rodriguez e Lawrence Steele. Em seus desfiles de anteontem, trouxeram uma moda limpa e fluida, introduzindo importantes valores que deverão durar até o próximo milênio. Formas essenciais e racionalismo (não minimalismo) estão entre eles.
Assistente de Miuccia Prada em tempos anteriores, Steele vem com menos alarde que Rodriguez, catapultado à fama desde o vestido de casamento de Carolyn Basette Kennedy. Mas na tarde de anteontem foi mais bem-sucedido.
Acionou um tribalismo intelectualizado e feminino, que nada tem de étnico, mas que resgata em suas mulheres uma animal sensualidade, uma espécie de elegância rústica. Ao mesmo tempo, as formas homenageiam a cultura clássica, como por exemplo no vestido-coluna branco que deixou Erin O'Connor uma verdadeira deusa.
Tal hibridismo vem interpretado em tecidos sintéticos (como o náilon quase cirúrgico que vira segunda pele) e naturais, em peças sempre brancas ou com os tons quentes do mel e dos cobres metálicos. O aspecto naturalista vem no couro (das minis marrons, quadradas) e nas jaquetas e calças lembrando folhas de árvores.
Rodriguez, por sua vez, arranjou uma inteligente maneira de justificar uma moda usável, simples e comercial. Aos olhos dos iniciados, fala de senso de estrutura, forma e alfaiataria, sempre com qualidade.
O estilista parte de idéias abstratas da água e seus reflexos para trabalhar a cartela de cores (que inclui o inevitável branco da temporada, gelo, diferentes cinzas e chumbos, turquesas e até pretos). Mistura tecidos e matizes para fragmentar a silhueta, em vestidos sobrepostos, pelo joelho; regatas usadas sob vestes; corseletes ou faixas dos quimonos japoneses sobre os vestidos. Tricôs completam a busca pelo conforto, definindo um novo estilo de elegância.
Estrutura e construção foram também as palavras de ordem para Gianfranco Ferré, em sua segunda marca, GFF, anteontem.
Mas desta vez elas se perderam no céu da interpretação. Intelectualismo aqui virou mero exercício de geometria, seja nas formas ou nas listras a roldo que se estendem ao sapato tipo palhaço, bicolor. As cores, elementares, são o preto, o branco e o azul escuro. E só.
Menos ambiciosa, apenas em seu quarto ano de vida, a Anteprima funciona no quesito roupa boa, com informação de moda e consistente presença nos acessórios, como as sandálias de tiras grossas de látex, a botinha de boxe e as sapatilhas tipo Japão. De novo, preto, cru, cinza e branco, em bons básicos, urbanos e confortáveis, sobretudo nos pijamas e nos vestidos-casulo em azul escuro. O papel cirúrgico faz boa aparição aqui também, em amplas saias longas ou calças de cunho esportivo.
A marca Guerriero busca atenção na disputada semana de Milão. Empresta materiais modernos às formas já conhecidas e tratamento tecnológico ao natural, com idéias que vão do "japonismo" ao hippie. Boas soluções podem ser pinçadas aqui e ali, mantendo suavidade.
Em outra seara, a Blumarine fez seu estilão mesmo: aquele de roupa sexy, no limite do "boudoir". Feminina e abusada, mostra cores lavadas, como o lilás e o rosa, marcando esta temporada com muitas plumas nos detalhes e muita transparência, culminando com uma noiva que ganha chuva de arroz no final da passarela.



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