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AUDIOVISUAL
Seminário em São Paulo discute modelos de proteção nacional
TV marginaliza cinema, diz Ancine
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Para Gustavo Dahl, presidente
da Ancine (Agência Nacional do
Cinema), a TV é co-responsável
pelas dificuldades enfrentadas
hoje pelo cinema nacional.
"A ausência do cinema brasileiro na TV mudou o panorama. O
cinema nacional ficou marginalizado da própria sociedade", disse
Dahl, se referindo principalmente
à Globo dos anos 70, 80 e 90, antes
da criação da Globo Filmes, durante o 1º Seminário Internacional do Audiovisual: Legislação e
Mercado, realizado de sábado até
ontem em São Paulo.
O seminário, que contou com
palestrantes de vários países, teve
uma tônica nacionalista: a defesa
do cinema nacional contra a hegemonia de Hollywood.
No encontro, falou-se bastante
sobre a Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual,
que substituirá a Ancine), criticou-se a resistência da televisão à
agência (que passará a regulá-la
também) e alertou-se sobre a
pressão que os Estados Unidos
vêm fazendo na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra
países, como a França, que protegem seu cinema nacional.
É da França que vem o modelo
que mais entusiasmou os participantes do seminário, na maioria
produtores e cineastas independentes brasileiros.
Alain Bregamian, diretor do
CNC (Centro Nacional de Cinematografia, que fomenta o cinema francês), disse que o órgão terá neste ano um orçamento de
500 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão), uma cifra astronômica para
os brasileiros -segundo Orlando
Senna, secretário nacional do Audiovisual, o governo do Brasil irá
investir neste ano US$ 54 milhões
(R$ 145 milhões) no audiovisual,
principalmente em cinema.
De acordo com Bregamian, esses recursos vêm, basicamente, da
cobrança de taxa de 11% sobre os
ingressos nas salas de cinema e de
um imposto sobre as TVs (de
5,5% sobre suas receitas, o que deve gerar 308 milhões neste ano).
Bregamian disse que 54% dos
500 milhões arrecadados pelo
CNC em 2004 servirão para subsidiar o cinema francês -que produz cerca de 200 longas por ano.
Americanos não têm acesso aos
subsídios e, para evitar a propaganda de Hollywood, é proibida a
propaganda de filmes em televisão. "O sistema francês beneficia
o produto francês", disse Bregamian. Mas não há cota de tela.
As TVs francesas são obrigadas
ainda a investir na produção de
filmes e a exibir longas-metragens
nacionais. Por lei, têm de exibir
60% de filmes europeus, dos
quais 50% devem ser franceses.
Segundo a Embaixada da França, no ano passado as TVs (sem
contar o Canal+, que é obrigado a
investir mais no cinema do que as
outras redes) difundiram 363 filmes franceses, sendo 22% inéditos. No Brasil, sem contar as TVs
públicas, são exibidos pouco mais
de dez filmes nacionais por ano,
quase todos pela Globo.
A Coréia do Sul mandou um representante ao seminário e expôs
um modelo ainda mais protecionista. O cinema coreano, segundo
o professor Shin-Gil Kang, ocupa
atualmente 50% do mercado da
Coréia. Há uma pesada cota de tela aos exibidores: durante 146 dias
por ano, devem ser exibidos apenas filmes coreanos.
O país produz cerca de 70 longas por ano e subsidia não só a
produção de filmes mas também
a exibição de produtos nacionais
nas salas de cinema.
Na África do Sul também há
subsídio estatal à produção, principalmente, de longas de animação. Representantes do Chile, Colômbia e México relataram que
seus países estão implantando leis
de incentivo ou formas de subsídio ao cinema nacional.
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