RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há sempre algum mistério na vida de qualquer personagem histórico. Ninguém é transparente, nem há provas e documentos sobre absolutamente tudo. Esta série, "Revelações", dificilmente vai trazer alguma novidade bombástica. Mas a edição bem-feita dos fatos consegue dar um ar de mistério mesmo para sujeitos que tiveram sua vida bem devassada, como o piloto americano Charles Lindbergh (1902-1974).
É adequado que ele seja tema do primeiro episódio. Lindbergh foi um dos primeiros heróis da cultura de massa do século 20, mas suas atitudes desde que se tornou famoso contribuíram para colocá-lo em outro panteão, o dos anti-heróis.
A fama surgiu graças a um feito que durou 33 horas e meia. Ele foi o primeiro a voar de Nova York para Paris sem escala, em 1927 (o primeiro vôo transatlântico sem escalas fora feito por ingleses em 1919).
O vôo fez dele um herói popular, que atraía multidões onde passava. Despertou simpatia mundial ao ter seu primeiro filho seqüestrado e assassinado. A fama fez com que tanto as investigações como o julgamento de apenas um dos seqüestradores fosse um processo mais de vingança coletiva do que propriamente judicial.
Depois a fama foi ladeira abaixo. Lindbergh defendia a eugenia e fazia declarações racistas, tornou-se íntimo e admirador de nazistas. Foi uma espécie de "espião" para as forças armadas dos EUA ao visitar o complexo aeronáutico alemão e fazer relatórios detalhados.
Os alemães passaram uma falsa imagem de poderio a ele. Seus relatos alarmantes contribuíram também para o apaziguamento de Adolf Hitler feito pelos líderes britânicos e franceses.
Lindbergh defendeu ardorosamente que os EUA não deveriam se envolver na Segunda Guerra. O ataque japonês à base americana de Pearl Harbor sepultou o isolacionismo e a reputação do homem que foi um grande aviador, mas desastroso em política e em relacionamentos pessoais.