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SHOW CRÍTICA
Melodia despreza hits
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
O ex-maldito Luiz Melodia selou
em dois shows paulistanos segunda-feira e anteontem o momento
de aliança que vive com o mercado: apresentou seu novo CD, "14
Quilates", lançado pela tradicional gravadora EMI, na tradicional
casa de espetáculos Palace.
Bobagem pensar que por isso sua
rebeldia tenha se dissipado. Foi
um espetáculo de estranhamento
-nenhuma das convenções de
showman tradicional se colou à
sua real disposição. Assim, optou
por deixar pouca brecha à habitual
seção "maiores sucessos".
Além de "Ébano", clássico que
regrava no novo CD, só retomou
"Veleiro Azul" (76), "Presente
Cotidiano" (gravada em 73 por
Gal e em 78 por ele), "Ilha de Cuba" (80), "Saco Cheio" (87, quase vinheta incorporada a "Morena
Brasileira"), "Poeta do Morro"
(91) e "Jeito Danado" (95).
Notável nesse pequeno apanhado diluído em profusão de novas
canções é a ausência total do repertório de "Pérola Negra" (73),
até hoje sua própria maldição, pela
via do mito de que fosse seu único
trabalho digno de nota.
Pois Melodia não se fez de rogado. Esnobou um público grosseiro
que só fazia conversar no meio das
canções e, entre elas, clamar por
"Pérola Negra" ou "Magrelinha". Fingiu não ouvir.
Assim, o conhecido efeito sublime de seus agudos se deslocou a
novas -e belas- interpretações.
"Cruel" (de Sérgio Sampaio), a
regravação de "Quase Fui Lhe
Procurar" (de Getúlio Cortes, lançada por Roberto Carlos em 68) e o
rockão "Sub-Anormal" confirmaram-se novas pedras de toque.
Eventualmente, o excesso de baladas incomodou -em especial se
se tratasse de bobeiras como louvar "A Morena da Novela".
Também os arranjos jazzísticos
saturados nos sopros desestabilizaram (como no CD) as virtudes
do artista -se é porque são ruins
mesmo ou porque ousam se fazer
pré-tropicalistas (logo, imediatamente rotuláveis de ultrapassados), é caso de pensar duas vezes.
Sim, o velho pós-tropicalista hoje prefere se fartar dos saberes
pré-tropicalistas, orquestrando
jazz, blues e soul numa só matriz: a
do samba, que dançou furiosamente show afora, com clímax na
bem Black Rio "Morar no Rio",
dissolvida em poderoso batucão.
Para sacramentar o samba, ao final chamou da platéia seu duplo
paulista Itamar Assumpção. Cantaram "Negro Gato" (também de
Getúlio Cortes, também lançada
por Roberto Carlos, em 66, e também gravada por ele, em 80).
O samba no pé foi o teste: Melodia deu de mestre-salas, ciceroneando o samba "paulistês" desengonçado de Itamar. Tudo no
lugar: Melodia deve continuar zelando pelos marginais cariocas,
Itamar olhará pelos paulistas.
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