São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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NINA HORTA

As jabuticabas dos leitores

Fica o convite do Dr. Jairo: bateu vontade de comer jabuticaba? Basta telefonar para ele

É SÓ falar numa fruta brasileira que os leitores se acendem e mandam e-mails. E, sortuda que sou, ainda ganho convite para comer jabuticaba.
"A propósito de sua crônica dessa quinta-feira, 30 de novembro. Para deixá-la morrendo de inveja, vou dizer que a minha jabuticabeira não dá frutos apenas em outubro-novembro. Sou do interior das Gerais (Poços de Caldas) e sei que alguns privilegiados conseguiam duas cargas anuais em seus pés. E isso nos animava, enquanto crianças, a mapear a cidade em busca das temporãs. Pular muro desses lugares, em busca de umas pretinhas, era coisa que, enquanto moleques, fazíamos em pequenos bandos, sempre rápidos, com medo de sermos surpreendidos. Mas em certas casas éramos fregueses, com a permissão dos proprietários. Seu Marçal, por exemplo, era um deles, pois a nossos olhos infantis aquilo não era jabuticaba, que são como pequenas bolinhas de gude, mas bolinhas gigantes (também de gude) que existiam naqueles tempos e por isso cobiçadas e vigiadas desde que estavam verdes, pois mereciam ser "visitadas" na época certa.
Jabuticabas enormes, gigantes!
Esqueci-me de dizer que tudo isso era feito apesar de dispormos de uma árvore em casa e dois pés maravilhosos na da avó Olympia...
Moro há 12 anos numa casa no Cambuci, bairro da capital, que tem uma jabuticabeira. Pé pequeno (hoje, talvez, 2,5 m de altura), já produzindo quando me mudei. Coisa pouca, sempre. Talvez umas 600 por vez, no máximo. Mas o curioso eram as muitas cargas da árvore. Impressionado com isso, a partir de janeiro de 2005, comecei a fazer um registro rigoroso de sua produção. Resultado? Até dez cargas distribuídas uniformemente ano afora! Não é conversa de pescador, não! Está tudo registrado. Nem se diga que é o trato especial que lhe damos, pois isso não é feito. É privilégio mesmo, pois a danada ao mesmo tempo que tem jabuticabas no ponto apresenta botões de flor prestes a desabrochar, quando não, simultaneamente, flores, minúsculas jabuticabas e aquelas boas de apanhar!
Isso dito, aí fica o convite: bateu vontade de comer jabuticaba? Não espere outubro-novembro. Basta telefonar para saber se a minha dita cuja está com frutas no ponto e aparecer. E com uma vantagem para os que há tempo não sobem em árvore: o pé é baixo, dá para colher sem subir nele.
Ah, ia me esquecendo! Jabuticaba pra mim e pra molecada com quem andava era também sinônimo de prisão de ventre. Você sabe disso e talvez tenha ficado subetendido quando disse que as comia cuspindo o caroço (para não "entupir", como dizíamos na época), que era o recurso para que isso não acontecesse, mas que nem sempre acatávamos, no afã de chupar muita jabuticaba.
Bem, existia também a simpatia de comer, comer, comer e, depois, ingerir três frutinhas com casca e tudo...
Que certamente não resolvia. Mas também o tormento do intestino preso passava rapidamente quando tornávamos a subir delicadamente no pé, que era para não derrubar nenhuma e poder comê-las todas... E até galgávamos as grimpas das grandes árvores em busca das derradeiras. Sem medo, pois a experiência nos dizia que pau de jabuticabeira, mesmo quando fino, é firme que só, que nem o da goiabeira.
O convite foi pra valer e não mera cortesia. Venha provar no pé, que essa história de comprar jabuticaba na feira ou supermercado não tem a menor graça, e o sabor se perde totalmente, mesmo quando protegidas delicadamente com folhas de bananeira. Por último, a boa notícia: não cobro nenhuma taxa e você fica o tempo que quiser.
Prof. Dr. Antônio Jayro da Fonseca Motta Fagundes" Doutor Jairo, quem disse que não subo em pé de jabuticaba? Abraço agradecido, Nina.


ninahorta@uol.com.br

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