São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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Marilena Chaui defende atualidade da escola helenística

Filósofa lança segundo volume da "Introdução à História da Filosofia", em que reavalia o legado de epicuristas, céticos e estoicos

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

Após 16 anos, muita pressão de leitores e alguma cobrança da editora, Marilena Chaui lançou o segundo volume da "Introdução à História da Filosofia".
Se no primeiro livro ela tratou dos pré-socráticos até Aristóteles (séculos 6º a 4º a.C.), agora ela trabalha com as escolas helenísticas (323 a.C. ao século 3º d.C.), período pouco ensinado e associado à decadência da filosofia.
E é contra essa interpretação que Chaui escreve. Batendo de frente com clássicos como Emile Bréhier e Hegel, a professora da USP aponta, logo na introdução, "alguns preconceitos dos historiadores da filosofia" ao tratar das escolas helenísticas.
Não que seja propriamente inovadora sua abordagem sobre epicuristas, céticos e estoicos. Mas ela se filia a uma corrente jovem, que se nutre de novas traduções e trabalhos arqueológicos recentes que permitem reavaliar o período.
Em debate de lançamento do livro, Chaui afirmou que "são os filósofos desse período que definiram aquilo que na nossa cultura se chama filosofia. (...) Vemos a filosofia como uma maneira de ver o mundo e de viver. Isso vem das escolas helenísticas".
Chaui, que diversas vezes repetiu a palavra "entusiasmo" para dizer como se sentia, defendeu a atualidade das escolas helenísticas, que, diz ela, desenvolveram pensamentos focados na ética num mundo que perdia a referência da pólis.
"Eles eram cidadãos da cosmópolis, se pensavam como algo universal. Aconteceu com eles algo que ocorre agora: nós vivemos em um mundo globalizado em que a referência ao Estado nacional se tornou menor."
Em parte como sintoma do relativo "descaso" dos historiadores da filosofia, Chaui disse que gostou de fazer o livro porque "não sabia nada sobre as escolas helenísticas". Segundo ela, foi uma "aventura" que a levou a "estudar muito e aprender muito, situação diferente daquela do primeiro volume".

ESPERA
Heloisa Jahn, responsável pela edição da coleção, coloca a falta de familiaridade de Chaui com o tema na lista de razões pelas quais ela custou a entregar o segundo volume, mas considera inadequada a palavra "demora".
Em primeiro lugar, Chaui publicou mais de 15 livros no intervalo, incluindo o celebrado "A Nervura do Real: Imanência e Liberdade em Espinosa", de 1.240 páginas.
Além disso, Jahn diz que a primeira edição de "Introdução à História da Filosofia", publicada em 1994 pela Brasiliense, "é praticamente um livro diferente" da edição de 2002 do livro, publicada pela Companhia das Letras.
Assim, seriam oito anos de espera, e não 16. Para os leitores, porém, a demora não pode ser relativizada. Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, diz que um leitor ameaçou processar a editora caso o livro não saísse logo.
"Quando isso aconteceu, escrevi pessoalmente para a Chaui", diz Schwarcz. "Mas a editora tem de aceitar o tempo do autor. Não houve pressão, mesmo sendo ela a recordista de atraso." A "Introdução à História da Filosofia" ainda terá mais dois volumes -sobre pensamento medieval e renascentista e sobre a filosofia moderna. Quando serão publicados? "Chaui não trabalha com prazos", diz Jahn.

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA

AUTORA Marilena Chaui
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 46 (392 págs.)


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