|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS/LANÇAMENTOS
Autor do best-seller "Labirinto", André de Figueiredo levou 25 anos para terminar seu "Arabesco"
Escritor reconstrói a família burguesa
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
Esquecido sob ordens do regime militar, o escritor André de Figueiredo, 71, volta ao assunto que,
há 25 anos, fez com que vendesse
mais livros que o best-seller João
Ubaldo Ribeiro: a família.
Espécie de contraponto às análises comportadas da formação da
família brasileira, sua ficção no recém-lançado "Arabesco" permite-se uma mestiçagem original
particular. Às raízes nordestinas,
misturam-se o carioca urbano
dos tempos da ditadura e a fleuma
inglesa, confundindo os personagens com a história do autor.
"O escritor é um arqueólogo de
si mesmo. Esses romances construídos de fora para dentro não
funcionam", diz o paraibano Figueiredo, de sua casa no Rio, glosando o francês Marcel Proust.
Para coser as várias partes que
inflam esse seu arabesco, foram
necessários 25 anos. Tempo que
remete ao livro "Labirinto", escrito em 1971 e que carrega muitas
histórias, além da que conta.
"Comecei a escrever "Arabesco"
durante o sucesso de "Labirinto",
um livro com ênfase mais rural",
diz o autor, lembrando a época
em que seu nome ocupava o primeiro lugar na lista dos mais vendidos no Rio, passando à frente de
João Ubaldo Ribeiro (com "Sargento Getúlio") e Antônio Callado (com "Quarup"), e foi comparado a "Cem Anos de Solidão", de
Gabriel García Márquez. "Foi um
equívoco. Acontece que o livro do
Márquez estava na moda e as pessoas acabaram comparando. "Labirinto" é um romance tropicalista, o primeiro", explica.
Estréia vencedora do prêmio
mais importante da época, o Walmap -que premiou, entre outros, Carlos Drummond-, "Labirinto" foi escolhido por um júri
composto por Rachel de Queiroz,
Antonio Olinto e Maria Alice Barroso. "A Rachel foi a única que
não votou em mim. Achou o livro
uma imoralidade", lembra. "Mas
não fui eu que inventei o incesto,
já está na Bíblia."
Imoral ou não, suas linhas pouco comportadas o fizeram conhecido e trancaram as portas do
Brasil quando quis retornar de
seu mestrado inglês em biblioteconomia. Fora das prateleiras,
voltou a seu cargo no extinto Banco Nacional da Habitação e para
sempre sentiu-se vigiado.
Essas diferentes vivências sociais que Figueiredo tira para as
páginas não menos "imorais" de
"Arabesco" reagem à temperatura do Rio resultando num retrato
da burguesia nacional como que
em negativo da realidade do subúrbio carioca registrada por Nelson Rodrigues.
Acompanhando o mestre, em
"Arabesco" os integrantes da família Itaguayr vão desvelando-se
repletos de idiossincrasias. O romance remete às origens rígidas,
aos moldes nordestinos, de Izabel
Itaguayr. A partir daí a genealogia
segue por vias obscuras, com o casamento de dois irmãos gêmeos
que, pelo incesto, fazem com que
Izabel amaldiçoe os por vir. Gustavo, da geração seguinte, sofre
com desmaios frequentes, enquanto trabalha para ser rico no
Rio. Casado com uma nobre inglesa, é por e através de suas filhas
que a crônica dessa família brasileira vai sendo contada.
O cruzamento com os costumes
ingleses impregna o núcleo urbano dos Itaguayr, a começar pelo
nome das meninas, tomados a autoras britânicas.
Mas essa "história de amor, de
desencanto ou de iniciação sexual", como tenta (des)classificar
o autor, não é linear. Os traços que
montam o arabesco se misturam
e surgem de diferentes vozes, ora
de um conto literário intercalado,
ora da narrativa de um fato passado. Mesmo o projeto gráfico do
volume confunde ao trazer uma
segunda capa, do livro em produção da escritora-filha Jane (de Jane Austen), "A Dama do Táxi".
Romance de personagens, a arte
de Figueiredo brilha nas linhas
"monarquistas sebastianistas"
que relatam a visita de um oficial
do Exército aos Itaguayr. Agora é
esperar o segundo volume de
"Arabesco", em confecção, no
qual o autor pretende ressuscitar
dom Pedro 2º. "Assim vou colocar os militares no lugar deles."
ARABESCO. De: André de Figueiredo.
Editora: Bom Texto (0/xx/21/2494-6658). Quanto: R$ 30 (226 págs.).
Texto Anterior: Rodapé: Fugindo da própria sombra Próximo Texto: Frases Índice
|