São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011 |
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livros CRÍTICA POESIA Schmidt comprova força do modernismo até ao negá-lo Poesia do autor soa modernista mesmo quando contradiz Oswald e Mário NOEMI JAFFE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O modernismo brasileiro é tão múltiplo e surpreendente que consegue conter nomes como Graça Aranha e Oswald de Andrade, de um lado, ou Plínio Salgado e Manuel Bandeira, de outro. Mas essa diversidade está diretamente relacionada a um tardo-simbolismo, ainda forte na década de 20, à dicção francesa que ainda dominava as artes e, sobretudo, à sobreposição de vozes políticas e estéticas num país ainda oligárquico, mas que começava a conhecer a modernidade. Considerações como essas são necessárias para compreender a presença e relativa importância da poesia estranhamente caudalosa e anacrônica de Augusto Frederico Schmidt (1906-1965). ABASTECER DE ÁGUA O crítico e professor Ivan Marques, organizador da coletânea, já nos adverte no ótimo prefácio, lembrando a observação de Carlos Drummond de Andrade: "O poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal". É fato. "Partir! Sim, partir!"; "Sou a última flor de uma árvore infeliz/ que o vento rude desprendeu"; "Para onde vai, qual o destino da Beleza?" e inúmeros outros versos com imagens de vaguidão, eternidade, brumas, distâncias, mulheres impossíveis e uma indecisão constante entre o desejo de fugir e o desejo de ficar, provocam mesmo uma sensação de transbordamento e certo déjà-vu. Mesmo assim, a força do modernismo transparece até em poemas que parecem querer negá-lo. Como soa modernista um poema que em tudo contradiz a vontade de Oswald e de Mário em reencontrar o Brasil: "Não quero mais o amor,/ Nem mais quero cantar a minha terra./Me perco neste mundo./Não quero mais o Brasil/ Não quero mais geografia/ Nem pitoresco". O ritmo desigual, a coloquialidade, a repetição do "não quero" afirmam exatamente o que os versos dizem negar. E da mesma forma como é possível ouvir Castro Alves em versos como "Que medos sombrios! Castigos medonhos!/ Que medos tamanhos sentiam então!". DRUMMOND E BANDEIRA Também se escutam poetas, como o próprio Drummond, em "A poesia fugiu do mundo./O amor fugiu do mundo". Ou Bandeira, num poema em que se narra a queda de um passarinho, que "(...) ficou um tempinho tremendo./Depois morreu, com o bico aberto". Afinal, não foi só dos grandes nomes que se construiu a história longa e complexa do modernismo brasileiro, e a desigualdade criativa de poetas como Augusto Frederico Schmidt, quando lida de maneira crítica e contextual, permite compreender melhor o rosto extremamente confuso da modernidade brasileira. MELHORES POEMAS AUTOR Augusto Frederico Schmidt EDITORA Global QUANTO R$ 36 (252 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Raio-X: Andrea Matarazzo Próximo Texto: Painel das Letras: Saraiva quer mais leitores Índice | Comunicar Erros |
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