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Grupo quer ser "minhoca'
da Reportagem Local
O Boato parte de uma premissa
divertida, a do artista como "minhoca" que recolhe dejetos -no
caso, o lixo cultural- e os transforma em húmus, em adubo.
É, feitas as contas, uma adaptação dos conceitos lançados pelo
mangue beat, e a interessante geração pop carioca a que o Boato pertence -com Pedro Luís e A Parede, Arícia Mess, a família Hemp-
não deixa mesmo esse quadro.
No Boato, porém, ocorrem problemas de concretização. A conceituação, pode-se ouvir agora, não
encontra apoio musical suficiente.
A banda passeia por estilos díspares sem mostrar firmeza em nenhum. Chega ao cúmulo de emular
Claudinho e Buchecha no estereotipado "Rap do Cartão Postal".
Há segmentos punk ("Banana",
"Camisa-de-Força"), passeios
simpáticos por ritmos brasileiros
(como em "Feira de São Cristóvão" ou no repente-batucada
"Marginália pela Paz" -o melhor
lance do CD, apesar do título medonho), revisão do pop à Blitz
("Cabrobró Music" termina tal
qual a velha "Vai, Vai, Love", lembra?) e muito, muito reggae ("Berro da Cabra", ou o manifesto pró-maconha -com trecho bíblico e
tudo- "Incendiar o Mar").
Talvez aí esteja o desnível. Boato
pretende a diversidade, mas o que
parece apreciar mesmo é reggae
-não há proposta de modernidade que resista a ele.
É pena, pois os descaminhos musicais colocam sob ameaça o ar de
ironia que atravessa determinadas
letras ("Xuxa Preta", "Camisa-de-Força"). O risco é de que a malucona "instalação" de polvos que ilustra o encarte torne-se mais interessante que a música. Não era para
ser assim.
(PAS)
²
Disco: Abracadabra
Grupo: Boato
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 18, em média
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