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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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Coletivos mudam pop brasileiro

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ao rotular-se como "nova escola", a atual geração de rap de São Paulo e do Rio de Janeiro rompe didaticamente com os pioneiros do gênero -imediatamente, a "velha escola"- para se mostrar pronta para o ataque. "O público de rap mudou, hoje você tem mais festas black no Itaim e nos Jardins do que nos bairros", explica Rodrigo Brandão, "não dá para fugir do fato que há um público cada vez mais amplo para o hip hop".
Brandão localiza a nova geração ao redor da coletânea "Direto do Laboratório", lançada pela Trama, que inclui boa parte dos nomes da chamada "nova escola". "É mais ou menos equivalente à (coletânea) Lyricist Lounge, que saiu nos EUA há um tempo e mapeou toda a geração de nomes como Mos Def, Common, Talib Kweli e Jurassic 5", explica o vocalista do Mamelo Sound System.
O próprio Mamelo pode se considerar responsável pelo fortalecimento dessa safra ao apresentar o conceito de coletivo para toda uma geração. Foi a partir do formato coletivo do grupo que os produtores Rica Amabis e Tejo Damasceno se uniram ao tecladista Ganjaman para dar origem ao coletivo paulistano Instituto, responsável pelas trilhas sonoras dos filmes "O Invasor" e "Amarelo Manga", além de produção dos discos do grupo de jazz-funk cearense Cidadão Instigado e o produtor gaúcho Flu. Eles também revelaram o rapper Sabotage, morto em janeiro deste ano.
Por trás dessa organização em coletivos estão os diversos pontos de uma teia de informações que lentamente vêm dando uma nova cara à música pop no Brasil. O próprio fato de o Quinto Andar, coletivo de Niterói, estar presente ao Indie Hip Hop sem ser uma das atrações é um dos exemplos dessa mudança de lógica. Aliás, dizer que o Quinto Andar vem de Niterói faz parte da lógica antiga. O grupo começou na cidade fluminense, formado por De Leve, Marechal e Castro, e logo incluía integrantes paulistanos, como Kamau e o DJ King, e até um mineiro, o MC Matéria-Prima.
Esse coletivo, anônimo para o grande público, tem um fiel séquito de fãs que conhece o grupo trocando mp3s via internet. De Leve, MC manhoso e desbocado, já lançou dois EPs ("Introduzindo De Leve" e "O Estilo Foda-se") usando a internet como veículo de distribuição, o que lhe valeu o hit underground "Largado".
São pequenas, mas fundamentais mudanças na música pop de hoje, num movimento criativo paralelo às derrocadas da indústria como a música online, a pirataria e as fusões dos grupos de entretenimento com megacorporações de tecnologia. E se considerarmos que aos poucos estão se aproximando do Instituto grupos tão diferentes quanto Los Hermanos e Hurtmold, podemos antever que, além de expandir os horizontes do hip hop, essas conexões podem mudar de vez o rumo da música no Brasil. (AM)


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