São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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Orgasmo

LÚCIO RIBEIRO
da Ilustrada

Quando você esbarrar com "Orgasmo" nas locadoras e não tiver idéia do que se trata, saiba que está diante de um filme de opostos perigosos.
É justificável dizer que o diretor desmiolado Trey Parker é um dos sujeitos mais estúpidos que habita este planeta, mas é argumento sustentável também falar que se está lidando com um, perdoe-me, Frank Capra pós-moderno.
Desprezado pela distribuição brasileira, que com o filme na mão ignorou os cinemas e jogou direto para o vídeo, "Orgasmo" é, sim, uma comédia bem tosca. Mas sua representatividade não pode ser desprezada.
O filme foi o passo anterior para Parker e seu amigo Matt Stone criarem o fenômeno mundial "South Park", desenho animado exibido pela MTV brasileira.
Anterior, portanto, ao embalo cult do desenho, "Orgasmo", em 1997, fez estragos no festival de Sundance, quando duas horas antes de sua exibição a fila para assistir ao filme já dobrava esquinas.
A história de "Orgasmo" é absurda, e dela vêm o viés tosco e o Frank Capra distorcido.
O filme começa com dois sorridentes missionários mórmons, um deles Elder Young (Parker), batendo de porta em porta em Los Angeles, oferecendo a paz e a felicidade eternas. Até que chegam à mansão de Maxx Orbison, famoso produtor pornô do pedaço.
Um imbróglio pastelanesco na casa do produtor faz Young, um desativado ator de teatro, mostrar seus dotes de lutador de kick-boxing, o que proporciona ao mórmon o polêmico convite: estrelar um novo filme pornô fazendo o papel de Capitão Orgasmo, um super-herói que ao lado do fiel escudeiro Choda-Boy salva garotas "atacadas" por perigosos vilões.
Frank Capra entra na questão do "sonho americano" deturpado deste fim-de-século: só a América poderia proporcionar a Young, um modesto rapaz qualquer de um lugar qualquer, a faturar US$ 5.000 em dois dias de trabalho (as filmagens pornô) e assim realizar seu sonho, o de casar com sua namorada no mais caro templo de Utah (brincadeira interna).
E, com outras participações pornôs, levantar dinheiro para construir um templo para o casal, que passaria a distribuir paz e felicidade eternas em estabelecimento próprio.
Os problemas: a consciência religiosa de Young; a garota achando que o namorado está faturando um dinheirão sendo ator de Hollywood (não é mentira); o sucesso do primeiro filme do Capitão Orgasmo, que gera sequências; e o inevitável estrelato.
Recapitulando, "Orgasmo" é tosco, mas nunca desprezível.



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