São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Crítica

Beyoncé é todas ao mesmo tempo, do escracho à Motown

Cantora reúne voz potente, canções empolgantes e estética apurada sobre o palco

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Quantas cantoras passaram anteontem pelo Morumbi? Em duas horas de show, o palco montado no estádio foi ocupado por uma cantora de música pop festiva, uma cantora de R&B, uma cantora de hip hop, uma cantora de baladas. Bem, em frente a 60 mil pessoas, a noite foi iniciada por Ivete Sangalo. Mas, logo depois da apresentação da principal popstar do Brasil, apareceu uma norte-americana que consegue sintetizar a voz e o espírito de vários nomes do pop.
Com apenas 28 anos, Beyoncé Knowles é todas ao mesmo tempo. Possui o escracho meticulosamente estudado de Madonna, a energia pop de Britney Spears, a antena globalizada de M.I.A., a habilidade vocal das grandes cantoras negras dos EUA e também (mas tudo bem) a cafonice de uma Whitney Houston, por exemplo.
Mas Beyoncé não é apenas uma cantora. É uma performer -e das boas. Dança muito bem; movimenta-se com desenvoltura, fazendo com que um palco gigantesco pareça uma pequena sala; oferece mais do que canções, mas um espetáculo com efeitos visuais diversos e apuro estético (sua banda é formada apenas por mulheres; os bailarinos são excelentes). Por isso Beyoncé atinge público tão grande e tão diverso.

Ousada
E ela é ousada. Uns 90% dos artistas pop dariam as cordas vocais por uma música como "Crazy in Love", que alia um refrão empolgante e uma melodia com um bom gosto contemporâneo. Mas Beyoncé queima "Crazy in Love" logo de cara, após tomar o palco às 22h20.
E com a faixa seguinte, "Naughty Girl", vemos uma cantora enérgica, global, pop. Ela é Madonna, é M.I.A.
Beyoncé troca de roupa (sai o maiô dourado, entra um maiô branco e uma capa da mesma cor). É a hora das baladas e, com o telão exibindo um mar azul, temos o "momento Iemanjá" do show. Beyoncé encarna uma Whitney Houston, e ainda bem que não dura mais do que três músicas.
Então vem a parte "urban", com dois rádios gigantes decorando o palco. No telão, vemos Beyoncé bem criança, cantando e dançando. Boa ideia.

Sexy
Em canções dançantes, como "Radio" e "Ego", a cantora mostra que está bem à frente de Britney e cia. Provoca meninos (e meninas) com uma ingenuidade extremamente sexy. E, além disso, ela solta a voz.
Em um minipalco colocado no meio da plateia, Beyoncé, sozinha, canta à capela. Mesmo não tendo aprendido a cantar nos corais de igreja, como suas antecessoras, ela revela que não dá as costas à tradição da black music. Beyoncé é Diana Ross, é Motown.
Há espaço para um medley de canções de sua antiga banda, Destiny's Child, e para chacoalhar em "Video Phone" e "Say My Name". O show está para acabar, e nos telões vemos alguns dos milhares de vídeos jogados no YouTube com fãs imitando a coreografia do clipe de "Single Ladies" -nem Barack Obama ficou imune à canção.
A balada "Halo", a música mais ouvida das rádios brasileiras em 2009, é dedicada a Michael Jackson, outra influência. "Houve apenas um Michael Jackson", diz Beyoncé ao microfone. E Beyoncé? Haverá quantas?



BEYONCÉ

Avaliação: ótimo




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