São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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Obra do cineasta reflete sobre gêneros

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O cinema de Guilherme de Almeida Prado é para quem gosta de cinema. A frase pode parecer óbvia, mas não é.
Muita gente vai ao cinema para chorar com dramas pungentes, aprender sobre costumes de povos exóticos ou simplesmente tomar uns sustos e dar algumas risadas.
Mas há quem vá ao cinema por amor ao próprio cinema, ou seja, ao mecanismo técnico-artesanal que produz a ilusão -desde a ilusão básica da imagem em movimento até a ilusão de, no espaço de duas horas, viver outra vida, em outro lugar.
Os filmes de Guilherme de Almeida Prado são versões de uma eterna e reiterada homenagem a esse prodígio.
A retrospectiva de sua obra é uma oportunidade de ver como, a partir de sua experiência como assistente de direção na chamada Boca do Lixo, ele foi construindo seu universo próprio, distante do realismo do cinema ilustrador de histórias.
Surgida na comédia erótica (ou pornochanchada), com a qual dialoga seu primeiro longa-metragem, "As Taras de Todos Nós", sua obra, a partir de "A Dama do Cine Shanghai", tornou-se um comentário irônico e afetivo sobre outros gêneros, como o policial "noir", o melodrama e o musical.
Esses gêneros tão "quentes" e populares, ao passar pela desconstrução operada pelo diretor, tornam-se inegavelmente frios, impondo ao espectador um olhar distanciado e crítico.
Quem se deixar levar por esse olhar descobrirá prazer e emoção em seus filmes. Ou pelo menos admirará seu domínio da linguagem cinematográfica.



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