São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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CINEMA

O Festival Internacional do Cinema de Arquivo, que acontece até sexta-feira, tem a televisão como seu tema central

Rio vê filmes inéditos de Godard, Antonioni e Scorsese

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Um Antonioni inédito, um Godard inédito, um Scorsese inédito. Essa trinca de atrações já seria suficiente para indicar a importância do Recine - Festival Internacional do Cinema de Arquivo, que acontece de hoje a sexta-feira no Arquivo Nacional, no Rio. Mas o material brasileiro da mostra também é precioso.
Tendo a televisão como tema de sua quarta edição, o Recine exibirá imagens antigas das TVs Globo, Record, Cultura, TVE e das extintas Tupi e Excelsior.
Alguns programas permitiram à organização do festival buscar uma relação com os destaques internacionais. Como a participação de Glauber Rocha no "Abertura", que a Tupi exibia no final dos anos 70, será exibida, na sexta, após um episódio da série "Seis Vezes Dois", de Jean-Luc Godard.
"São dois "gês" geniais, que revolucionaram a estética cinematográfica e não viraram as costas para a TV, tentando inovar também nesse meio. Mas a placidez de Godard contrasta com a inquietude de Glauber", explica Clovis Molinari Jr., idealizador do Recine e coordenador de documentos audiovisuais e cartográficos do Arquivo Nacional.
"Seis Vezes Dois" é formado por 12 programas, que Godard e sua mulher, Anne-Marie Miéville, fizeram para a TV francesa em 1976. Molinari soube da existência da série graças a uma referência feita pelo filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) em um livro. Por falta de espaço na grade, só exibirá três capítulos. "Godard trata muito de educação, entrevistando professores e mostrando crianças, e de televisão. Para ele, como para Deleuze, a TV não informa, não comunica, mas dá voz de comando. Produz um novo modo de vida, um novo corpo", diz Molinari.
O uso sociopolítico da TV é tema-chave de "Television under the Swastica", documentário em que o diretor alemão Michael Kloft mostra como a então novidade tecnológica funcionava -e era manipulada- nos anos do nazismo.
Já "Chung Kuo-Cina", estrela da noite de abertura do Recine, nunca foi exibido no Brasil e, até 2004, ainda não fora exibido nem na China, onde se passa. O cineasta Michelangelo Antonioni teve autorização para rodar o documentário em 1972 para a estatal italiana RAI, mas o resultado não agradou ao regime comunista.
Foram necessários 32 anos e uma relativa abertura política para acontecer uma sessão na Academia de Cinema de Pequim e o filme ser ovacionado.
O time de grandes diretores se fecha com o americano Martin Scorsese, que concluiu neste ano um documentário sobre Bob Dylan, mito da música pop.
A música também se faz presente em programas brasileiros, como nas imagens dos festivais da canção que integram o especial "Retrospectiva TV Record" e no curtinho "Especial Raul Seixas", que passa às 13h de amanhã.
A política está direta ou indiretamente em boa parte da programação. Amanhã, será exibido um "Programa Flávio Cavalcanti" censurado pelos militares, seguido de um "Amaral Netto, o Repórter" sobre a pororoca no rio Amazonas, exemplo do ufanismo dos tempos da ditadura.
Já "Subversivos Arrependidos" foi exibido -mas não produzido- pela Tupi em 1971 e registra depoimentos de três jovens que teriam renegado a luta armada. Ainda há dúvidas se as entrevistas foram espontâneas ou dadas sob pressão dos militares.
O Recine ainda tem uma mostra competitiva, debates e homenagens -neste ano, a Oduvaldo Vianna Filho, a Lima Duarte e ao sonoplasta Geraldo José.


Recine
Quando: abertura hoje, às 18h; a programação completa está no site
www.recine.com.br
Onde: Arquivo Nacional (pça. da República, 173, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/ 21/3806-6166)
Quanto: entrada franca


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