São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

Obras prolongam prazer e experiência da sala escura

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Na introdução do livro "As Principais Teorias do Cinema", J. Dudley Andrew pergunta: o que a razão pode acrescentar à experiência? De que forma o conhecimento do cinema altera a percepção de quem o vê? O próprio autor conclui: "O conhecimento deveria ser relacionado à experiência em vez de se tornar um substituto dela (...). Aqueles que estudam o cinema têm a chance de ver os filmes de modo mais completo e mais intenso."
Pois bem: "As Principais Teorias do Cinema" e um punhado de outros livros capazes de prolongar a experiência da sala escura estão chegando às livrarias.
De novembro para cá, o mercado editorial brasileiro investiu em uma dezena de livros sobre cinema. Alguns deles, como o próprio "As Principais Teorias do Cinema" e os volumes que reúnem artigos de Eisenstein: "A Forma do Filme" e "O Sentido do Filme", são obras genéricas que tratam da sétima arte em visão ampla.
Outros, como "Shane", de Paulo Perdigão, "O Anjo Exterminador", de Braulio Tavares, "No Rastro da Pantera Cor-de-Rosa", de Pedro Karp Vasquez, ou ainda o saboroso "Woody Allen", de Neusa Barbosa, analisam filmes ou autores específicos.
A volta dos livros teóricos vai preencher lacunas de estudantes e cinéfilos mais jovens. Em "As Principais Teorias do Cinema", por exemplo, eles terão à disposição um resumo do que se pensou sobre a sétima arte de seu surgimento até o fim da década de 70. Dudley Andrew fornece ao leitor uma base para escolher no que se aprofundar mais tarde no estudo das teorias sobre cinema.
Mas os escritos de Eisenstein, com o perdão do clichê, são os tomos essenciais na biblioteca de qualquer amante da sétima arte. Eisenstein não foi apenas um dos gênios da prática cinematográfica, mas um pensador do cinema.
É essencial ler Eisenstein diretamente na fonte para compreender a dimensão de sua defesa da montagem e do seu papel na construção de um filme. O primeiro volume, "A Forma do Filme", reúne ensaios escritos em 1929, ainda sob o entusiasmo político da revolução de 1917. "O Sentido do Filme" junta artigos mais tardios, já impregnados por certa desilusão política.
Dos lançamentos concentrados em uma única obra ou diretor merece destaque o "Shane", de Paulo Perdigão, um exemplo do esforço de prolongar o prazer de um filme. Perdigão é um notório apaixonado pelo western de George Stevens. Ele estudou obsessivamente seus meandros, mas foi muito além, transformando sua paixão em uma obra de solidez e análise. Ler "Shane" na versão de Perdigão é o prolongamento de um prazer estético, como toda boa reflexão sobre a estética deveria ser.



AS PRINCIPAIS TEORIAS DO CINEMA. Autor: James Andrew Dudley. Editora: Jorge Zahar. Quanto: R$ 35,50 (272 pág.)

A FORMA DO FILME. Autor: Sergei Eisenstein. Editora: Jorge Zahar. Quanto: 29,50 (228 pág)

O SENTIDO DO FILME. Autor: Sergei Eisenstein. Editora: Jorge Zahar. Quanto: R$ 24,50 (148 pág.)

SHANE. Autor: Paulo Perdigão. Editora: Rocco. Quanto: R$ 25,00 (184 pág.)

O ANJO EXTERMINADOR. Autor: Braulio Tavares. Editora: Rocco. Quanto: R$ 25,00 (185 pág.)

NO RASTRO DA PANTERA COR-DE-ROSA. Autor: Pedro Karp Vasquez. Quanto: R$ 25,00 (164 pág.)

WOODY ALLEN. Autor: Neusa Barbosa. Editora: Papagaio. Quanto: R$ 30,00 (212 pág.)



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