São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


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REC BEAT
Ritmos locais marcaram evento
No fim, festival se volta para tradição

do enviado a Recife

O Rec Beat 2000 acabou ontem dividindo seu palco entre atrações paulistas e pernambucanas, algo que espelhou a maior parte do festival. Anteontem, contudo, foi a vez de tradição e ritmos locais.
Mesmo o DJ do dia, o brasiliense Kaphagérson, entendeu o espírito da coisa e selecionou muito triângulo com sanfona, como quando privilegiou o recente trabalho de Tom Zé para o Grupo Corpo. Ganharia dinheiro adoidado em Londres.
Mas não dava mesmo para tocar Kraftwerk. Houve, por exemplo, uma sucessão de mestres de maracatu no palco, com seus blocos e os vistosos caboclos de lança evoluindo com suas cabeleiras prateadas no meio do público. Entre os integrantes do Estrela Brilhante, primeiro a subir ao palco, músicos do Mestre Ambrósio.
Foi provavelmente a mais longa apresentação do festival, que acabou atrasando a entrada de Naná Vasconcelos, lá pela meia-noite. O percussionista regeu um enorme seção percussiva -com três mulheres enfezadas- e três pastoras urbanas de voz agudinha. Após uma introdução percussiva comum a vários temas, Naná soltava sua dupla eletrônica (teclado e guitarra), que colou ao maracatu a trilha de "2001" (Richard Strauss) e o "Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos. Nessa hora, pediu ao público que cantasse a melodia, no que foi atendido.
O que mais se aproximou do "pop pernambucano" foi Ortinho, saudado pelo mestre-de-cerimônias como a principal atração da noite. O caruarense ex-vocalista do grupo Querosene Jacaré exilou-se recentemente, daí talvez a homenagem. Ele agora vive em São Paulo (trabalha num restaurante da Vila Madalena e teme por seu emprego, quando voltar do Carnaval).
Pandeiros e guitarras se fundiram em temas ora líricos, ora iracundos. Ortinho dedicou uma música a Caymmi, dizendo ser o velho mestre "o que prestava na Bahia". Mais tarde, no backstage, incomodou-se com a lembrança.
Ortinho não nega sua filiação às emboladas -comum também a várias outras bandas no festival. Já no começo, soou como um Chico César em "Beradero" sem conhecimentos médios de canto.
A noite ainda teria a "rainha da ciranda" Lia de Itamaracá. Cantora intuitiva e produto da tradição oral, ela foi redescoberta para o mundo pelo Abril Pró-Rock de 98 e já itinerou pelas unidades do Sesc de São Paulo.
Naná Vasconcelos, que mantém um projeto beneficente em Olinda, o "Flor do Mangue", reclamou das autoridades pernambucanas antes do show, em entrevista à Folha. O projeto, que retira menores de 12 anos das ruas para ensinar música, artesanato e outras atividades artísticas, não tem qualquer subsídio oficial, apesar das "promessas". Naná aproveitou para cobrar o esperado "casarão", a nova sede da entidade, segundo ele prometida pelo prefeito de Olinda. (PAULO VIEIRA)


O jornalista Paulo Vieira viajou a convite da produção do festival

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