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Orgasmo
LÚCIO RIBEIRO
da Ilustrada
Quando você esbarrar com "Orgasmo" nas locadoras e não tiver
idéia do que se trata, saiba que está
diante de um filme
de opostos perigosos.
É justificável dizer que o diretor
desmiolado Trey
Parker é um dos
sujeitos mais estúpidos que habita
este planeta, mas é argumento sustentável também falar que se está
lidando com um, perdoe-me,
Frank Capra pós-moderno.
Desprezado pela distribuição
brasileira, que com o filme na mão
ignorou os cinemas e jogou direto
para o vídeo, "Orgasmo" é, sim,
uma comédia bem tosca. Mas sua
representatividade não pode ser
desprezada.
O filme foi o passo anterior para
Parker e seu amigo Matt Stone
criarem o fenômeno mundial
"South Park", desenho animado
exibido pela MTV brasileira.
Anterior, portanto, ao embalo
cult do desenho, "Orgasmo", em
1997, fez estragos no festival de
Sundance, quando duas horas antes de sua exibição a fila para assistir ao filme já dobrava esquinas.
A história de "Orgasmo" é absurda, e dela vêm o viés tosco e o
Frank Capra distorcido.
O filme começa com dois sorridentes missionários mórmons, um
deles Elder Young (Parker), batendo de porta em porta em Los Angeles, oferecendo a paz e a felicidade
eternas. Até que chegam à mansão
de Maxx Orbison, famoso produtor pornô do pedaço.
Um imbróglio pastelanesco na
casa do produtor faz Young, um
desativado ator de teatro, mostrar
seus dotes de lutador de kick-boxing, o que proporciona ao mórmon o polêmico convite: estrelar
um novo filme pornô fazendo o
papel de Capitão Orgasmo, um super-herói que ao lado do fiel escudeiro Choda-Boy salva garotas
"atacadas" por perigosos vilões.
Frank Capra entra na questão do
"sonho americano" deturpado
deste fim-de-século: só a América
poderia proporcionar a Young,
um modesto rapaz qualquer de um
lugar qualquer, a faturar US$ 5.000
em dois dias de trabalho (as filmagens pornô) e assim realizar seu
sonho, o de casar com sua namorada no mais caro templo de Utah
(brincadeira interna).
E, com outras participações pornôs, levantar dinheiro para construir um templo para o casal, que
passaria a distribuir paz e felicidade eternas em estabelecimento
próprio.
Os problemas: a consciência religiosa de Young; a garota achando
que o namorado está faturando
um dinheirão sendo ator de Hollywood (não é mentira); o sucesso do
primeiro filme do Capitão Orgasmo, que gera sequências; e o inevitável estrelato.
Recapitulando, "Orgasmo" é tosco, mas nunca desprezível.
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