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Coletivos mudam pop brasileiro
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ao rotular-se como "nova escola", a atual geração de rap de São
Paulo e do Rio de Janeiro rompe
didaticamente com os pioneiros
do gênero -imediatamente, a
"velha escola"- para se mostrar
pronta para o ataque. "O público
de rap mudou, hoje você tem
mais festas black no Itaim e nos
Jardins do que nos bairros", explica Rodrigo Brandão, "não dá para
fugir do fato que há um público
cada vez mais amplo para o hip
hop".
Brandão localiza a nova geração
ao redor da coletânea "Direto do
Laboratório", lançada pela Trama, que inclui boa parte dos nomes da chamada "nova escola".
"É mais ou menos equivalente à
(coletânea) Lyricist Lounge, que
saiu nos EUA há um tempo e mapeou toda a geração de nomes como Mos Def, Common, Talib
Kweli e Jurassic 5", explica o vocalista do Mamelo Sound System.
O próprio Mamelo pode se considerar responsável pelo fortalecimento dessa safra ao apresentar o
conceito de coletivo para toda
uma geração. Foi a partir do formato coletivo do grupo que os
produtores Rica Amabis e Tejo
Damasceno se uniram ao tecladista Ganjaman para dar origem
ao coletivo paulistano Instituto,
responsável pelas trilhas sonoras
dos filmes "O Invasor" e "Amarelo Manga", além de produção dos
discos do grupo de jazz-funk cearense Cidadão Instigado e o produtor gaúcho Flu. Eles também
revelaram o rapper Sabotage,
morto em janeiro deste ano.
Por trás dessa organização em
coletivos estão os diversos pontos
de uma teia de informações que
lentamente vêm dando uma nova
cara à música pop no Brasil. O
próprio fato de o Quinto Andar,
coletivo de Niterói, estar presente
ao Indie Hip Hop sem ser uma
das atrações é um dos exemplos
dessa mudança de lógica. Aliás,
dizer que o Quinto Andar vem de
Niterói faz parte da lógica antiga.
O grupo começou na cidade fluminense, formado por De Leve,
Marechal e Castro, e logo incluía
integrantes paulistanos, como
Kamau e o DJ King, e até um mineiro, o MC Matéria-Prima.
Esse coletivo, anônimo para o
grande público, tem um fiel séquito de fãs que conhece o grupo
trocando mp3s via internet. De
Leve, MC manhoso e desbocado,
já lançou dois EPs ("Introduzindo
De Leve" e "O Estilo Foda-se")
usando a internet como veículo
de distribuição, o que lhe valeu o
hit underground "Largado".
São pequenas, mas fundamentais mudanças na música pop de
hoje, num movimento criativo
paralelo às derrocadas da indústria como a música online, a pirataria e as fusões dos grupos de entretenimento com megacorporações de tecnologia. E se considerarmos que aos poucos estão se
aproximando do Instituto grupos
tão diferentes quanto Los Hermanos e Hurtmold, podemos antever que, além de expandir os horizontes do hip hop, essas conexões
podem mudar de vez o rumo da
música no Brasil.
(AM)
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