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CINEMA
O Festival Internacional do Cinema de Arquivo, que acontece até sexta-feira, tem a televisão como seu tema central
Rio vê filmes inéditos de Godard, Antonioni e Scorsese
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Um Antonioni inédito, um Godard inédito, um Scorsese inédito.
Essa trinca de atrações já seria suficiente para indicar a importância do Recine - Festival Internacional do Cinema de Arquivo, que
acontece de hoje a sexta-feira no
Arquivo Nacional, no Rio. Mas o
material brasileiro da mostra
também é precioso.
Tendo a televisão como tema de
sua quarta edição, o Recine exibirá imagens antigas das TVs Globo, Record, Cultura, TVE e das
extintas Tupi e Excelsior.
Alguns programas permitiram
à organização do festival buscar
uma relação com os destaques internacionais. Como a participação de Glauber Rocha no "Abertura", que a Tupi exibia no final
dos anos 70, será exibida, na sexta,
após um episódio da série "Seis
Vezes Dois", de Jean-Luc Godard.
"São dois "gês" geniais, que revolucionaram a estética cinematográfica e não viraram as costas para a TV, tentando inovar também
nesse meio. Mas a placidez de Godard contrasta com a inquietude
de Glauber", explica Clovis Molinari Jr., idealizador do Recine e
coordenador de documentos audiovisuais e cartográficos do Arquivo Nacional.
"Seis Vezes Dois" é formado
por 12 programas, que Godard e
sua mulher, Anne-Marie Miéville,
fizeram para a TV francesa em
1976. Molinari soube da existência da série graças a uma referência feita pelo filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) em um livro. Por
falta de espaço na grade, só exibirá três capítulos. "Godard trata
muito de educação, entrevistando
professores e mostrando crianças,
e de televisão. Para ele, como para
Deleuze, a TV não informa, não
comunica, mas dá voz de comando. Produz um novo modo de vida, um novo corpo", diz Molinari.
O uso sociopolítico da TV é tema-chave de "Television under
the Swastica", documentário em
que o diretor alemão Michael
Kloft mostra como a então novidade tecnológica funcionava -e
era manipulada- nos anos do
nazismo.
Já "Chung Kuo-Cina", estrela
da noite de abertura do Recine,
nunca foi exibido no Brasil e, até
2004, ainda não fora exibido nem
na China, onde se passa. O cineasta Michelangelo Antonioni teve
autorização para rodar o documentário em 1972 para a estatal
italiana RAI, mas o resultado não
agradou ao regime comunista.
Foram necessários 32 anos e
uma relativa abertura política para acontecer uma sessão na Academia de Cinema de Pequim e o
filme ser ovacionado.
O time de grandes diretores se
fecha com o americano Martin
Scorsese, que concluiu neste ano
um documentário sobre Bob
Dylan, mito da música pop.
A música também se faz presente em programas brasileiros, como nas imagens dos festivais da
canção que integram o especial
"Retrospectiva TV Record" e no
curtinho "Especial Raul Seixas",
que passa às 13h de amanhã.
A política está direta ou indiretamente em boa parte da programação. Amanhã, será exibido um
"Programa Flávio Cavalcanti"
censurado pelos militares, seguido de um "Amaral Netto, o Repórter" sobre a pororoca no rio
Amazonas, exemplo do ufanismo
dos tempos da ditadura.
Já "Subversivos Arrependidos"
foi exibido -mas não produzido- pela Tupi em 1971 e registra
depoimentos de três jovens que
teriam renegado a luta armada.
Ainda há dúvidas se as entrevistas
foram espontâneas ou dadas sob
pressão dos militares.
O Recine ainda tem uma mostra
competitiva, debates e homenagens -neste ano, a Oduvaldo
Vianna Filho, a Lima Duarte e ao
sonoplasta Geraldo José.
Recine
Quando: abertura hoje, às 18h; a
programação completa está no site
www.recine.com.br
Onde: Arquivo Nacional (pça. da República, 173, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/
21/3806-6166)
Quanto: entrada franca
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