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ARTES PLÁSTICAS
Exposição reúne obras de 11 jovens expoentes da produção pernambucana até dia 7 de março no Mamam
Recife exibe novos valores do Nordeste
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Recife
Centenas de pernilongos presos
em uma caixa de acrílico. Suas larvas passeiam em vasos de laboratório. Insetos mortos são alfinetados e jazem em um pequeno aparador. Junto desses animais asquerosos, textos escritos em ovos (de
galinha) ou gravados em CD.
As idéias fervem na cabeça de
Flávio Emmanoel, selecionado na
coletiva "Pernambuco 2000-1 - Arte Contemporânea", que inaugurou a programação 99 do Museu
de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), em Recife. Emmanoel está na mesma encruzilhada de grande parte da arte brasileira: decidir entre o regional e o cosmopolita, conciliá-los, virar as costas e olhar para EUA ou Europa.
"Optei por artistas que têm um
cuidado artesanal, mas também
denunciam uma nova cena local. O
museu é um espaço aberto à arte
contemporânea e já motivou a
criação de um movimento de mercado na região. Mesmo os equívocos daqui impressionam pela ousadia dos artistas", disse Marcos
Lontra, diretor do Mamam.
Emmanoel, músico egresso do
mangue beat, é um paradigma disso. Ele apresenta um fragmento de
sua ficção "Teleguiados", em que
"hospedeiros" e "raptores" se debatem na disputa pela criação.
"Trata-se de um alerta contra a
manipulação da criação pela modernidade, algo que me assusta
muito", diz. O artista se alimenta
de informações de literatura, tecnologia e meio ambiente para criar
um experimento plástico instigante e desconcertante.
Outro destaque é Oriana Duarte,
que construiu um microssistema
com anzóis, vidro, carbono, pedras e talheres retorcidos. Os dois
últimos itens remetem a outro trabalho da artista, a performance itinerante em que ela bebeu sopa de
pedra em capitais brasileiras. A
nova obra ("Dos Heteróclitos") retira seu nome do termo grego "heteróklitos" (algo que desvia dos
princípios ou normas da arte) e sugere a criação de idéias em meios
avessos, em que predomina o caos.
Mais ortodoxo é Alexandre Nóbrega, desenhista e pintor obsessivo e compulsivo que trabalha apenas com matizes de preto e branco
sobre papel. Usa carvão, pigmento, betume, tinta, cal e toda sorte
de materiais para criar imagens
impactantes, inseridas em campos
que se dividem entre o figurativo
(torres, escadas, tramas) e o abstrato (formas geométricas ou campos saturados de cor).
As esculturas de Marcelo Silveira
e Ismael Portela evidenciam a tradição artesanal do Estado. "Parto
do caos, elimino sobras e chego à
ordem", disse Silveira ao caracterizar seus móbiles, construídos com
restos de madeira unidos por articulações evidentes (referência ao
artesanato de brinquedos).
Também lúdico é o trabalho de
Portela, que construiu com dois tipos de madeira um símbolo do infinito que é interrompido ao meio
por um espelho. De um lado, uma
madeira mais escura. Do outro,
uma mais clara. Perverso, o espelho ilude o espectador que, ao circular em torno da obra, percebe
que ele esconde o que é real e exibe
o que é virtual. Portela faz pequenos truques com as mãos.
Ainda embrionária está a pesquisa de Carlos Mélo, que procura refletir aspectos existenciais do homem a partir da observação de fenômenos religiosos. Mistura vídeo, fotografia, objetos, instalação,
mas sem uma amarração consistente. Também não funciona a instalação em argila de Marcelo Coutinho, idéia de "materialização do
vazio e redimensão do espaço".
Horas depois de instalada, com o
calor de Recife, o que era forma e
conceito havia se tornado um craquelê que mais lembrava o solo
árido, mas fértil, do Nordeste.
O jornalista
Celso Fioravante viajou à convite
da direção do Mamam-Recife
Mostra: Pernambuco 2000-1 - Arte
Contemporânea (coletiva com os artistas
Alexandre Nóbrega, Flávio Emmanoel,
Ismael Portela, Eudes Motta, Marcelo
Silveira, Marcelo Coutinho, Oriana Duarte,
Paulo Meira, Carlos Mélo, Betânia Luna e
Giovana Pessoa)
Onde: Mamam-Recife (r. da Aurora, 265, tel.
081/423-3007, bairro Boa Vista)
Quando: até dia 7 de março
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