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ANALISANDO UM MESTRE
Rodrigues construiu identidade brasileira
"É um pioneiro", dizem designers
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Pioneiro. Essa é a qualificação mais citada por designers,
teóricos e professores da área
quando se referem a Sergio
Rodrigues.
"Com o Tenreiro, o considero pioneiro do design nacional. Ele foi precursor na construção de um mobiliário que
acompanhou a modernidade
da arquitetura brasileira dos
anos 50 e 60", afirma a designer Claudia Moreira Salles,
uma das preferidas de Rodrigues entre as gerações mais recentes de profissionais.
Rodrigues concorda com a
avaliação. "A arquitetura brasileira era muito considerada
no exterior, elogiava-se muito
Lucio Costa, Oscar Niemeyer,
Henrique Mindlin, Affonso
Reidy, Olavo Redig de Campos. Mas em projetos deles, o
interior não tinha móveis que
possuíssem uma identidade
brasileira moderna; eram importados ou copiados. Como
desde cedo tive ligação com o
desenho do móvel, a madeira
com que era feita o móvel, a
feitura do móvel, o cheiro da
cola e dos vernizes, passei então a desenhá-los", diz.
"A "Poltrona Mole", seu projeto mais importante, tinha
marcas muito fortes, como o
desenho dos pés, grossos. As
técnicas construtivas e a improvisação de Rodrigues conferiram a ela uma identidade
efetivamente brasileira", avalia
Moreira Salles.
Resgate crítico
A crítica de design e diretora
do Museu da Casa Brasileira,
Adélia Borges, acredita que a
recente valorização do design
de Sergio Rodrigues se insere
em um movimento mais amplo . "Sinto uma curiosidade
no exterior muito grande pelo
Brasil, inclusive pelo design,
também pelo sucesso dos irmãos Campana, que são chamados de "modernos tropicais'", afirma ela.
"Depois da recente onda do
art déco, a produção dos anos
50 e início dos 60 de design foi
muito valorizada, principalmente dos escandinavos. Houve uma saturação deles, e aí o
foco caiu no Brasil, que tem
uma produção que é pouco conhecida lá fora", avalia.
Para Borges, o design de Rodrigues foi revolucionário em
sua época e é uma evolução em
relação ao que produziram nomes como Gregori Warchavchik e Flavio de Carvalho anos
antes do carioca. "Eles foram
muito importantes, mas, de
certa forma, "transplantaram"
para cá o que as vanguardas
européias faziam."
O designer e professor da Esdi (Escola Superior de Design
Industrial) Freddy Van Camp,
que trabalhou na Oca (empresa de mobiliário criada por Rodrigues) logo após a saída do
mestre, lembra que o designer
dizia que sua produção tinha
um "sentar à carioca" e um
"sentar à paulista".
"O lado carioca seria representado pela "Mole" -mais generoso e relaxado; você se joga
na poltrona. O paulista seria
sua produção menos informal,
que foi para o Itamaraty, por
exemplo", diz ele.
Van Camp destaca a importância cultural da Oca em sua
fundação, em 1955, no bairro
de Ipanema. "Era uma mistura
de loja, galeria de arte e estúdio, que em suas inaugurações
de exposições invadia a rua e
fazia da praça General Osório
uma festa."
(MARIO GIOIA)
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