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QUADRINHOS
Competição com mangá e queda nas vendas de gibis fazem editoras reciclarem personagens
Super-heróis trocam fantasia para enfrentar crise nas HQs
Divulgação
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Superpato, criação da Disney italiana, que estréia neste mês no Brasil na revista "Donald Super"; O herói Mickey X, que desvenda casos misteriosos na linha do seriado "Arquivo X"; Homer Simpson, que estreou no país em março vendendo 45 mil exemplares |
Superpato, Homer Simpson e Mickey X tentam tomar o trono das velhas HQs no Brasil
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Os novos heróis da HQ
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A invasão de heróis mascarados
nas telas dos cinemas comprova
não só que os personagens da
Marvel Comics rendem, sim, boas
histórias, mas também que as
vendas das revistas em quadrinhos propriamente ditas andam
de mal a pior no maior mercado
de super-heróis do mundo.
"O mercado é declinante em todo lugar. Nos EUA, que são um
paradigma de consumo, um título qualquer da Marvel, descontados "Homem-Aranha" e "X-Men" vende em torno de 20 mil exemplares", comenta Sérgio Figueiredo, redator-chefe da Abril Jovem, que publicou durante 22 anos as
revistas da Marvel e da DC no Brasil até trasferir os direitos para
a editora italiana Panini, em 2002.
"O fã de quadrinhos não entende isso, mas tudo na vida passa.
Nos anos 40, quando a criança não tinha outras fontes de entretenimento e os custos de produção de uma revista de HQ eram
insignificantes, o "Super-Homem" vendia 1 milhão. Hoje, a fonte de
renda é o licenciamento", diz.
Atualmente investindo em uma nova série de heróis, a editora chegou a publicar,
em meados dos anos 80, de 2.000 a 2.500 páginas de histórias de super-heróis a cada mês. "Aquela foi nossa "Era de Ouro". Tudo o
que colocávamos nas bancas vendia", lembra Figueiredo, que, no
momento em que passou os direitos de publicação de "Homem-Aranha" à Panini já via as suas vendas despencarem de 100 mil exemplares para 30 mil, em menos de uma década.
Rival japonês
Enumerando três de "500 motivos" para o fracasso editorial, Figueiredo destaca a concorrência com os heróis japoneses, o encarecimento dos custos de produção e as próprias editoras americanas, que teriam tornado suas
histórias mais "herméticas, menos inteligíveis para o público em
geral". "Há uma competição acirrada no mundo do entretenimento infantil, e os mangás, por causa do sucesso de seus desenhos, viraram um fenômeno. Você nunca
vai ver surgir um leitor de quadrinhos de heróis aos 14 anos."
Segundo ele, por mais que os fãs
reclamem, o problema não é exclusivo do Brasil: as vendas do
segmento de revistas de HQs estão em crise. "As editoras são acima de tudo uma fábrica de idéias.
O filme do Batman rendeu muito mais à DC do que dez anos de revistas no mundo todo. Nos Estados Unidos, as revistas da Disney
não são publicadas há tempos."
E por que não, então, investir na
criação de nossa própria "casa das idéias"? "A Abril cometeu um erro estratégico. Nos anos 70, quando havia muito dinheiro e as revistas da Turma da Mônica eram um sucesso, nós perdemos a
oportunidade de criar grandes estúdios de desenhos animados",
analisa o redator-chefe da Abril
Jovem, que, em 1986, perdeu o contrato com Maurício de Sousa
para a Editora Globo. "Se tivéssemos investido em nossas próprias
criações, poderia ter sido diferente. Ou você acha que surgem
quantos maurícios e quantos disneys no mundo a cada 50 anos?"
Fundada nos anos 50, a Abril é a
editora que há mais tempo trabalha com quadrinhos no Brasil. De
fato, sua primeira publicação no
país foi a revista número 1 do Pato
Donald, que continua em circulação quinzenal na 2.265ª edição.
"Mickey", "Zé Carioca" e "Tio Patinhas" também sobrevivem.
Há pouco mais de um ano no mercado nacional, a Panini conseguiu não só evitar o colapso do segmento de heróis mas também diminuir a distância entre os lançamentos internacionais e locais.
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