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MÚSICA
Rapper do Fugees apresenta hoje em SP seu primeiro disco-solo, "The Carnival"
Gangsta é passado, diz Wyclef Jean
CAMILO ROCHA
especial para a Folha
Enquanto o gangsta dramático
Puff Daddy azucrina as ondas do
rádio com obviedades, outro rapper, correndo por fora, gravou um
dos melhores álbuns do ano.
Embora você já conheça de cor
os hits "Ready or Not" e "Killing
Me Softly", do grupo de Wyclef
Jean, os Fugees, é bem provável
que não tenha escutado seu primeiro disco-solo, "The Carnival".
É um trabalho elaborado e amplo, cobrindo as influências da vida de Jean: tem de sample dos Bee
Gees até cover de "Guantanamera", com Celia Cruz. É diferente
dos Fugees, embora tenha características em comum, como a economia nos arranjos e o apurado
senso melódico.
Wyclef se apresenta hoje à noite
no clube B.A.S.E, em São Paulo.
Leia a seguir trechos de entrevista
concedida por ele à Folha na última quarta-feira.
Folha - Por que escolheu o Carnaval como tema de seu álbum?
Wyclef Jean - Escolhi o Carnaval porque sou do Haiti, já passei
por Cuba, Miami, até chegar ao
Brooklyn. O Carnaval é minha
biografia, minha vida nas ruas. É
uma metáfora da minha vida.
Folha - Por que decidiu lançar
um álbum-solo?
Jean - Os Fugees venderam 15
milhões de discos ao redor do
mundo. Então é bom manter as
coisas equilibradas. "The Carnival" é somente o próximo estágio.
Ainda é tudo parte do "Refugee
Camp (campo de refugiados). Para
mim é uma maneira de me desenvolver como produtor e músico.
Folha - Você se sente mais livre
trabalhando sozinho?
Jean - Não, eu ainda tenho os
mesmos pestinhas me rodeando,
ainda tenho Pras (membro dos Fugees) e outros amigos dando palpites. Eles tiveram bastante contribuição no meu disco.
Folha - Era muita gente dando
palpite?
Jean - Não, geralmente nas minhas sessões eu tenho um 9mm no
console do estúdio. Na porta tem
uma placa grande dizendo: "Não é
permitida a entrada de pessoas da
indústria musical, do contrário levarão tiro".
Folha - Os outros Fugees também vão lançar discos-solo?
Jean - A Lauryn (Hill) está gravando um álbum agora e Pras
(Prakazrel "Pras" Michel) é o Michael Jackson dos Fugees...
Folha - Como?
Jean - O Pras é um cara muito
engraçado. Você viu o vídeo novo
dele, "Electric Avenue"? É muito
bom. Ele fez para a trilha sonora de
"Money Talks".
Folha - Você sampleou "Stayin'
Alive", dos Bee Gees, uma canção
disco pop feita por brancos. O que
ela significa para você?
Jean - Pode ser uma canção
disco pop branca para você, mas
para mim é aquela música que ouvíamos nos "projects" (conjuntos habitacionais) e todo mundo
dançava. Toda sexta à noite havia
festa e não importava se era Bee
Gees ou Kool & The Gang ou outra
coisa. Eu mantive o título na minha música com o sentido de que
estamos tentando ficar vivos no
gueto, é uma reminiscência desse
período, quando a disco era muito
popular e os negros iam dançar
para esquecer seus problemas.
Folha - Quando os Fugees apareceram, houve esse consenso de
que vocês eram uma renovação no
hip hop. Vocês estavam conscientes disso quando apareceram?
Jean - Não estávamos conscientes disso e sim de que muito
rap lixo do tipo "vou matar essa
pessoa" passou a vender menos. E
nós começamos a ganhar dinheiro
no sentido de que a gravadora começou a dizer: "Bom, esse negócio de gangsta já era e precisamos
achar algo novo para fazer, porque
os Fugees acabaram com a raça de
vocês matadores. Vamos pensar
em algo novo".
Folha - Então você acha que essa
atitude gangsta é passado no rap?
Jean - As pessoas estão mudando, elas não são mais gangstas, são
jogadoras. Um jogador é um cara
sossegado, tem todas as mulheres,
ainda tem uma arma, mas não fica
se exibindo. Mas você sabe que ele
pode te pegar.
Folha - Quando sai o próximo álbum dos Fugees?
Jean - Em 98. "The Predictions
of Nostradamus" é o título provisório, as profecias de Nostradamus são algo muito profundo para
a mente humana. Mas eu não sei
de nada, pois existe outro nome
possível, "Elo Em".
Folha - O que quer dizer isso?
Jean - Não posso dizer e sei que
você não vai descobrir. É isso que
faz esse nome ser sarado. "Elo
Em", o que é isso? Soa arábico.
Show: Wyclef Jean
Onde: B.A.S.E (av. Brigadeiro Luís Antônio,
1.137, tel. 011/606-3244)
Quando: hoje, às 22h
Quanto: de R$ 25 a R$ 30
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