São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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OPINIÃO

"Romeu e Julieta" foi a parceria mais bem-sucedida

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Trupes de teatro não são eternas, mas podem durar.
O Galpão é um dos grupos mais longevos entre aqueles que surgiram no país, no início dos anos 1980, dispostos a reconstruir a cultura teatral depois do desmonte promovido pela ditadura militar.
Criado em Belo Horizonte por jovens artistas que, não encontrando espaço nos teatros comerciais, começavam atuando na rua, marca uma pioneira e exitosa tentativa de descentralizar a pesquisa em artes cênicas do eixo Rio-São Paulo.
Formado essencialmente por atores, desde o princípio o Galpão investiu em projetos com diretores convidados, o que lhes permitiu, nas 18 encenações realizadas pelo grupo, provarem diversos estilos e se testarem em distintas linguagens.
De todas essas parcerias, a mais bem-sucedida foi com Gabriel Villela na adaptação de "Romeu e Julieta", de Shakespeare (1564-1616).
Repleta de mineirices e barroquismos, numa versão ao mesmo tempo popular e sofisticada, feita para espaços abertos, mas adaptável a salas fechadas, caiu como uma luva no reconstruído Globe Theatre de Londres.
Outro marco na trajetória do grupo Galpão foi concretizar na última década, em Belo Horizonte, um ciclo de formação de atores, dramaturgos e encenadores.
Para isso, contou com novas parcerias, como a firmada com o dramaturgo Luiz Alberto de Abreu e o encenador Antônio Araújo, do Teatro da Vertigem, que realizaram inúmeras oficinas nos espaços do Galpão, difundindo em BH a prática do processo colaborativo, estratégia de encenação dominante entre os grupos brasileiros contemporâneos.
Se Belo Horizonte é hoje um dos polos geradores de novos grupos experimentais no Brasil, muito se deve à influência do Galpão, não apenas como parâmetro estético, mas, principalmente, como incubador de procedimentos criativos e estimulador das pesquisas.
Nesse sentido, vale ressaltar a criação, em 2005, de um Centro de Pesquisa e Memória do Teatro no Galpão Cine Horto, o Centro Cultural gerido pelo grupo.
Nenhum outro coletivo brasileiro foi tão longe, ao assumir a tarefa do Estado em preservar a memória teatral de uma cidade.
O grupo Galpão cumpre uma trajetória de sonho para seus criadores. Reaviva uma teatralidade brasileira e se torna um polo de referência no país.


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