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ARTES
Exposições de Manet, Velázquez, Matisse e Picasso são marcadas por dificuldades em levar obras aos EUA depois dos atentados
Mostras investigam influências aos pares
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Um é pouco. Dois é bom? Duas
exposições em cartaz em Nova
York tentam demonstrar que sim
-também duplamente.
"Manet/Velázquez: O Gosto
Francês pela Pintura Espanhola",
no Metropolitan Museum, e "Matisse/Picasso", no MoMa (Museu
de Arte Moderna) em Queens,
têm forte apelo e foram marcadas
pelas atuais dificuldades em trazer obras valiosas para os EUA
depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
A crítica em torno das mostras,
no entanto, não tem recompensado até aqui o esforço dos dois
principais museus de Nova York.
O objetivo das duas exposições é
revelar aspectos comuns e a influência entre os quatro pintores,
os franceses Manet e Matisse e os
espanhóis Velázquez e Picasso.
Embora não tenha havido contato em vida entre Édouard Manet (1832-1883) e Diego Velázquez (1599-1660), o francês de fato
colheu inspiração em obras do espanhol.
O acaso, como sempre -desta
vez uma reação negativa a apresentação de seu quadro "Olympia", no Salão de Paris-, teria levado Manet em 1865 a "refugiar-se" por um período na Espanha,
onde visitou cidades como Madri
e Toledo.
A viagem ao país vizinho foi planejada rapidamente e deveria durar mais de um mês. Manet voltou
em duas semanas. "As cidades
são admiráveis, mas que comida
horrível tem esse país", escreveu
pouco antes de cruzar a fronteira
de volta para a França.
A despeito do título, a exposição
no Metropolitan, aberta esta semana e que vai até 8 de junho,
apresenta 150 telas de vários outros pintores da chamada "era
dourada" espanhola (como Goya
e El Greco) e obras-primas de artistas franceses do século 19 influenciados por elas, como Delacroix, Degas e o próprio Manet.
Em meio a tantos nomes e variações, o resultado do conjunto é
que praticamente não há conjunto -apenas trabalhos admiráveis
difíceis de comparar.
Já a simbiose entre Henri Matisse (1869-1954) e Pablo Picasso
(1882-1973) em cartaz no MoMa
até 19 de maio foi pessoal, durou
quase 50 anos e esteve marcada
por ciúmes e arroubos de inveja.
O efeito da exposição é o contrário ao que se pode ver em "Manet/Velázquez".
Organizada por um time de seis
historiadores da arte, a mostra
contém 130 telas, desenhos e esculturas. A disposição dos trabalhos, que tende a ser comparativa,
é bastante reveladora em alguns
casos, mas força a mão em muitos
outros.
O expediente funciona bastante
bem, por exemplo, na comparação entre "Os Acrobatas" (1952),
de Matisse , e "O Acrobata"
(1930), de Picasso. As semelhanças são gritantes.
A maior parte das outras comparações deixa a desejar. É forçoso que o visitante use a própria
imaginação. Mas a influência é
conhecida. Foi Matisse, por
exemplo, quem introduziu Picasso às formas africanas que dominaram parte da produção do catalão a partir de 1907.
A dificuldade na montagem das
duas mostras é um capítulo à parte. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, que atingiram em
cheio Manhattan, explodiram
também os valores de seguros exigidos por museus e colecionadores particulares dentro e fora dos
EUA para empréstimo de obras a
salas em Nova York e Washington.
O governo americano tem um
programa público de seguros que
oferece proteção até o limite de
US$ 5 bilhões ao ano a obras expostas em museus no país. Depois
do 11 de setembro, a demanda
cresceu tanto que a verba para
2003 já secou com as exposições
programadas apenas para o primeiro semestre deste ano.
O catálogo da exposição "Matisse/Picasso", por exemplo, teve de
ser refeito depois que o proprietário da tela, um americano dono de
cassinos, recusou-se, na última
hora, a emprestar o quadro
-mesmo estando garantido por
uma apólice. "O Sonho" (1932),
que retrata a amante de Picasso
Marie-Thérèse, repousa neste
momento em alguma parede de
Las Vegas.
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