São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011

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CRÍTICA POESIA

"Poemóbiles" relança experimentos de vanguarda poética

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

O relançamento de "Poemóbiles", de Augusto de Campos e Julio Plaza, oferece uma feliz e inesperada oportunidade para que se revisite -ou conheça- uma das mais encantadoras experiências filiadas ao ambiente de vanguarda que sacudiu a poesia e a cultura brasileiras na segunda metade do século passado.
O livro, uma espécie de caixa branca, reúne uma dúzia de poemas-objeto, que têm como base estruturas de papel cartonado que se abrem e fecham para projetar formas tridimensionais móveis, no formato "pop-up".
Iniciado no final dos anos 1960 e editado pela primeira vez em 1974, "Poemóbiles" concentra, de maneira imaginosa, lúdica e provocativa, algumas das principais características da poética "de campos e espaços", que se desdobrou do movimento da poesia concreta, lançado por um grupo de jovens paulistas na década de 1950.
Nas palavras de Augusto, tratava-se de "transpor os limites tradicionais que amarravam a poesia ao verso e este ao livro". Desenvolveu-se, com esse programa, uma sintaxe gráfico-espacial, não-discursiva, que procurava atritar o verbal e o não-verbal, na direção do que o poeta chama de uma poesia "entre" -interdisciplinar.
Qualquer semelhança com experiências poéticas da era das tecnologias digitais não é mera coincidência.
Foi em 1968 que Augusto conheceu o artista espanhol Julio Plaza, recentemente chegado ao Brasil. Estava ele envolvido com o projeto de um "livro", intitulado "Objetos", para ser publicado em abril de 1969, com tiragem de cem exemplares. Era um álbum de serigrafias "pop up", com impressão nas cores azul, vermelho e amarelo.
Convidado a escrever uma apresentação crítica para acompanhar o trabalho, Augusto recebeu de Julio uma daquelas estruturas, sobre a qual se imprimiria o texto.
Observando e convivendo mais de perto com a "página-objeto" em branco, ocorreu ao poeta mudar os planos e associá-la à poesia. Foi o que fez, criando o poema "Abre" e sua versão em inglês, "Open" -os primeiros "poemóbiles", como os batizou.
Poeta e artista logo passaram a trabalhar juntos. Julio fornecia maquetes, com formas diversas, e Augusto as utilizava como matrizes para aplicar os textos poéticos, criados especialmente para cada uma delas. Só dois poemas existiam previamente -"Viva Vaia" e "Lixo", escolhidos por Julio, que decidiu criar objetos para eles.
Lançado com tiragem de mil exemplares, o livro veio a ser reeditado em 1984, pela Brasiliense -e agora ressurge pela Demônio Negro.
A dupla desenvolveria posteriormente outros trabalhos, entre os quais a histórica "Caixa Preta". O relançamento de "Poemóbiles" é também uma chance de chamar a atenção para esse artista, morto em 2003, cuja obra ainda está por merecer a devida divulgação.

POEMÓBILES

AUTOR Augusto de Campos e Julio Plaza
EDITORA Demônio Negro
QUANTO R$ 90
AVALIAÇÃO ótimo


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