São Paulo, quarta, 7 de outubro de 1998

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Grupo quer ser "minhoca'

da Reportagem Local

O Boato parte de uma premissa divertida, a do artista como "minhoca" que recolhe dejetos -no caso, o lixo cultural- e os transforma em húmus, em adubo.
É, feitas as contas, uma adaptação dos conceitos lançados pelo mangue beat, e a interessante geração pop carioca a que o Boato pertence -com Pedro Luís e A Parede, Arícia Mess, a família Hemp- não deixa mesmo esse quadro.
No Boato, porém, ocorrem problemas de concretização. A conceituação, pode-se ouvir agora, não encontra apoio musical suficiente. A banda passeia por estilos díspares sem mostrar firmeza em nenhum. Chega ao cúmulo de emular Claudinho e Buchecha no estereotipado "Rap do Cartão Postal".
Há segmentos punk ("Banana", "Camisa-de-Força"), passeios simpáticos por ritmos brasileiros (como em "Feira de São Cristóvão" ou no repente-batucada "Marginália pela Paz" -o melhor lance do CD, apesar do título medonho), revisão do pop à Blitz ("Cabrobró Music" termina tal qual a velha "Vai, Vai, Love", lembra?) e muito, muito reggae ("Berro da Cabra", ou o manifesto pró-maconha -com trecho bíblico e tudo- "Incendiar o Mar").
Talvez aí esteja o desnível. Boato pretende a diversidade, mas o que parece apreciar mesmo é reggae -não há proposta de modernidade que resista a ele.
É pena, pois os descaminhos musicais colocam sob ameaça o ar de ironia que atravessa determinadas letras ("Xuxa Preta", "Camisa-de-Força"). O risco é de que a malucona "instalação" de polvos que ilustra o encarte torne-se mais interessante que a música. Não era para ser assim. (PAS)
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Disco: Abracadabra Grupo: Boato Lançamento: WEA Quanto: R$ 18, em média


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