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CINEMA/ESTRÉIA
"FALCÃO NEGRO EM PERIGO"
Longa reconta conflito do Exército norte-americano com tropas na Somália, em 1993
Ridley Scott volta aos campos de batalha
PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
O cineasta Ridley Scott lembra:
"Enquanto terminava de editar
meu novo filme, não havia ainda
o "fator 11 de setembro". Quem poderia imaginar que algo terrível e
desastroso pudesse acontecer?".
Mas a psique do país ferido com
os atentados terroristas ajudaram
a transformar o sentido do drama
de guerra "Falcão Negro em Perigo" e fazê-lo um sucesso de bilheteria. Na semana em que o filme
chega ao Brasil, seu faturamento
nos Estados Unidos já ultrapassa
os US$ 125 milhões.
Com Josh Hartnett liderando
um elenco de promessas de
Hollywood, Scott reconta a intervenção do Exército norte-americano na Somália, em 1993.
Estacionados num país devastado pela fome, um grupo de elite
dava proteção ao trabalho humanitário das Nações Unidas. Ao
tentar capturar dois braços fortes
de Mohamed Farah Aidid, um
dos lordes da guerra civil somali,
o que seria uma operação de apenas 60 minutos durou um drama
sangrento de 15 horas. Um pelotão de soldados foi cercado por
milhares de militantes armados,
resultando em 18 americanos
mortos, mais de 500 somalis abatidos e uma retirada vexatória das
forças americanas, pedida pelo
presidente Bill Clinton.
Scott recria esse episódio com
um aparato técnico que impressionou os membros da Academia,
que lhe indicaram para o Oscar de
melhor diretor. Sobre a logística
de uma produção desse tipo, o cineasta diz: "São 35 anos de experiência. Sei exatamente como
criar cenas de batalhas como essas". Leia a seguir trechos de sua
entrevista à Folha.
Folha - "Falcão Negro em Perigo"
gerou controvérsia pelo seu ponto
de vista singular. O senhor acha
que fez trabalho controverso?
Ridley Scott - "Falcão Negro" é
um filme muito simples e direto.
A mensagem e o ponto de vista do
filme são fatos subentendidos, jamais ressaltados com pompa.
Não existem respostas no final do
filme, apenas perguntas. Não estou propondo nada, mas, se você
vir o filme atentamente, irá notar
um pouco de minha opinião.
Não havia nada na Somália para
os americanos. Eles não precisavam ter um grande Exército estacionado por lá, uma vez que existem suficientes cercanias amigas.
O motivo de eles estarem lá foi a
ajuda humanitária. A atriz Audrey Hepburn, que pertenceu à
Unicef, ficou chocada com as fotografias das crianças. Ela caiu na
choradeira e foi uma das primeiras celebridades a se tornar delegada da causa. Foi quando toda a
coisa começou.
Folha - O senhor já estava mixando o filme quando aconteceram os
ataques terroristas de 11 de setembro. Como reagiu?
Scott - Todo mundo ficou aturdido. Os EUA tiveram sua fundação chocada; a escolha da destruição do centro financeiro foi uma
idéia engenhosa. Se alguém faz
barulho no seu quintal à noite, você chama a polícia; se existe um
forte cheiro vindo da cozinha, você chama o bombeiro. Mas os
americanos, mesmo vendo o que
estava acontecendo no mundo,
procuraram não se envolver. O 11
de setembro apenas provou o
quanto tudo é pequeno.
Folha - Sendo cidadão inglês, como o senhor vê o sentimento antiamericano que tomou conta da Europa, depois da invasão do Afeganistão?
Scott - Mas o que você vai fazer?
Deixar o Bin Laden à solta? Pegue
um livro chamado "Inferno", feito por um grande fotógrafo de
guerra que cobriu Bósnia, Somália e partes da Índia. Depois pergunte a si mesmo se devemos fazer algo sobre isso. Acho que devemos, sim. Devemos interferir
em qualquer situação que envolva
alguém que necessite de ajuda. E
são os EUA, como a nação de
maior sucesso do mundo, que
precisam liderar. Ninguém quer
entrar em guerra. O 11 de setembro mostrou que, se você ignora
um sinal nas suas costas, ele pode
se transformar num melanoma.
Folha - O que o senhor acha do
patriotismo que se seguiu nos EUA
desde de 11 de setembro?
Scott - Ao redor do mundo, existe uma tendência a olhar para o
patriotismo americano com muito cinismo. Aprendi que não é isso. Eles [os americanos" são sérios
sobre o patriotismo.
Folha - O senhor já tinha conhecimento sobre esse incidente na Somália?
Scott - Sim, sou um rato da notícia. Vejo três noticiários pela manhã, leio vários jornais. Notícias,
tênis e mercado de ações me interessam. Não entendi o porquê de
o incidente deixar de ser notícia
tão rapidamente. Os EUA ficaram
envergonhados pela retirada das
tropas. Eles perderam 18 soldados, mas mataram mil talebans.
Folha - Qual foi o último bom filme que viu?
Scott - Foi "Entre Quatro Paredes". Fiquei surpreso com o efeito
do filme. Gosto de mulheres fortes como a interpretada por Sissy
Spacek. Fui casado com duas. Por
isso que me divorciei. Fui chutado
para fora [risos". Sempre empreguei mulheres fortes em meus filmes. Escalei uma mulher para
"Alien - O Oitavo Passageiro",
num papel que seria para um homem. Fez mais sentido para mim,
principalmente depois de ter conhecido Sigourney (Weaver), que
era imponente e intimidante.
FALCÃO NEGRO EM PERIGO - Black
Hawk Down.
Direção: Ridley Scott.
Produção: EUA, 2001.
Com: Josh
Hartnett, Ewan McGregor.
Quando: a
partir de hoje nos cines Anália Franco,
Butantã, Eldorado, Ibirapuera e circuito.
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