São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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FILMES

TV PAGA

Martin Scorsese desencanta os homens da máfia

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

O tempo que os mafiosos de "Os Bons Companheiros" dedicam à comida e ao ato de cozinhar é quase cômica. Afinal, o que fazem aqueles criminosos, mais associados ao vermelho do sangue do que ao vermelho do molho de tomate, cortando alho ou preparando uma almôndega?
O filme acompanha 30 anos da amizade entre três amigos criminosos (Ray Liotta, Robert De Niro e Joe Pesci) e o nascimento, ascensão e queda de um estilo de vida.
Esses anti-heróis de Martin Scorsese são quase pessoas comuns, "gente como a gente", guiados unicamente pelos instintos básicos. Não é de se estranhar a insistente combinação do filme: vida, morte, luxúria, gula e culpa.
É como se, ao mostrá-los cozinhando, Scorsese quisesse nos mostrar como essa máfia de quinta categoria não tem nenhum glamour. E a seqüência primorosa que mostra um dia na fase já decadente de Liotta, em que divide-se entre a venda de drogas, a fuga da polícia, e o preparo de um molho de tomate, não deixa mentir.
No cinema, é muito fácil criar um cenário romantizado da máfia. De um lado há essa espécie de super-homem, acima do bem e do mal, que decide a vida e morte de pessoas. Ao mesmo tempo, filmes, como "O Poderoso Chefão", mostram um universo que tem sua grandeza peculiar, regido por rígidas leis e códigos morais.
Scorsese vai mais embaixo. O que interessa para ele é a máfia guiada pela demência, pelo "salve-se quem puder". Não há rastros da tal nobreza idealizada.
Da inocência, passando pelo desvirtuamento causado pelo tráfico de cocaína, até a queda nos anos 80, ele nos lembra o quão perto a máfia e seus pecados estão de nós. Ela está perto, com a máfia dos traficantes que se abrigam em favelas e presídios. Está mais próxima ainda no desejo vil pelo poder, da cobiça, nas pequenas traições que revelam-se gigantescas, dos altos escalões do poder oficial.
São todos, no final das contas, bons companheiros, que adoram preparar uma bela macarronada, comprar algum badulaque supérfluo quando sobra dinheiro e que saem para beber com os amigos.


OS BONS COMPANHEIROS. Quando: hoje, às 19h, no TNT.

TV ABERTA

"E o Sangue Semeou a Terra" revolve conflitos

O Quinto Elemento
Globo, 12h45.

(The Fifth Element). EUA/França, 97, 100 min. Direção: Luc Besson. Com Bruce Willis, Milla Jovovich. Desde sempre, o francês Besson alimentou o sonho de ser americano, que se realizou, ou quase, nesta produção ambientada no século 23, em que a vida está prestes a ser destruída por forças malignas. Só um quinto elemento, que se somará aos quatro já conhecidos (terra, ar, fogo, água) poderá salvar-nos. E esse elemento atende pelo nome de Milla Jovovich. Em suma, tenta ser americano, mas não é. Também não é francês. Não é nada. Resta-lhe, essencialmente, a boa produção.

Maior Que o Ódio
Cultura, 15h30

Brasil, 51, 100 min. Direção: José Carlos Burle. Com Anselmo Duarte, Jorge Dória. Dois amigos de infância separam-se ao longo da vida, experimentam até mesmo o ódio mútuo, mas a amizade se mostrará ainda maior, como bem diz o título. Cauções: Burle era, além de bom diretor, sujeito muito inteligente; o roteiro é de Alinor Azevedo, uma lenda da especialidade. Estamos, no mais, no setor de raridades da Atlântida: este é um desses filmes difíceis de encontrar e, talvez, a descobrir. P&B.

Um Agente Muito Trapalhão
Record, 18h

(Leonard Part 6). EUA, 87, 85 min. Direção: Paul Weiland. Com Bill Cosby, Tom Courtenay. Detetive atrapalhado investiga uma ecologista que domina a mente dos animais. Bill Cosby tem boa clientela de fãs mais por sua simpatia do que pelo talento.

O Fio da Suspeita
Bandeirantes, 20h30

(Jagged Edge). EUA, 85, 105 min. Direção: Richard Marquand. Com Glenn Close, Jeff Bridges. Advogada apaixona-se por seu sedutor cliente, aliás acusado de ter assassinado a própria mulher. Pode-se qualificar tudo isso de ambigüidade. Ou, com menos pompa e mais apropriadamente, de lengalenga.

O Especialista
SBT, 20h30

(The Specialist). EUA, 94, 90 min. Direção: Luis Llosa. Com Sylvester Stallone, Sharon Stone. Militar especialista em bombas acaba vitimando acidentalmente um inocente em operação na Colômbia, o que o deixa perturbado. Depois, ele é contratado por Sharon Stone para uma vingança contra a máfia cubana, chefiada pelo assassino de seus pais.

O Justiceiro
Globo, 23h40.

(The Punisher). EUA/Austrália, 89, 92 min. Direção: Mark Goldblatt. Com Dolph Lundgren, Louis Gossett Jr. Policial (Lundgren) que tem a mulher e o filho assassinados persegue sem complacência os mafiosos responsáveis pelo ocorrido. O filme é baseado em personagem de HQ.

E o Sangue Semeou a Terra
Bandeirantes, 0h.

(Bend of the River). EUA, 52, 91 min. Direção: Anthony Mann. Com James Stewart, Arthur Kennedy. Stewart, ex-bandido, hoje guia de caravanas, leva um grupo de colonos até o Oregon. A ele junta-se outro fora-da-lei, não tão ex assim (Kennedy), que será pivô dos conflitos que ocorrerão a partir daí. É assim o homem do Oeste, segundo Mann: um ex-bandoleiro que busca se integrar à vida da comunidade. Esse é o eixo deste filme magnífico, para usar um eufemismo.
(INÁCIO ARAUJO e PAULO SANTOS LIMA)


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