São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2004

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AUDIOVISUAL

Seminário em São Paulo discute modelos de proteção nacional

TV marginaliza cinema, diz Ancine

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Para Gustavo Dahl, presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), a TV é co-responsável pelas dificuldades enfrentadas hoje pelo cinema nacional.
"A ausência do cinema brasileiro na TV mudou o panorama. O cinema nacional ficou marginalizado da própria sociedade", disse Dahl, se referindo principalmente à Globo dos anos 70, 80 e 90, antes da criação da Globo Filmes, durante o 1º Seminário Internacional do Audiovisual: Legislação e Mercado, realizado de sábado até ontem em São Paulo.
O seminário, que contou com palestrantes de vários países, teve uma tônica nacionalista: a defesa do cinema nacional contra a hegemonia de Hollywood.
No encontro, falou-se bastante sobre a Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual, que substituirá a Ancine), criticou-se a resistência da televisão à agência (que passará a regulá-la também) e alertou-se sobre a pressão que os Estados Unidos vêm fazendo na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra países, como a França, que protegem seu cinema nacional.
É da França que vem o modelo que mais entusiasmou os participantes do seminário, na maioria produtores e cineastas independentes brasileiros.
Alain Bregamian, diretor do CNC (Centro Nacional de Cinematografia, que fomenta o cinema francês), disse que o órgão terá neste ano um orçamento de 500 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão), uma cifra astronômica para os brasileiros -segundo Orlando Senna, secretário nacional do Audiovisual, o governo do Brasil irá investir neste ano US$ 54 milhões (R$ 145 milhões) no audiovisual, principalmente em cinema.
De acordo com Bregamian, esses recursos vêm, basicamente, da cobrança de taxa de 11% sobre os ingressos nas salas de cinema e de um imposto sobre as TVs (de 5,5% sobre suas receitas, o que deve gerar 308 milhões neste ano).
Bregamian disse que 54% dos 500 milhões arrecadados pelo CNC em 2004 servirão para subsidiar o cinema francês -que produz cerca de 200 longas por ano. Americanos não têm acesso aos subsídios e, para evitar a propaganda de Hollywood, é proibida a propaganda de filmes em televisão. "O sistema francês beneficia o produto francês", disse Bregamian. Mas não há cota de tela.
As TVs francesas são obrigadas ainda a investir na produção de filmes e a exibir longas-metragens nacionais. Por lei, têm de exibir 60% de filmes europeus, dos quais 50% devem ser franceses.
Segundo a Embaixada da França, no ano passado as TVs (sem contar o Canal+, que é obrigado a investir mais no cinema do que as outras redes) difundiram 363 filmes franceses, sendo 22% inéditos. No Brasil, sem contar as TVs públicas, são exibidos pouco mais de dez filmes nacionais por ano, quase todos pela Globo.
A Coréia do Sul mandou um representante ao seminário e expôs um modelo ainda mais protecionista. O cinema coreano, segundo o professor Shin-Gil Kang, ocupa atualmente 50% do mercado da Coréia. Há uma pesada cota de tela aos exibidores: durante 146 dias por ano, devem ser exibidos apenas filmes coreanos.
O país produz cerca de 70 longas por ano e subsidia não só a produção de filmes mas também a exibição de produtos nacionais nas salas de cinema.
Na África do Sul também há subsídio estatal à produção, principalmente, de longas de animação. Representantes do Chile, Colômbia e México relataram que seus países estão implantando leis de incentivo ou formas de subsídio ao cinema nacional.


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