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VIDEOARTE
Betty Leirner desconstrói suas imagens
CAMILA VIEGAS
especial para a Folha
A videoartista Betty Leirner chegou na semana passada a São Paulo não só para a abertura da exposição da coleção de seu pai, Adolpho Leirner, em cartaz no Museu
de Arte Moderna. Ela veio preparar uma mostra de oito vídeos inéditos programada para os dias 14 e
15 deste mês, no Museu Brasileiro
da Escultura.
Betty mora em Hamburgo, Alemanha, desde 91, e passou os últimos dois anos produzindo vídeos
na Inglaterra, Israel, Alemanha,
Brasil e Jordânia. A última exibição
de seus trabalhos na cidade foi a retrospectiva realizada no Museu da
Imagem e do Som, em 1995.
Betty explica que seu processo de
produção é orgânico. Nenhum dos
vídeos dessa mostra seguiu roteiro
predeterminado. "O que havia era
a idéia que conduzia, por associação, a sequência de imagens. Dessa
forma, o momento da edição é repleto de surpresas", explica.
Betty mantém a postura romântica até quando lida com seu material técnico. O vídeo "Corps Humain, Corps Céleste" (Corpo Humano, Corpo Celeste) surgiu a partir das primeiras imagens que gravou com uma câmera HI-8 recém-comprada em Londres. "Saí da loja, fui a um parque e comecei a filmar o sol", conta.
A câmera retarda os movimentos
e produz rastros que possibilitam
desenhar com o ponto de luz na tela. Com a segunda parte do título
resolvida, Betty representou o corpo humano a partir de imagens da
amiga Doris Palme penteando seu
cabelo comprido.
Uma característica marcante de
seus vídeos é o talento com que
mescla som, palavra e imagem. Em
"Corps Humain...", Betty sincronizou o adagio da "Suite nē 2 em Fá
Maior" de Haendel, interpretado
por Glenn Gould, com o movimento do pente, e transformou o
cabelo em instrumento musical.
"O futuro reside na relação entre
os corpos e as idéias", diz.
Outro exemplo é "Figuras de
Linguagem", vídeo que inicia o
programa do MuBE. Ao som de
"Sodade", de Cesária Évora, quatro casais dançam forró. As figuras
de linguagem ficam por conta dos
nomes dados aos casais: Zé das Frô
e Rosa Formosa, Sim Sim Si e Seu
Celestino etc.
No caso das palavras ou das
mensagens a relação é menos direta. "Há sempre algo em aberto,
nem mesmo eu entendo completamente o trabalho quando termino
de executá-lo", explica Betty.
"Quero deixar espaço para leituras
diferentes."
Em "Japonese for Beginners"
(Japonês para Iniciantes) nem a
autora consegue traduzir o que seu
professor de japonês diz. "Só sei
que é a história de Urashima Taro,
um pescador, e uma tartaruga."
"Political Mistakes", o vídeo
mais longo e mais ousado da mostra, usa as palavras de outra maneira. Betty critica o fanatismo e a política rasa que não soluciona problemas por meio de palavras traduzidas em inglês, árabe, hebraico,
ídiche e japonês.
Esses vídeos, assim como os objetos incolores que a artista construiu na década de 80, desconstroem o pensamento da diretora e
absorvem o entorno. "Gosto dessa
característica dos meus trabalhos", diz. "A incerteza é o ponto
central do furacão, onde você se
salva."
˛
O quê: mostra de vídeos de Betty Leirner
Quando: dias 14 e 15 (reprise), às 21h
Onde: MuBE (r. Alemanha, 221, Jardim
Europa, tel. 011/ 881-8611)
Quanto: entrada franca
Patrocinador: Lufthansa
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