São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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DVDs/Crítica/"Butch Cassidy"

Charmosos bandidos voltam em edição especial

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Não haveria "Butch Cassidy" se o ano não fosse 1969, se não houvesse guerra no Vietnã, se o cinema não estivesse mudando, se os estudantes não estivessem em pé de guerra.
Ou poderia até haver, mas seria diferente. Para que o filme dirigido por George Roy Hill resultasse no que resultou, o momento era fundamental. Havia, por um lado, o Oeste, a representação mais tradicional da América. Ora, a celebração de bandidos como Butch Cassidy e Sundance Kid só podia se dar nessa situação, em um mundo onde a iconoclastia era bem recebida, de maneira que era possível que os heróis fossem dois notórios anti-heróis.
Butch e Sundance, tal como concebidos originalmente por William Goldman, o roteirista, eram também bandidos simpáticos, cheios de imaginação e humor. Eram com toda certeza mais charmosos do que os originais, já que Paul Newman e Robert Redford (este então ainda uma estrela ascendente) eram os intérpretes.
Completava o grupo central Katharine Ross, como Etta Place, a garota que namora os dois caubóis ao mesmo tempo: personagem a calhar para aquele momento de liberdade sexual recém-conquistada.
O quadro se completa pelo fato de "Butch Cassidy" ser um faroeste crepuscular, que enfoca o momento, final do século 19, em que o Oeste chegava ao fim, tocado pela civilização, em que aquela parte do mundo que até então representara o espírito de liberdade para os caubóis agora devia ser ordenado. Anti-heróis, Butch e Sundance sofrem implacável perseguição da lei. Fogem para a Bolívia.

Edição comemorativa
É verdade que a mística cresceu com o tempo até chegar a esta bela edição comemorativa de 40 anos, com um disco só de extras em que é dado como um fenômeno. Mas é verdade que concorreu ao Oscar (ganhou roteiro, perdeu direção e filme) e que os demais indicados não eram filmes bobos. Que mesclava humor e aventura de forma desenvolta. Que sabia criar a parte de espetáculo sem perder o sentido da modernidade. Convém observar os momentos em que "Butch Cassidy" entrega-se a digressões (o passeio quase godardiano de Etta e Butch).
É o caso de lembrar outro aspecto ligado ao tempo: "Butch Cassidy" teve à frente Richard Zanuck, filho de Darryl Zanuck e importante produtor de um momento em que as grandes corporações e seus financistas ainda não haviam tomado a frente dos negócios em Hollywood. Foi um momento particularmente fértil do cinema americano e do cinema em geral. Por fim: não se pode esquecer da música de Burt Bacharach para este filme. É preciosa.


BUTCH CASSIDY
Direção:
George Roy Hill
Lançamento: Fox (R$ 24,90, em média; DVD duplo)
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: ótimo



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