São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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"Muitos me disseram que ela se encontrou com Hitler"

A seguir, a escritora Edmonde Charles-Roux levanta a suspeita de que Chanel teria tido uma inclinação pró-Alemanha durante a guerra. "Muitas pessoas, inclusive, me disseram que, quando ela fez sua viagem à Alemanha, foi recebida por Hitler. Mas nunca tive provas disso", diz Charles-Roux, que é autora de "Esquecer Palermo" (Record) e presidente da prestigiosa Academia Goncourt, responsável pelo prêmio literário mais respeitado da França.

 

FOLHA - Como foi a relação de Coco Chanel com o nazista Gunther von Dincklage?
CHARLES-ROUX -
Começou antes da declaração de guerra, em 1939. Não se pode dizer que ele fosse um gigolô. Era muito mais um mundano, que freqüentava a sociedade e era pago pelos alemães para passar informações. Era também muito bonito, efetivamente nascido de mãe inglesa, o que permitia a Chanel dizer que ele era um antinazista, o que nunca foi verdade. Extraordinário nessa relação foi o fato de Chanel jamais ter tido a impressão de que traía, de que fazia algo de mal, de que estava se arriscando demais. A sociedade francesa se horrorizou com o caso.

FOLHA - Chanel teria tido simpatias pelo nazismo nessa época?
CHARLES-ROUX -
Temo que sim, mas nunca tive provas disso. Muitas pessoas, inclusive, me disseram que, quando ela fez sua viagem à Alemanha, foi recebida por Hitler. Mas também nunca tive provas absolutas de que isso tenha acontecido. De fato, creio que ela era menos uma nazista e mais uma pessoa de inclinação pró-Alemanha -o que são coisas diferentes.

FOLHA - A relação nazista abalou muito o prestígio de Chanel, não?
CHARLES-ROUX -
Claro! Não se esqueça que ela ficou exilada da França por mais de dez anos.
Foi esquecida neste período, e aqueles que se lembravam dela recordavam de sua relação alemã. Eu assisti à reabertura da maison Chanel em 1954 e posso dizer que nunca vi a imprensa tão irritada. Nunca tive uma impressão assim na vida. Eu pensei: "Eis uma mulher que é detestada!". Mas Chanel superou tudo isso e se tornou totalmente simpática. Sua primeira coleção, quando reabriu a maison, foi um fracasso. Um jornalista que estava ao meu lado no desfile me disse: "Não são roupas para uma senhora, mas para uma camareira". Era o contrário do que Dior estava fazendo na época. Chanel tomava um pequeno pedaço de algodão, com um quadrado branco e preto, e fazia uma roupa divina.
Ela teve a inteligência de dizer que a França, depois da Segunda Guerra, jamais seria a mesma. E tinha razão. Era um outro país, e na capital deste país havia esta mulher, que já não era mais jovem, indicando um futuro completamente novo.


com VIVIAN WHITEMAN

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