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NINA HORTA
As jabuticabas dos leitores
Fica o convite do Dr. Jairo: bateu vontade de comer jabuticaba? Basta telefonar para ele
É SÓ falar numa fruta brasileira
que os leitores se acendem e
mandam e-mails. E, sortuda
que sou, ainda ganho convite para
comer jabuticaba.
"A propósito de sua crônica dessa
quinta-feira, 30 de novembro.
Para deixá-la morrendo de inveja,
vou dizer que a minha jabuticabeira
não dá frutos apenas em outubro-novembro. Sou do interior das Gerais (Poços de Caldas) e sei que alguns privilegiados conseguiam duas
cargas anuais em seus pés. E isso nos
animava, enquanto crianças, a mapear a cidade em busca das temporãs. Pular muro desses lugares, em
busca de umas pretinhas, era coisa
que, enquanto moleques, fazíamos
em pequenos bandos, sempre rápidos, com medo de sermos surpreendidos. Mas em certas casas éramos
fregueses, com a permissão dos proprietários. Seu Marçal, por exemplo,
era um deles, pois a nossos olhos infantis aquilo não era jabuticaba, que
são como pequenas bolinhas de gude, mas bolinhas gigantes (também
de gude) que existiam naqueles tempos e por isso cobiçadas e vigiadas
desde que estavam verdes, pois mereciam ser "visitadas" na época certa.
Jabuticabas enormes, gigantes!
Esqueci-me de dizer que tudo isso
era feito apesar de dispormos de
uma árvore em casa e dois pés maravilhosos na da avó Olympia...
Moro há 12 anos numa casa no
Cambuci, bairro da capital, que tem
uma jabuticabeira. Pé pequeno (hoje, talvez, 2,5 m de altura), já produzindo quando me mudei. Coisa pouca, sempre. Talvez umas 600 por
vez, no máximo. Mas o curioso eram
as muitas cargas da árvore. Impressionado com isso, a partir de janeiro
de 2005, comecei a fazer um registro
rigoroso de sua produção. Resultado? Até dez cargas distribuídas uniformemente ano afora! Não é conversa de pescador, não! Está tudo registrado. Nem se diga que é o trato
especial que lhe damos, pois isso não
é feito. É privilégio mesmo, pois a
danada ao mesmo tempo que tem
jabuticabas no ponto apresenta botões de flor prestes a desabrochar,
quando não, simultaneamente, flores, minúsculas jabuticabas e aquelas boas de apanhar!
Isso dito, aí fica o convite: bateu
vontade de comer jabuticaba? Não
espere outubro-novembro. Basta
telefonar para saber se a minha dita
cuja está com frutas no ponto e aparecer. E com uma vantagem para os
que há tempo não sobem em árvore:
o pé é baixo, dá para colher sem subir nele.
Ah, ia me esquecendo! Jabuticaba
pra mim e pra molecada com quem
andava era também sinônimo de
prisão de ventre. Você sabe disso e
talvez tenha ficado subetendido
quando disse que as comia cuspindo
o caroço (para não "entupir", como
dizíamos na época), que era o recurso para que isso não acontecesse,
mas que nem sempre acatávamos,
no afã de chupar muita jabuticaba.
Bem, existia também a simpatia de
comer, comer, comer e, depois, ingerir três frutinhas com casca e tudo...
Que certamente não resolvia. Mas
também o tormento do intestino
preso passava rapidamente quando
tornávamos a subir delicadamente
no pé, que era para não derrubar nenhuma e poder comê-las todas... E
até galgávamos as grimpas das grandes árvores em busca das derradeiras. Sem medo, pois a experiência
nos dizia que pau de jabuticabeira,
mesmo quando fino, é firme que só,
que nem o da goiabeira.
O convite foi pra valer e não mera
cortesia. Venha provar no pé, que essa história de comprar jabuticaba na
feira ou supermercado não tem a
menor graça, e o sabor se perde totalmente, mesmo quando protegidas delicadamente com folhas de
bananeira. Por último, a boa notícia:
não cobro nenhuma taxa e você fica
o tempo que quiser.
Prof. Dr. Antônio Jayro da Fonseca Motta Fagundes"
Doutor Jairo, quem disse que não
subo em pé de jabuticaba? Abraço
agradecido, Nina.
ninahorta@uol.com.br
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