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ANÁLISE
Na TV, 2002 foi o ano do "reality show"
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A programação da TV em
2002 ficou muito aquém do
desejo de mudança que empolga
o país. Um olhar retrospectivo sugere que fórmulas que vigoraram
nas últimas décadas se esgotaram.
É o caso da novela.
O folhetim eletrônico dominou
enquanto era possível mobilizar a
imaginação nacional em torno de
dramas com referência histórica e
âncora na conjuntura. "O Clone"
(Globo) se destacou como "novela de intervenção" no drama das
drogas. "Betty, a Feia" (Rede
TV!), versão "trash", marca, com
precisão quase cômica, o anacronismo do legado.
2002 foi dos "realities shows",
formato que pode ser considerado como parente da novela, versão diluída do gênero -novela de
atores que representam a si próprios, novela sem autor.
O ano se iniciou sob o signo da
disputa entre "Big Brother Brasil"
e "Casa dos Artistas" e teve direito
a variantes como "Fama" e
"Popstars". Houve momentos de
repercussão para além do público
de milhares de cidadãos participantes em potencial. Nada que
justifique o investimento nessas
gincanas fúteis regadas a romance
forçado e fofoca eliminatória.
Tampouco se justifica a opção
da TV Cultura por gêneros nos
quais suas concorrentes são mestres. Vale lembrar que os melhores índices de audiência da emissora foram alcançados com programas que se distinguiram pela
originalidade.
Seriados enlatados exibidos por
canais de TV a cabo ganham alguma preferência, insuficiente para
viabilizar o setor endividado.
Há alguns indícios de novidade.
Experiências como a de "Os Normais" sugerem que seriados nacionais podem se tornar uma alternativa ao desgaste da novela. O
programa de poucos personagens, gravações quase que só em
estúdio, feito com tecnologia digital, está calcado, como o seu antecessor, em textos autorais.
O formato, flexível, pode vir a
ser uma porta de entrada para a
produção independente. Se as
emissoras decidirem investir. "Cidade dos Homens" e "A Turma
do Gueto" são exemplos sintonizados com a atual diversificação
de representações do Brasil.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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