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Crítica
Chaplin tira graça da figura de um ditador
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ditadores não têm graça.
Com a gloriosa exceção, claro,
de Charles Chaplin, "O Grande Ditador" (Telecine Cult,
19h45). Todos sabemos que seu
modelo era Hitler. Há quem diga que Carlitos, na verdade, foi
o modelo de Hitler.
Mas podemos tentar diferente. E se não existisse Hitler,
e se tivéssemos de pensar no
ditador de Chaplin por si mesmo? Por um lado, isso parece
impossível: quando faz um discurso, os trejeitos e a maneira
de falar lembram o "Fuhrer", a
quem tinha intenção, explicitamente, ridicularizar.
Há momentos, no entanto,
em que as duas imagens se distanciam. Um momento inesquecível: a brincadeira do ditador com o globo terrestre. Lance só ao alcance de um gênio.
A bola é leve, o ditador a atira
para o alto, ela flutua suave, à
sua disposição, pronta a receber outro peteleco, conforme à
vontade de seu senhor. Hitler
não pensaria em nada tão doce,
nem por brincadeira: ali é Chaplin, por inteiro.
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