São Paulo, quarta, 7 de outubro de 1998

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VIDEOARTE
Betty Leirner desconstrói suas imagens


CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

A videoartista Betty Leirner chegou na semana passada a São Paulo não só para a abertura da exposição da coleção de seu pai, Adolpho Leirner, em cartaz no Museu de Arte Moderna. Ela veio preparar uma mostra de oito vídeos inéditos programada para os dias 14 e 15 deste mês, no Museu Brasileiro da Escultura.
Betty mora em Hamburgo, Alemanha, desde 91, e passou os últimos dois anos produzindo vídeos na Inglaterra, Israel, Alemanha, Brasil e Jordânia. A última exibição de seus trabalhos na cidade foi a retrospectiva realizada no Museu da Imagem e do Som, em 1995.
Betty explica que seu processo de produção é orgânico. Nenhum dos vídeos dessa mostra seguiu roteiro predeterminado. "O que havia era a idéia que conduzia, por associação, a sequência de imagens. Dessa forma, o momento da edição é repleto de surpresas", explica.
Betty mantém a postura romântica até quando lida com seu material técnico. O vídeo "Corps Humain, Corps Céleste" (Corpo Humano, Corpo Celeste) surgiu a partir das primeiras imagens que gravou com uma câmera HI-8 recém-comprada em Londres. "Saí da loja, fui a um parque e comecei a filmar o sol", conta.
A câmera retarda os movimentos e produz rastros que possibilitam desenhar com o ponto de luz na tela. Com a segunda parte do título resolvida, Betty representou o corpo humano a partir de imagens da amiga Doris Palme penteando seu cabelo comprido.
Uma característica marcante de seus vídeos é o talento com que mescla som, palavra e imagem. Em "Corps Humain...", Betty sincronizou o adagio da "Suite nē 2 em Fá Maior" de Haendel, interpretado por Glenn Gould, com o movimento do pente, e transformou o cabelo em instrumento musical. "O futuro reside na relação entre os corpos e as idéias", diz.
Outro exemplo é "Figuras de Linguagem", vídeo que inicia o programa do MuBE. Ao som de "Sodade", de Cesária Évora, quatro casais dançam forró. As figuras de linguagem ficam por conta dos nomes dados aos casais: Zé das Frô e Rosa Formosa, Sim Sim Si e Seu Celestino etc.
No caso das palavras ou das mensagens a relação é menos direta. "Há sempre algo em aberto, nem mesmo eu entendo completamente o trabalho quando termino de executá-lo", explica Betty. "Quero deixar espaço para leituras diferentes."
Em "Japonese for Beginners" (Japonês para Iniciantes) nem a autora consegue traduzir o que seu professor de japonês diz. "Só sei que é a história de Urashima Taro, um pescador, e uma tartaruga."
"Political Mistakes", o vídeo mais longo e mais ousado da mostra, usa as palavras de outra maneira. Betty critica o fanatismo e a política rasa que não soluciona problemas por meio de palavras traduzidas em inglês, árabe, hebraico, ídiche e japonês.
Esses vídeos, assim como os objetos incolores que a artista construiu na década de 80, desconstroem o pensamento da diretora e absorvem o entorno. "Gosto dessa característica dos meus trabalhos", diz. "A incerteza é o ponto central do furacão, onde você se salva."
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O quê: mostra de vídeos de Betty Leirner Quando: dias 14 e 15 (reprise), às 21h Onde: MuBE (r. Alemanha, 221, Jardim Europa, tel. 011/ 881-8611) Quanto: entrada franca Patrocinador: Lufthansa


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