São Paulo, sábado, 7 de novembro de 1998

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Artista procura incentivar nova geração

especial para a Folha

Os elencos anteriores de Twyla Tharp contaram com bailarinos memoráveis, que cultivavam uma relação visceral com o repertório da coreógrafa. Sarah Rudner, por exemplo, dançou no grupo de Tharp e hoje se destaca como co-autora de "Heartbeat: MB", que Mikhail Baryshnikov apresentará em São Paulo nos dias 14 e 15.
No momento, enquanto a nova companhia não atinge a maturidade artística, Tharp se dedica à criação de uma fundação, onde ela pretende disseminar seu trabalho, além de incentivar novas gerações de bailarinos.
"Está muito difícil fazer dança nos Estados Unidos. Os profissionais são mal compreendidos e o suporte financeiro diminuiu bastante. Com uma fundação, pretendo criar um canal capaz de abrir perspectivas", ela diz.
Sobre o espetáculo que acaba de criar para seu novo grupo, Tharp comenta: "O programa começa com "Heroes', um balé sinfônico dançado por toda a companhia, com música de Philip Glass baseada num disco homônimo de Brian Eno e David Bowie".
Segundo Tharp, o conceito de movimento de "Heroes" representa a posse do solo, a permanência no espaço. Para desafiar esse estado, ela cria movimentos de oposição, que culminam no salto de uma bailarina que tenta transpor um "muro" humano.
"Já em "Sweet Fields' procuro penetrar em vários componentes da religião Shaker. Há o êxtase, a celebração, o luto, a fé. O movimento é conduzido essencialmente pelo chamado "legato' musical. Trata-se de um movimento muito contínuo, que representa a paz e a unidade na vida espiritual dos Shakers."
Para completar, há "Yemayá", peça recente que na temporada brasileira está substituindo "66", obra que compunha o programa original de "Tharp!".
Sobre canções norte-americanas dos anos 30 a 50, "66" refere-se à famosa estrada que nos anos 40 se tornou a principal rota para o oeste americano. Com um estilo que remete a uma das obras mais populares de Tharp, "Nine Sinatra Songs", "66" foi descartada (talvez infelizmente) por causa das sugestões brasileiras de "Yemayá".
Inspirada nos rituais de Santeria, que em Cuba cultuam uma deusa dos oceanos que corresponde à Iemanjá dos iorubás, "Yemayá" usa músicas tradicionais cubanas de percussão, além de composições de Ruben Gonzalez.
Tharp explica que se inspirou em esculturas africanas e hispânicas para coreografar alguns trechos. Embora não narrativa, a peça tem como personagens um homem que idealiza em uma mulher a força sobrenatural da rainha das águas.
"A água como sustentação da vida e o ritmo das ondas inspiram alguns movimentos", diz Tharp. (AFP)



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