São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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EXPOSIÇÃO

Mostra pretende recuperar memória da cantora antes da ida a Hollywood

Carmen "brasileira" chega a SP

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos símbolos máximos da brasilidade, a mais famosa cantora do país no século passado foi reduzida durante décadas ao estereótipo que a consagrou no exterior. Por razões diversas, a sólida carreira musical de Carmen Miranda no Brasil -que acumulou todo o tipo de feito em números de gravações, cachês e popularidade- foi ofuscada pela "bombshell" hollywoodiana.
A exposição "Carmen Miranda para Sempre", em cartaz no Memorial da América Latina a partir de hoje, pretende reparar parte desse hiato. "O propósito da exposição é resgatar a idéia dela no Brasil, antes de Hollywood", afirma o curador Fabiano Canosa.
Apaixonado por Carmen desde criancinha, Canosa possui vasto acervo, especialmente do lado cinematográfico, que inclui cartazes, fotos e roteiros. "Ela era a mulher mais popular do Brasil. Jamais houve outra como ela."
A mostra foi idealizada para lembrar os 50 anos da morte de Carmen (1909-1955) e, durante os 50 dias em que esteve no MAM do Rio, atraiu 30 mil visitantes. O museu dedicado a ela no parque do Flamengo, também no Rio, recebe de 4.000 a 6.000 pessoas por ano -80% estrangeiros, 60% deles americanos.
"Carmen ficou 14 anos sem vir ao Brasil, no momento em que estava acontecendo a Segunda Guerra Mundial. Não tocavam mais as músicas dela no rádio, não havia mais discos, mas as pessoas da velha-guarda nunca se esqueceram dela", diz Canosa.
A cantora gravou oficialmente 281 músicas no Brasil, entre 1929 e 1940, e atuou em seis filmes nacionais. Nos EUA, foram 14 longas-metragens e 32 gravações. Lançados em DVD há apenas três, feitos fora da Fox, o estúdio onde ela trabalhou durante mais tempo.
Na mostra no Memorial, um vídeo reúne dez trechos musicais dos filmes feitos na Fox. Será exibido ainda o documentário "Banana Is My Business", de Helena Solberg (veja texto ao lado).
"Houve um tempo em que não se podia falar de Carmen Miranda [no Brasil], era politicamente incorreto. Uma facção dizia que Carmen teria se vendido aos americanos", conta Marilia Pêra. "Até que o Caetano veio do exílio fazendo a Carmen Miranda."
Marilia interpretou Carmen pela primeira vez em 1965, para substituir uma colega da companhia de dança da qual fazia parte, durante temporada no México. Em 1972, estreou uma peça que contava a vida da "pequena notável" e agora está em cartaz no Rio com o espetáculo "Marilia Pêra Canta Carmen Miranda", no qual interpreta 45 músicas. Não há previsão de apresentações em SP.

Guarda-roupa
A vida da cantora é apresentada na mostra por meio de uma cronologia ilustrada com fotos, e texto de Ruy Castro, autor da biografia "Carmen", lançada em 2005.
O seu estilo, que segundo a revista "Variety" era o mais copiado nos EUA em 1951, é representado por figurinos de seus filmes, balangandãs, malas e sapatos, emprestados do museu Carmen Miranda. "Ela era muito glamourosa, se vestia, comprava os tecidos. Era imitada antes mesmo da baiana", conta Cesar Balbi, diretor do museu que preserva seu acervo.
A mostra traz também fotos feitas por Annemarie Heinrich, alemã radicada em Buenos Aires, e contempla a carreira de Aurora, que eternizou "Cidade Maravilhosa" e morreu em dezembro passado aos 90 anos.


Carmen Miranda para Sempre
Quando:
de ter. a dom., das 9h às 18h; até 16 de abril
Onde: galeria Marta Traba (Memorial da América Latina - av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra
Funda, tel. 0/xx/11/3823-4600)
Quanto: entrada franca


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