|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Ele foi um resistente", diz intérprete
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A imagem do mundo como um
moinho que tritura sonhos retomada pelo samba-enredo de Paulinho da Viola e Hermínio Bello
de Carvalho encerra certo pendor
melancólico característico da
obra de Cartola.
Angenor de Oliveira (de)cantou
como poucos a vida prosaica e os
infortúnios do coração, em clássicos da música popular como "As
Rosas Não Falam", "Alegria",
"Alvorada" e "O Mundo é um
Moinho".
"Ele foi um grande resistente",
avalia Flávio Bauraqui, que vem
de montagens como "Elis, Estrela
do Brasil" (em que interpretava
Jair Rodrigues), "Clara - Brasil
Mestiço" e "Atlântida - O Reino
da Chanchada", todos musicais,
embora negue qualquer predileção pelo gênero.
"O Cartola era muito determinado e tinha grande talento", diz
o ator. Cartola concluiu só o curso
primário. Abandonou os estudos
após a morte da mãe, aos 15 anos.
"Ele lia muito; daí vem o lado refinado e poético de sua obra."
Embora tão associado à Mangueira (escola que ajudou a fundar em 1929, a partir da união de
vários blocos existentes no morro, entre os quais o dos Arengueiros, criado com Carlos Cachaça,
seu constante parceiro), Cartola
nasceu no bairro do Catete e morou por três anos nas Laranjeiras.
"Obrigado, Cartola!" refaz a trilha ora ascendente ora errante do
compositor, iniciado no mundo
da música pelo pai, ao cavaquinho, e carimbado com a alcunha
que o acompanhou pela vida por
conta do chapéu que usava na juventude para proteger-lhe a cabeça, quando pedreiro.
"A relação dele com a Mangueira é uma espécie de comissão de
frente, um abre-alas para o enredo", diz o diretor, Vicente Maiolino, 49. "Há um tom naïf no texto
identificável com o espírito da
Mangueira mais antiga e ingênua", conta. "Mas sem deixar de
lado certa sujeira cênica que o
aproxima da vida."
A duplicidade de personagens a
cargo de Bauraqui é resolvida
com figurinos e recursos vocais.
"Bento tem uma voz e Cartola,
outra", diz o diretor. "Mesmo
com tons diferentes, Flávio busca
uma aproximação; o resultado,
emocionalmente, é impressionante."
(IV)
Texto Anterior: O samba Próximo Texto: "Peças Precoces": Despretensões de Roberto Athayde elucidam seu maior sucesso Índice
|