São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

500 ANOS
Exposição prioriza valores históricos

da Reportagem Local

O curador português Joaquim Romero de Magalhães, falou à Folha, por telefone, de Lisboa, sobre o ciclo de mostras que Portugal organiza para as comemorações do Descobrimento.
Romero de Magalhães é professor de história econômica e social na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, visitou o Brasil diversas vezes e chegou a dar aulas na USP.

Folha - A mostra que abre hoje faz parte de um ciclo maior, intitulado "Brasil, Brasis". A que tipo de multiplicidade esse ciclo de mostras se refere?
Joaquim Romero de Magalhães -
Refere-se a uma concessão que é muito comum quando se trata do Brasil que é dizer que o país é uma unidade, mas onde é simultânea a pluralidade.
É um título que aparece em uma obra de Gilberto Freyre e que se tornou um lugar-comum desde que lemos o livro "Brasil - Terra de Contrastes", de Roger Bastide, que é um clássico fundamental sobre o Brasil, embora seja um livro já dos anos 50.
Nós entendemos que era necessário mostrar a realidade da natureza do Brasil e, para falar como no século 16, nos reinos mineral, animal e vegetal. Essa mostra atrasou-se por razões várias e abrirá em janeiro de 2001.
O segundo núcleo é esse que os presidentes Fernando Henrique e Jorge Sampaio vão inaugurar. Ele diz respeito à construção do Brasil, desde a chegada da primeira armada. Entendeu-se também que, para compreender o Brasil de hoje e o pensamento brasileiro, precisaria mostrar a visão do Brasil pelos modernistas brasileiros, a partir da Semana de Arte Moderna de 1922.

Folha - A mostra "A Construção do Brasil" está mais preocupada em mostrar a história brasileira ou a colonização portuguesa?
Romero de Magalhães -
Acredito que terá as duas coisas, pois são inseparáveis.
O Brasil resulta da colonização portuguesa, que, evidentemente, não foi feita apenas por portugueses. Queremos mostrar como os portugueses viram a terra quando dela tomaram conhecimento, como foi feita a exploração do açúcar, como foi a entrada para o interior, a criação de vilas e cidades, a influência do Brasil no império português e a formação da identidade do país.

Folha - O sr. acredita que a mostra despertará mais interesse pelos aspectos artísticos ou por aspectos históricos?
Romero de Magalhães -
Ambos estarão presentes, embora os artísticos nem sejam os mais interessantes. Penso que as grandes novidades serão em torno dos objetos. Mas algumas obras de arte são muito boas, como a Nossa Senhora das Dores, do Aleijadinho, que é bastante conhecida no Brasil, mas não em Portugal. Porém não é uma exposição de arte, mas de história.

Folha - Por que as missões artísticas foram fundamentalmente francesas e holandesas?
Romero de Magalhães -
Não. Só podemos considerar missões artísticas as francesas do tempo de d. João 6º. As holandesas resultam de uma personalidade extraordinária, que foi João Maurício de Nassau. Nem é uma política da Companhia das Índias, mas pessoal de Nassau. Teremos na mostra três quadros de Frans Post.

Folha - Mas não existiam artistas portugueses na época ou era Portugal que não tinha interesse no assunto?
Romero de Magalhães -
Existiram alguns artistas que trabalharam no Brasil, mas poucos. E eles não estão em estado de viajar. É o caso dos quadros de Leandro Joaquim, que se encontram no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e que não podem sair, pois estão muito fragilizados.
É preciso levar em conta também que ao mesmo tempo está sendo preparada a mostra louca de São Paulo dos 50 mil m2 (Mostra do Redescobrimento), que só nas cabeças fantásticas dos paulistas ela poderia ter lugar e que, naturalmente, requer muitas obras de arte. Não podemos competir com o dr. Edemar Cid Ferreira.

Folha - Qual o destaque da exposição portuguesa?
Romero de Magalhães -
A mostra aposta muito forte na cartografia, em extraordinários mapas, com apontamentos fantásticos.

Folha - A riqueza material do ciclo das minerações produziu o mais florescente período artístico no Brasil. Essa riqueza influenciou também a produção portuguesa?
Romero de Magalhães -
Sem dúvida. O barroco do século 18 é grande período do desenvolvimento artístico brasileiro e português também. Quando d. João 5º chama escultores para Mafra, ele está usando o ouro do Brasil.

Folha - Qual peça da mostra lhe agrada mais?
Romero de Magalhães -
Talvez seja um desenho de Pedro Teixeira, de 1637, do rio Amazonas, que não chega a ser um mapa, pois não tem rigor ou medições, mas é muito rico em detalhes.


Texto Anterior: Há 500 anos, Cabral fazia as malas
Próximo Texto: Quadrinhos: Nova fase do Homem-Aranha chega ao Brasil este mês
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.