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500 ANOS
Exposição prioriza valores históricos
da Reportagem Local
O curador português Joaquim
Romero de Magalhães, falou à Folha, por telefone, de Lisboa, sobre
o ciclo de mostras que Portugal
organiza para as comemorações
do Descobrimento.
Romero de Magalhães é professor de história econômica e social
na Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, visitou
o Brasil diversas vezes e chegou a
dar aulas na USP.
Folha - A mostra que abre hoje
faz parte de um ciclo maior, intitulado "Brasil, Brasis". A que tipo de multiplicidade esse ciclo
de mostras se refere?
Joaquim Romero de Magalhães - Refere-se a uma concessão
que é muito comum quando se
trata do Brasil que é dizer que o
país é uma unidade, mas onde é
simultânea a pluralidade.
É um título que aparece em uma
obra de Gilberto Freyre e que se
tornou um lugar-comum desde
que lemos o livro "Brasil - Terra
de Contrastes", de Roger Bastide,
que é um clássico fundamental
sobre o Brasil, embora seja um livro já dos anos 50.
Nós entendemos que era necessário mostrar a realidade da natureza do Brasil e, para falar como
no século 16, nos reinos mineral,
animal e vegetal. Essa mostra
atrasou-se por razões várias e
abrirá em janeiro de 2001.
O segundo núcleo é esse que os
presidentes Fernando Henrique e
Jorge Sampaio vão inaugurar. Ele
diz respeito à construção do Brasil, desde a chegada da primeira
armada. Entendeu-se também
que, para compreender o Brasil
de hoje e o pensamento brasileiro,
precisaria mostrar a visão do Brasil pelos modernistas brasileiros,
a partir da Semana de Arte Moderna de 1922.
Folha - A mostra "A Construção do Brasil" está mais preocupada em mostrar a história brasileira ou a colonização portuguesa?
Romero de Magalhães - Acredito que terá as duas coisas, pois
são inseparáveis.
O Brasil resulta da colonização
portuguesa, que, evidentemente,
não foi feita apenas por portugueses. Queremos mostrar como os
portugueses viram a terra quando
dela tomaram conhecimento, como foi feita a exploração do açúcar, como foi a entrada para o interior, a criação de vilas e cidades,
a influência do Brasil no império
português e a formação da identidade do país.
Folha - O sr. acredita que a
mostra despertará mais interesse pelos aspectos artísticos ou
por aspectos históricos?
Romero de Magalhães - Ambos estarão presentes, embora os
artísticos nem sejam os mais interessantes. Penso que as grandes
novidades serão em torno dos objetos. Mas algumas obras de arte
são muito boas, como a Nossa Senhora das Dores, do Aleijadinho,
que é bastante conhecida no Brasil, mas não em Portugal. Porém
não é uma exposição de arte, mas
de história.
Folha - Por que as missões artísticas foram fundamentalmente francesas e holandesas?
Romero de Magalhães - Não.
Só podemos considerar missões
artísticas as francesas do tempo
de d. João 6º. As holandesas resultam de uma personalidade extraordinária, que foi João Maurício de Nassau. Nem é uma política
da Companhia das Índias, mas
pessoal de Nassau. Teremos na
mostra três quadros de Frans
Post.
Folha - Mas não existiam artistas portugueses na época ou era
Portugal que não tinha interesse no assunto?
Romero de Magalhães - Existiram alguns artistas que trabalharam no Brasil, mas poucos. E eles
não estão em estado de viajar. É o
caso dos quadros de Leandro Joaquim, que se encontram no Museu Histórico Nacional do Rio de
Janeiro e que não podem sair,
pois estão muito fragilizados.
É preciso levar em conta também que ao mesmo tempo está
sendo preparada a mostra louca
de São Paulo dos 50 mil m2 (Mostra do Redescobrimento), que só
nas cabeças fantásticas dos paulistas ela poderia ter lugar e que,
naturalmente, requer muitas
obras de arte. Não podemos competir com o dr. Edemar Cid Ferreira.
Folha - Qual o destaque da exposição portuguesa?
Romero de Magalhães - A
mostra aposta muito forte na cartografia, em extraordinários mapas, com apontamentos fantásticos.
Folha - A riqueza material do
ciclo das minerações produziu o
mais florescente período artístico no Brasil. Essa riqueza influenciou também a produção
portuguesa?
Romero de Magalhães - Sem
dúvida. O barroco do século 18 é
grande período do desenvolvimento artístico brasileiro e português também. Quando d. João 5º
chama escultores para Mafra, ele
está usando o ouro do Brasil.
Folha - Qual peça da mostra
lhe agrada mais?
Romero de Magalhães - Talvez
seja um desenho de Pedro Teixeira, de 1637, do rio Amazonas, que
não chega a ser um mapa, pois
não tem rigor ou medições, mas é
muito rico em detalhes.
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