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REC BEAT
Ritmos locais marcaram evento
No fim, festival se
volta para tradição
do enviado a Recife
O Rec Beat 2000 acabou ontem
dividindo seu palco entre atrações
paulistas e pernambucanas, algo
que espelhou a maior parte do
festival. Anteontem, contudo, foi
a vez de tradição e ritmos locais.
Mesmo o DJ do dia, o brasiliense Kaphagérson, entendeu o espírito da coisa e selecionou muito
triângulo com sanfona, como
quando privilegiou o recente trabalho de Tom Zé para o Grupo
Corpo. Ganharia dinheiro adoidado em Londres.
Mas não dava mesmo para tocar Kraftwerk. Houve, por exemplo, uma sucessão de mestres de
maracatu no palco, com seus blocos e os vistosos caboclos de lança
evoluindo com suas cabeleiras
prateadas no meio do público.
Entre os integrantes do Estrela
Brilhante, primeiro a subir ao palco, músicos do Mestre Ambrósio.
Foi provavelmente a mais longa
apresentação do festival, que acabou atrasando a entrada de Naná
Vasconcelos, lá pela meia-noite.
O percussionista regeu um enorme seção percussiva -com três
mulheres enfezadas- e três pastoras urbanas de voz agudinha.
Após uma introdução percussiva
comum a vários temas, Naná soltava sua dupla eletrônica (teclado
e guitarra), que colou ao maracatu a trilha de "2001" (Richard
Strauss) e o "Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos. Nessa hora,
pediu ao público que cantasse a
melodia, no que foi atendido.
O que mais se aproximou do
"pop pernambucano" foi Ortinho, saudado pelo mestre-de-cerimônias como a principal atração da noite. O caruarense ex-vocalista do grupo Querosene Jacaré
exilou-se recentemente, daí talvez
a homenagem. Ele agora vive em
São Paulo (trabalha num restaurante da Vila Madalena e teme
por seu emprego, quando voltar
do Carnaval).
Pandeiros e guitarras se fundiram em temas ora líricos, ora iracundos. Ortinho dedicou uma
música a Caymmi, dizendo ser o
velho mestre "o que prestava na
Bahia". Mais tarde, no backstage,
incomodou-se com a lembrança.
Ortinho não nega sua filiação às
emboladas -comum também a
várias outras bandas no festival. Já
no começo, soou como um Chico
César em "Beradero" sem conhecimentos médios de canto.
A noite ainda teria a "rainha da
ciranda" Lia de Itamaracá. Cantora intuitiva e produto da tradição
oral, ela foi redescoberta para o
mundo pelo Abril Pró-Rock de 98
e já itinerou pelas unidades do
Sesc de São Paulo.
Naná Vasconcelos, que mantém um projeto beneficente em
Olinda, o "Flor do Mangue", reclamou das autoridades pernambucanas antes do show, em entrevista à Folha. O projeto, que retira
menores de 12 anos das ruas para
ensinar música, artesanato e outras atividades artísticas, não tem
qualquer subsídio oficial, apesar
das "promessas". Naná aproveitou para cobrar o esperado "casarão", a nova sede da entidade, segundo ele prometida pelo prefeito
de Olinda.
(PAULO VIEIRA)
O jornalista Paulo Vieira viajou a convite da
produção do festival
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